Com criatividade e ciência pública, pesquisadores brasileiros criam versão nacional da terapia CAR-T para câncer hematológico, reduzindo custos milionários e colocando o Brasil na vanguarda da inovação médica ível.
Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estão desenvolvendo no Brasil uma versão de baixo custo de uma das terapias mais avançadas do mundo contra o câncer: o tratamento com células CAR-T. A iniciativa, realizada em parceria com a organização americana Caring Cross, tornou o país o primeiro da América Latina a produzir esse tipo de terapia de forma local, ível e com aplicação voltada a cânceres hematológicos, como leucemias e linfomas.
A terapia CAR-T tradicional, amplamente usada em países como Estados Unidos e Alemanha, pode custar entre US$ 400 mil e US$ 500 mil por paciente. No modelo brasileiro, esse valor é reduzido para cerca de US$ 35 mil, ou seja, a nova alternativa é até 14 vezes mais barata que a versão internacional. A redução de custos não compromete a eficácia do tratamento e pode representar uma revolução no o à medicina de ponta em países de média e baixa renda.
O que é a terapia CAR-T?
A terapia com células CAR-T consiste em modificar geneticamente os linfócitos T do próprio paciente — células do sistema imunológico — para que reconheçam e ataquem células cancerígenas específicas. O processo envolve a retirada do sangue do paciente, o isolamento dos linfócitos, a modificação dessas células com um receptor antígeno quimérico (CAR), e a reinfusão dessas células reprogramadas no corpo do paciente.
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Essa abordagem tem mostrado excelentes resultados no combate a cânceres hematológicos, como a leucemia linfoblástica aguda (LLA) e o linfoma de células B, especialmente em casos em que os pacientes não respondem a outras formas de tratamento, como quimioterapia e transplante de medula óssea.
O papel da Fiocruz e o modelo brasileiro
A Fiocruz, uma das instituições de pesquisa em saúde mais respeitadas do Brasil, adaptou o processo de produção da terapia CAR-T com foco na redução de custos operacionais. Isso foi possível por meio do uso de tecnologias simplificadas, automação adaptada e mão de obra local altamente qualificada com menor custo comparado a países desenvolvidos.
Mudanças na fabricação que reduzem custos
Uma das principais inovações que permitiram reduzir os custos da terapia CAR-T no Brasil foi a simplificação do processo de seleção das células T, etapa essencial para a eficácia do tratamento. Em vez de utilizar colunas cromatográficas específicas — um método caro e comum em laboratórios internacionais — os pesquisadores brasileiros adotaram o uso de anticorpos solúveis, que desempenham a mesma função de maneira mais econômica e com menos complexidade técnica.
Adicionalmente, os vetores virais de alto rendimento, necessários para modificar geneticamente as células, são fornecidos pela Vector BioMed — uma empresa derivada da organização Caring Cross — a custos até 50% mais baixos que os praticados por fornecedores tradicionais. Essa combinação de tecnologia ível e engenharia de processos permitiu viabilizar a produção local da terapia com um orçamento muito inferior ao padrão internacional.
O “jeitinho brasileiro” nesse contexto não significa improviso, mas sim criatividade aplicada à ciência, com soluções engenhosas para viabilizar uma terapia que até então era restrita a hospitais de elite. O projeto também conta com o apoio do Ministério da Saúde e tem como objetivo integrar a terapia ao Sistema Único de Saúde (SUS) no futuro.
Parceria da Fiocruz com a Caring Cross
A organização norte-americana Caring Cross, sem fins lucrativos, é a responsável por fornecer a tecnologia base para o desenvolvimento da CAR-T. O modelo adotado no Brasil tem servido de projeto-piloto para levar a terapia a outros países com limitações de recursos, como Turquia, Índia e regiões do Oriente Médio.
A ideia é criar uma rede global de produção local da terapia CAR-T, reduzindo a dependência das grandes farmacêuticas e possibilitando o o da população a um tratamento de última geração.
A diferença no custo
Nos Estados Unidos, uma única aplicação da terapia CAR-T pode ultraar os R$ 2,5 milhões. No Brasil, com o novo modelo da Fiocruz, esse custo cai para cerca de R$ 190 mil. A diferença de valores pode tornar viável o atendimento de milhares de pacientes que, de outra forma, jamais teriam o à tecnologia.
Além da economia direta no tratamento, o modelo brasileiro também reduz custos indiretos, como internações prolongadas, efeitos adversos e novas intervenções médicas. Ao tornar a terapia mais ível, os pesquisadores esperam desafogar o sistema de saúde e melhorar significativamente a taxa de sobrevivência em cânceres de difícil controle.
Ciência pública em destaque
O avanço do tratamento CAR-T no Brasil também reacende o debate sobre o papel da pesquisa científica pública na inovação médica. Enquanto os tratamentos de alto custo desenvolvidos por laboratórios privados são iníveis à maioria da população, a iniciativa da Fiocruz demonstra que é possível democratizar o o à biotecnologia avançada quando há financiamento, infraestrutura e compromisso social.
A colaboração entre cientistas brasileiros e estrangeiros reforça a importância da cooperação internacional na área da saúde, especialmente diante de desafios globais como o câncer e outras doenças.
Referência:
Ledford, H. (2025). Brazil’s low-cost CAR-Ts take on Global South. Nature Biotechnology, 43, 653–654.