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Guerra tarifária: China se fortalece, EUA se isolam e Europa perde espaço na nova ordem mundial

Escrito por Ana Alice
Publicado em 18/04/2025 às 16:28
A disputa comercial entre China e EUA acelera mudanças na geopolítica, enfraquece a Europa e redesenha as forças que moldam o cenário global. (Imagem: Reprodução/Canva)
A disputa comercial entre China e EUA acelera mudanças na geopolítica, enfraquece a Europa e redesenha as forças que moldam o cenário global. (Imagem: Reprodução/Canva)

Em meio a tensões comerciais crescentes, potências globais redefinem estratégias, constroem novas alianças e expõem fragilidades históricas, enquanto o mundo observa silenciosamente o surgimento de uma nova ordem internacional que promete transformar o equilíbrio geopolítico nas próximas décadas.

A intensificação da guerra de tarifas entre China e Estados Unidos está redesenhando os contornos da geopolítica global.

Enquanto Washington adota uma postura cada vez mais isolacionista, Pequim amplia sua influência com discursos pró-globalização e novas parcerias comerciais.

A União Europeia, por sua vez, perde protagonismo e busca alternativas para não ficar à margem das decisões internacionais.

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Especialistas alertam que a disputa não se resume a questões econômicas, mas representa uma profunda transformação nas relações de poder entre as principais potências mundiais.

China aposta na integração e em alianças estratégicas

A China tem intensificado esforços para se posicionar como uma potência aberta ao multilateralismo, enquanto os Estados Unidos se fecham em medidas protecionistas.

O presidente chinês, Xi Jinping, reforçou na última semana a importância de preservar a globalização econômica e de se opor ao unilateralismo, uma crítica direta à política americana.

Em um pronunciamento feito na sexta-feira (11), Xi destacou que o mundo deve “resistir conjuntamente à intimidação e manter a tendência de globalização econômica”.

A fala foi interpretada como um convite a outros países para que se juntem à China na resistência contra as barreiras comerciais impostas pelo governo dos EUA.

O líder chinês também vem ampliando laços com regiões estratégicas, como a América Latina, a África e a própria Europa.

Pequim demonstra um esforço coordenado para “conectar mercados” e construir pontes em um cenário cada vez mais fragmentado.

A guerra tarifária, nesse contexto, oferece à China a oportunidade de ocupar espaços deixados pelos Estados Unidos, especialmente em nações emergentes e blocos que valorizam o comércio internacional.

Estados Unidos adotam postura isolacionista e protecionista

Desde o início de seu segundo mandato, em dezembro, o presidente norte-americano Donald Trump tem intensificado a política do “America First”, apostando em medidas que afastam tanto mercados quanto cidadãos estrangeiros.

Decretos de restrição migratória, tarifas elevadas e o esvaziamento de organismos multilaterais são parte da estratégia de Trump para reposicionar os EUA no topo da hierarquia global — mesmo que isso custe parcerias históricas.

O chamado “tarifaço” imposto à China foi a mais recente demonstração dessa postura unilateral.
Especialistas avaliam que Trump busca remodelar a geopolítica global sem recorrer a guerras militares ou negociações diplomáticas tradicionais.

Roberto Uebel, professor de Relações Internacionais da ESPM e especialista em geopolítica, afirma que “essa é uma forma de Trump impor suas regras no tabuleiro mundial”.

Ele acredita que o governo americano está promovendo uma mudança nas estruturas do regime internacional com foco em poder direto e intimidação.

Em fevereiro, uma matéria da revista britânica The Economist classificou a política externa de Trump como “mafiosa”.

Segundo a publicação, o presidente norte-americano estaria quebrando os moldes da ordem internacional construída após a Segunda Guerra Mundial, impondo sua visão de mundo com práticas comparáveis às de Don Corleone, personagem do clássico “O Poderoso Chefão”.

A revista alertou que o planeta caminha rapidamente para um cenário em que “quem tem poder faz o que quer”, substituindo o multilateralismo por acordos bilaterais opacos e ameaças diretas.

União Europeia enfraquecida busca aproximação com a China

Diante do avanço da guerra comercial e da instabilidade no relacionamento com os Estados Unidos, a União Europeia tem sinalizado uma aproximação com a China.

A reunião entre Xi Jinping e o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, na última sexta-feira, é um sinal claro dessa reconfiguração.

Xi sugeriu que a UE se una à China na resistência ao protecionismo americano.
De acordo com Roberto Uebel, os europeus devem se alinhar a Pequim não por afinidade ideológica, mas por exclusão.

“Pela primeira vez em décadas, a União Europeia não dita mais as regras do jogo na geopolítica mundial”, afirmou Uebel.

A guerra na Ucrânia e a dependência energética do bloco europeu têm fragilizado ainda mais sua posição no cenário global.

A Europa, que antes exercia uma liderança discreta nos bastidores diplomáticos, agora luta para manter alguma influência frente às potências dominantes.

Sua proximidade com os EUA se deteriorou com o estilo agressivo de Trump, e a necessidade de se reinventar tornou-se urgente.

América Latina entra no radar chinês

Além da Europa, a China também vem aumentando sua presença na América Latina, tradicionalmente considerada zona de influência dos Estados Unidos.

Na mesma sexta-feira, o ministro do Comércio chinês conversou por telefone com o vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin.

O diálogo teve como foco o fortalecimento de organismos multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), e o incentivo a acordos que favoreçam o comércio justo e global.

Essa movimentação demonstra o interesse de Pequim em expandir sua influência em países estratégicos do sul global, promovendo a imagem de uma liderança econômica benevolente e cooperativa.

A aproximação com o Brasil é um reflexo da estratégia chinesa de consolidar parcerias fora do eixo tradicional, especialmente em regiões com vasto potencial econômico e político.

Rumo a um mundo tripolar?

Com a intensificação das tensões e o reposicionamento das potências, especialistas já falam em uma transição rumo a uma nova ordem internacional tripolar.

Nesse cenário, o mundo aria a ser dominado por três grandes zonas de influência: Estados Unidos, China e Rússia.

Roberto Uebel destaca que a fragmentação da atual multipolaridade deve ceder espaço para blocos de poder mais bem definidos, com maior competição por recursos, influência e alinhamentos ideológicos.

“Essa deve ser uma mudança no regime internacional mais a longo prazo, mas que já está se desenhando”, afirmou.

A guerra tarifária é apenas uma das manifestações desse novo equilíbrio global.
Mais do que disputas comerciais, o mundo presencia uma verdadeira batalha por hegemonia, valores e controle das narrativas internacionais.

O que esperar do futuro?

A atual guerra de tarifas evidencia um movimento mais profundo de transição geopolítica.
Enquanto os Estados Unidos se fecham, a China se posiciona como alternativa viável e pragmática, buscando conquistar a confiança de nações que se sentem excluídas pelo sistema atual.

A União Europeia tenta se equilibrar, sem sucesso, entre os dois gigantes, enquanto outras regiões do planeta, como a América Latina, tornam-se peças-chave nesse xadrez global.

O cenário exige atenção e responsabilidade por parte dos líderes mundiais, pois as decisões de hoje moldarão o equilíbrio de poder nas próximas décadas.

A diplomacia, os acordos comerciais e a capacidade de articulação internacional serão fatores determinantes na consolidação da nova ordem mundial que está por vir.

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Ana Alice

Redatora e analista de conteúdo. Escreve para o site Click Petróleo e Gás (G) desde 2024 e é especialista em criar textos sobre temas diversos como economia, empregos e forças armadas.

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