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A cidade fantasma construída pela União Soviética que foi deixada para trás no meio da Rússia

Escrito por Débora Araújo
Publicado em 16/05/2025 às 17:11
A cidade fantasma construída pela União Soviética que foi deixada para trás no meio da Rússia
Imagem gerada por inteligência artificial

Construída por prisioneiros e esvaziada após um desastre, Kadykchan revela o rastro concreto da União Soviética: uma cidade congelada no tempo no coração gelado da Rússia.

No coração do Extremo Oriente da Rússia, cercada por florestas geladas e estradas desertas, está Kadykchan, uma cidade fantasma que parece ter parado no tempo. Prédios de concreto cinza, escolas com carteiras ainda alinhadas, hospitais com equipamentos intactos e casas com objetos pessoais deixados para trás formam um cenário que lembra filmes de ficção pós-apocalíptica. Mas tudo ali é real.

Kadykchan foi fundada durante a Segunda Guerra Mundial, a partir da política de expansão industrial da União Soviética. Seu nome, que significa “pequeno vale” em língua evenki, está diretamente ligado à mineração de carvão, principal atividade econômica da cidade durante décadas. O que começou como um assentamento operário virou, nos anos 1980, uma cidade com cerca de 10 mil habitantes — todos ligados à exploração de recursos minerais.

Cidade fantasma construída com mão de obra de prisioneiros soviéticos

A origem de Kadykchan está ligada aos campos de trabalho forçado soviéticos. Presos do sistema de gulags foram usados para construir os primeiros alojamentos e minas da região. A cidade foi planejada com infraestrutura básica, incluindo escolas, unidades de saúde, mercado, aquecimento central e prédios residenciais de padrão soviético.

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Com o auge da mineração de carvão nos anos 1970 e 1980, a cidade floresceu. Havia cinemas, padarias, parques infantis e até linhas de ônibus ligando Kadykchan a outras localidades da região de Magadan, um dos lugares mais isolados da Rússia. O governo central mantinha o financiamento da estrutura com o objetivo de assegurar a produção de energia para as regiões orientais do país.

Abandono acelerado após acidente em mina

A queda da União Soviética em 1991 marcou o início do fim para a cidade. O colapso do Estado centralizado causou a interrupção de subsídios e a falência de diversas operações industriais, incluindo as minas de carvão de Kadykchan. Em 1996, uma explosão em uma das minas matou vários trabalhadores e levou à desativação definitiva do principal polo produtivo da cidade.

Sem emprego e com o fim dos rees do governo, os moradores começaram a deixar suas casas. Muitos se mudaram às pressas, abandonando móveis, documentos e objetos pessoais. Os prédios foram esvaziados rapidamente, e em menos de cinco anos a cidade já estava quase completamente desocupada.

Uma cidade fantasma congelada no tempo

Hoje, Kadykchan permanece praticamente do mesmo jeito que foi deixada. As estruturas de concreto ainda estão de pé, as janelas seguem emoldurando salas vazias e livros escolares continuam empilhados em prateleiras abandonadas. Em algumas casas, roupas permanecem nos armários e brinquedos infantis descansam nos quartos como se estivessem à espera do retorno de seus donos.

Apesar da deterioração natural provocada pelo clima severo da região, o estado de conservação dos interiores surpreende visitantes. Não há registro de saques ou vandalismo em larga escala, em parte devido à dificuldade de o: o local só pode ser alcançado por estradas de terra durante poucos meses do ano, quando o clima permite.

Símbolo do colapso soviético

Kadykchan se transformou em um símbolo silencioso do fim da era soviética. Seu abandono não foi resultado de guerra ou catástrofe ambiental, mas sim de um modelo econômico que entrou em colapso. A cidade reflete o que ocorreu com dezenas de outros núcleos urbanos construídos exclusivamente para servir a objetivos industriais durante o regime comunista.

O caso de Kadykchan é frequentemente citado por pesquisadores e jornalistas como exemplo do chamado “legado congelado” da União Soviética. São lugares onde a engenharia urbana foi totalmente subordinada à produção econômica, sem planos de longo prazo para sustentabilidade social ou adaptação a cenários futuros.

Interesses turísticos e documentais na cidade fantasma

Embora seja difícil chegar até Kadykchan, o local ou a atrair aventureiros, fotógrafos e documentaristas interessados em cidades fantasmas. Diversos canais no YouTube e sites especializados em turismo extremo já documentaram expedições ao local, mostrando o cenário intacto e a atmosfera silenciosa das ruas vazias.

Não há segurança oficial na área, e visitas não são recomendadas durante o inverno rigoroso, quando temperaturas podem chegar a -50 °C. Ainda assim, o interesse por lugares como Kadykchan cresce entre aqueles que buscam entender os rastros deixados por regimes totalitários e políticas de industrialização forçada.

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Uma lembrança em ruínas da engenharia soviética

Mais do que ruínas, Kadykchan é um lembrete físico de como uma cidade inteira pode nascer de uma decisão estratégica e desaparecer quase tão rapidamente quanto surgiu. Com base em infraestrutura pesada e dependência estatal, o modelo soviético de desenvolvimento urbano deixou para trás dezenas de locais como esse, muitos ainda escondidos nas vastidões do território russo.

Enquanto a cidade permanece em silêncio, os vestígios da vida cotidiana que ali existiu continuam visíveis: lençóis nas camas, registros escolares, pôsteres nas paredes e pratos sobre a mesa. Kadykchan é, hoje, uma das cidades fantasmas mais preservadas da Rússia, um retrato intacto de uma era que já não existe — mas ainda ecoa através do concreto.

Débora Araújo

Escrevo sobre energias renováveis, automóveis, ciência e tecnologia, indústria e as principais tendências do mercado de trabalho. Com um olhar atento às evoluções globais e atualizações diárias, dedico-me a compartilhar sempre informações relevantes.

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