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Indústria naval brasileira enfrenta crise histórica com demissões em massa e fechamento de estaleiros

Escrito por Débora Araújo
Publicado em 28/04/2025 às 17:52
Indústria naval brasileira enfrenta crise histórica com demissões em massa e fechamento de estaleiros
Foto: IA

Setor naval brasileiro vive colapso, com demissões em massa e estaleiros encerrando operações; crise ameaça empregos, investimentos e a retomada da indústria marítima no país.

A indústria naval brasileira, que já foi motivo de orgulho nacional e chegou a ocupar a segunda posição mundial em volume de produção, atravessa hoje uma de suas maiores crises. Após anos de crescimento impulsionado por políticas públicas e investimentos da Petrobras, o setor entrou em declínio, provocando demissões em massa, fechamento de estaleiros e perda de capacidade industrial.

A ascensão da indústria naval no Brasil

A história da indústria naval no Brasil remonta ao século XIX, mas foi entre as décadas de 1950 e 1970 que o setor viveu seu primeiro grande ciclo de expansão. Durante o governo militar, foram criados mecanismos de fomento como o Fundo da Marinha Mercante (FMM) e políticas de incentivo à construção de navios nacionais.

Nos anos 1970, o Brasil chegou a ser o segundo maior construtor de navios do mundo, atrás apenas do Japão. Grandes estaleiros como Verolme, Ishikawajima (atual Ishibras) e Mauá impulsionaram a economia, gerando milhares de empregos diretos e indiretos.

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O novo ciclo de crescimento no século XXI

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Após um período de retração nos anos 1980 e 1990, a indústria naval brasileira experimentou uma nova fase de expansão a partir dos anos 2000. Com a descoberta das reservas do pré-sal e a necessidade de ampliar a frota de apoio offshore e transporte de petróleo, a Petrobras e a Transpetro lançaram grandes programas de encomendas navais, como o Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef).

Esse movimento resultou na construção de novos estaleiros e na ampliação de unidades existentes, como o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Pernambuco, o Enseada Indústria Naval, na Bahia, e o Brasfels, no Rio de Janeiro.

Em seu auge, entre 2010 e 2014, a indústria naval empregava cerca de 80 mil trabalhadores em todo o país e respondia por aproximadamente 1% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

A crise que levou ao colapso

O ciclo virtuoso da indústria naval começou a ser interrompido a partir de 2014. A combinação de fatores econômicos, políticos e estruturais foi responsável pelo início da crise:

  • Queda dos preços internacionais do petróleo, que reduziu a viabilidade de projetos offshore;
  • Corte de investimentos da Petrobras após os escândalos revelados pela Operação Lava Jato;
  • Endividamento excessivo dos estaleiros, que investiram pesado em infraestrutura esperando encomendas futuras;
  • Paralisação da Sete Brasil, empresa criada para gerenciar a construção de sondas do pré-sal, o que afetou diretamente vários estaleiros.

O impacto foi rápido e profundo. Dezenas de projetos foram cancelados ou suspensos, e os estaleiros começaram a sofrer demissões em massa.

Demissões em massa e fechamento de estaleiros

Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), cerca de 60 mil postos de trabalho foram eliminados entre 2015 e 2020.

O Estaleiro Atlântico Sul, que já empregou mais de 10 mil pessoas, hoje opera com uma equipe reduzida. O Estaleiro Enseada suspendeu suas atividades em 2015 e mantém apenas uma estrutura mínima de manutenção. O EISA (Estaleiro Ilha S.A.), no Rio de Janeiro, também paralisou operações.

Atualmente, levantamento do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) aponta que, dos 48 estaleiros existentes no Brasil, 15 estão desativados ou sem contratos de construção ativa.

As demissões em massa afetaram não apenas os operários, mas toda uma cadeia de fornecedores e prestadores de serviços, agravando a crise econômica em regiões dependentes da atividade naval, como Niterói (RJ), Itaguaí (RJ) e Ipojuca (PE).

Tentativas de retomada e obstáculos

Nos últimos anos, algumas iniciativas buscaram reanimar a indústria naval brasileira. A Petrobras, por exemplo, iniciou o processo de descomissionamento de plataformas antigas, o que pode gerar demanda para serviços de desmontagem e reciclagem de estruturas offshore.

Novas plataformas para produção no pré-sal, como as P-82 e P-83, foram contratadas, com parte da construção sendo realizada no Brasil.

No entanto, o cenário ainda é desafiador. Especialistas apontam que a retomada efetiva da indústria naval depende de:

  • Garantia de encomendas públicas e privadas;
  • Política industrial de longo prazo, para reduzir a dependência de ciclos econômicos do petróleo;
  • Estímulo à inovação tecnológica para competir no mercado internacional;
  • Investimentos em energias renováveis offshore, como a construção de embarcações para parques eólicos marítimos.

O impacto da crise na economia local

A crise da indústria naval teve consequências profundas para as economias locais. Cidades que tinham sua base industrial ancorada nos estaleiros sofreram aumento do desemprego, queda na arrecadação de impostos e retração do comércio.

Em Niterói, por exemplo, estima-se que o fechamento de estaleiros tenha contribuído para a perda de aproximadamente 30% dos empregos industriais da cidade entre 2015 e 2020.

A situação levou prefeitos e governadores a cobrarem medidas de estímulo por parte do governo federal, com foco na reindustrialização da cadeia naval.

Novo PAC injeta recursos e acena para retomada da indústria naval

Em meio à crise que provocou demissões em massa e fechou vários estaleiros, o governo federal aposta no Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) como motor para reerguer a indústria naval brasileira.

Lançado em 2023 e reforçado em 2024, o Novo PAC destinou R$ 30,8 bilhões para mais de 430 projetos no setor naval. Esses investimentos abrangem a construção de novas embarcações, obras de modernização e reparo de unidades existentes, ampliação de estaleiros e implantação de novas infraestruturas portuárias.

Entre os principais destaques está a destinação de R$ 1 bilhão para a construção da terceira fragata do projeto Classe Tamandaré, voltado para fortalecer a capacidade da Marinha do Brasil. A iniciativa busca também estimular a retomada de empregos na indústria, reduzindo o impacto das demissões em massa observadas na última década.

Renovação de frota e apoio do presidente

A Petrobras, por meio da Transpetro, integrou-se ao esforço renovando sua frota com a encomenda de quatro novos navios da classe handy, cada um ao custo de US$ 69,5 milhões. Esses projetos, além de reforçar a logística do setor energético, garantem contratos para estaleiros nacionais e contribuem para a reversão da crise no setor.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu publicamente o fortalecimento da indústria naval, ressaltando a necessidade de utilizar conteúdo local nas novas construções e priorizar a formação de mão de obra qualificada no país. Segundo ele, “um país que tem uma bela indústria naval se torna competitivo no comércio internacional”.

Complementando os esforços, a Resolução CMN nº 5.189 ampliou o o a recursos do Fundo da Marinha Mercante (FMM). Com isso, cerca de R$ 18,5 bilhões estarão disponíveis em 2025 para financiar novos projetos sem onerar o orçamento do Ministério de Portos e Aeroportos.

Novas oportunidades: energia eólica offshore

Uma das apostas para a diversificação da indústria naval brasileira é a construção de embarcações de apoio para projetos de energia eólica offshore.

Com o avanço da transição energética global, o Brasil possui potencial para instalação de parques eólicos marítimos, principalmente nas regiões Nordeste e Sul.

Para viabilizar essa nova fronteira, será necessário modernizar os estaleiros, capacitar mão de obra e criar mecanismos de financiamento específicos.

Apesar dos desafios, os projetos de energia eólica offshore e o Novo PAC podem representar uma oportunidade para reduzir os efeitos das demissões em massa e revitalizar a base industrial naval brasileira.

Fonte: Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), SciELO, DefesaNet, Agência Brasil, Jornal Grande Bahia

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Débora Araújo

Escrevo sobre energias renováveis, automóveis, ciência e tecnologia, indústria e as principais tendências do mercado de trabalho. Com um olhar atento às evoluções globais e atualizações diárias, dedico-me a compartilhar sempre informações relevantes.

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