Cenário desafiador no setor siderúrgico brasileiro envolve investimentos bilionários ameaçados, pressões internacionais e medidas governamentais decisivas que podem transformar o futuro da indústria e impactar diretamente a economia regional e nacional.
Minas Gerais tem sido palco de aportes bilionários da ArcelorMittal, que, no início deste ano, ampliou sua unidade em Sabará e expandiu a Mina de Serra Azul.
Essas iniciativas fazem parte de um plano da empresa para investir cerca de R$ 4 bilhões no estado até 2025.
Porém, o futuro de outros investimentos da multinacional no Brasil está em risco, o que pode resultar no cancelamento de aproximadamente R$ 3 bilhões em aportes previstos para os próximos anos.
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De acordo com Everton Guimarães Negresiolo, CEO da ArcelorMittal Aços Longos Latam e Mineração Brasil, a companhia mantém a previsão de investir R$ 25 bilhões em todo o país entre 2022 e 2025.
No entanto, a nova rodada de investimentos, que poderia chegar a R$ 10 bilhões até 2030, está ameaçada e pode ser revista.
“A situação atual coloca em risco seriamente a continuidade dos investimentos no futuro”, enfatiza Negresiolo.
O principal entrave está ligado às decisões que o governo federal tomará nas próximas semanas.
No centro da questão está o aumento expressivo da importação de aço no Brasil, um problema que preocupa a indústria nacional há pelo menos quatro anos.
Crescimento das importações e queixas do setor siderúrgico
Conforme dados do Instituto Aço Brasil, a entrada de aço importado deve crescer cerca de 75% em 2025 na comparação com a média entre 2020 e 2022.
Esse aumento tem ocorrido de forma constante, com leves altas registradas também em 2023 e 2024.
Para as siderúrgicas brasileiras, essa situação representa uma concorrência desleal e predatória.
Elas alegam que o aço importado, especialmente da China, chega ao país a preços inferiores ao custo de produção, graças a subsídios oferecidos pelos governos dos países exportadores.
Esse cenário provoca uma redução nas vendas do aço nacional e ameaça a sustentabilidade das empresas brasileiras.
Em resposta à pressão do setor, o governo federal instituiu em 2024 cotas para a importação de 11 produtos siderúrgicos.
Quando o volume importado ultraa 30% da média registrada entre 2020 e 2022, as importadoras são obrigadas a pagar uma taxa de 25%.
Essa medida tem validade até o dia 31 de maio de 2025.
Agora, o setor siderúrgico cobra do governo a renovação e o fortalecimento dessa tarifa.
“O mínimo que o setor espera é uma renovação desse mecanismo, com a inclusão de mais produtos no portfólio e possivelmente a eliminação da tolerância de 30%”, explica Negresiolo.
Segundo ele, sem essas medidas, a indústria corre o risco de rever investimentos importantes que poderiam gerar empregos e desenvolvimento econômico no país.
A reportagem entrou em contato com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para obter informações sobre as negociações para a renovação da tarifa, mas ainda não obteve resposta.
Efeito Trump e o impacto global
Além da pressão doméstica, o mercado brasileiro de aço pode sofrer impactos indiretos das tarifas impostas pelos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump.
Embora os EUA não sejam autossuficientes para atender toda a sua demanda de aço, as restrições impostas por Trump têm dificultado a entrada de produtos siderúrgicos estrangeiros naquele mercado.
Esse cenário pode, paradoxalmente, agravar a crise no Brasil, afirma o CEO da ArcelorMittal.
“Ao restringir as importações nos EUA, os países exportadores, principalmente da Ásia, estão buscando outros mercados para substituir os volumes que antes eram direcionados aos norte-americanos”, detalha Negresiolo.
Com isso, o Brasil pode enfrentar uma intensificação da concorrência externa, com ainda mais aço importado chegando ao país.
Essa dinâmica global gera um desequilíbrio no comércio internacional e amplia os desafios enfrentados pela indústria brasileira.
O aumento das importações pode pressionar ainda mais os preços locais e desestimular investimentos nacionais, justamente no momento em que a indústria busca recuperação e expansão.
O papel do setor siderúrgico no Brasil
A siderurgia é um dos pilares da indústria brasileira e tem grande relevância para a economia do país.
O setor gera milhares de empregos diretos e indiretos e é fundamental para cadeias produtivas como construção civil, automotiva, eletrodomésticos, entre outras.
Investimentos em modernização e expansão das unidades produtivas, como os feitos pela ArcelorMittal em Minas Gerais, são essenciais para manter a competitividade do Brasil no mercado global.
Esses aportes ajudam a elevar a produtividade, reduzir custos e melhorar a qualidade do produto nacional.
Por isso, a possível paralisação de R$ 3 bilhões em investimentos não impacta apenas a empresa, mas toda a economia local e nacional.
Empregos podem ser ameaçados, e o desenvolvimento regional prejudicado, o que reforça a urgência de uma solução política e econômica para a crise.
Perspectivas e desafios para os próximos anos
Com a renovação das cotas de importação em aberto e a pressão de mercados internacionais, o setor siderúrgico brasileiro encara um momento decisivo.
A capacidade do governo em proteger a indústria nacional e garantir condições justas de competição será determinante para o futuro dos investimentos.
O compromisso da ArcelorMittal com o Brasil permanece, mas depende da clareza das regras e da segurança para continuar apostando em novos projetos.
A indústria brasileira também reforça a necessidade de uma política comercial que considere a realidade global e preserve o desenvolvimento sustentável do país.
Enquanto isso, Minas Gerais permanece como um dos focos dos investimentos, especialmente com projetos que visam à ampliação da capacidade produtiva e inovação tecnológica.
O estado tem se beneficiado desses aportes, que geram emprego e fortalecem a economia local, tornando-se referência para o setor siderúrgico.
Resta saber se essas iniciativas serão mantidas ou se o setor terá que enfrentar um cenário de retração e incertezas nos próximos anos.
Você acha que o governo deve manter e ampliar as cotas para proteger a indústria nacional de aço, mesmo com o risco de pressões comerciais internacionais? Compartilhe sua opinião nos comentários!
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