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LARC-V 4×4: Conheça o gigante anfíbio que cruza terra, lama e mar sem parar com seus 8 mil kilos e autonomia de até 539Km

Escrito por Jefferson S
Publicado em 21/05/2025 às 22:22
LARC-V beige lotado de soldados camuflados cruza um rio turvo, destacando pneus semisubmersos e cabine angular sob céu nublado.
LARC-V transporta cerca de vinte militares em missão de demonstração, evidenciando sua capacidade de 5 toneladas tanto em terra quanto na água.

O LARC-V é um daqueles projetos que surgem em meio à Guerra Fria, brilham no calor do combate e, décadas depois, continuam úteis em cenários civis e militares.

Concebido nos Estados Unidos nos anos 1950, ele precisava fazer algo que nenhum caminhão nem barco puro conseguia: sair da praia já carregado, avançar pelas ondas e entregar suprimentos direto no front.

O LARC-V, repleto de militares e membros da mídia durante o Exercício COOPERAÇÃO DO MAR '96, perto de Vladivostok, Rússia.
O LARC-V, repleto de militares e membros da mídia durante o Exercício COOPERAÇÃO DO MAR ’96, perto de Vladivostok, Rússia. – Foto de domínio público

O resultado foi um “caminhão-barco” de alumínio capaz de levar cinco toneladas onde quer que houvesse lama, areia ou água pelo caminho.

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No Vietnã, o grande anfíbio virou peça-chave da logística norte-americana, e parte dele ficou lá mesmo, afundado para não cair em mãos inimigas quando as forças dos EUA recuaram em 1975. Ainda assim, centenas sobreviveram.

Alguns receberam modernização profunda no programa SLEP da Marinha dos Estados Unidos, outros rodaram o mundo servindo em exércitos aliados e muitos se aposentaram como atrações turísticas em lagos glaciais ou portos históricos.

Hoje, o LARC-V é lembrado como ícone de versatilidade: leva contêiner, tropa ou visitantes em busca de aventura. Entender sua história, sua mecânica e suas reencarnações ajuda a explicar por que ele ainda desperta a curiosidade de entusiastas, dos modelistas aos engenheiros navais.

Origem e batismo de fogo

O projeto, iniciado em 1952, partiu da sigla LARC (Lighter, Amphibious, Resupply, Cargo). O “V” indicava a versão capaz de mover até 5 toneladas em qualquer terreno. Ele entrou oficialmente em serviço em 1963, no auge da escalada norte-americana no Sudeste Asiático.

No Vietnã, duas companhias, 344th e 347th Transportation, desembarcaram 34 veículos em Da Nang e Cam Ranh Bay. A missão era simples e vital: descarregar navios ancorados, cruzar a arrebentação e despejar bombas, munição e combustível direto na linha de voo da USAF. Operavam 24 horas por dia; se menos de 15 unidades estivessem aptas, peças de reposição voavam de emergência dos EUA.

A robustez impressionava. Dos quase 1 000 LARC-V construídos, cerca de metade foi perdida no conflito, boa parte afundada deliberadamente para evitar captura. Mesmo assim, o veículo selou sua reputação de “tanque flutuante” que não precisava de porto nem de cais para entregar carga.

Depois do cessar-fogo, o LARC-V provou utilidade em tarefas de paz: reconstrução de pontes, apoio a comunidades ribeirinhas e transporte de pessoal em bases costeiras. Foi essa versatilidade que convenceu outras nações a encomendar o anfíbio.

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Engenharia e desempenho

Construído em alumínio naval, o casco mede 11 m de comprimento, 3 m de largura e pouco mais de 3 m de altura. Vazio, pesa 8,6 t; carregado, a 5 t extras ou 20 ageiros além dos três tripulantes.

O motor original era um Cummins V8 de 300 hp acoplado a transmissão mecânica. Em solo firme, o 4×4 cravava 48 km/h; na água, empurrado por uma hélice central, navegava a 15 km/h. Tanques de 144 galões davam autonomia de até 539 km em terra e 110 milhas náuticas no mar.

A mecânica simples facilitava a manutenção em campo. Em vez de suspensão complexa, o LARC-V confiava em pneus gigantes de baixa pressão, que isolavam o casco de pancadas e ainda garantiam flutuação extra.

Outra vantagem era a capacidade de vencer rampas de 60% de inclinação, algo precioso em praias íngremes ou margens de rio erodidas. Por tudo isso, o veículo virou “coringa” logístico em operações conjuntas de Exército, Marinha e Força Aérea.

Do Vietnã ao SLEP: a grande reforma

Reprodução Armorama

Quarenta anos após seu debut, a Marinha dos EUA lançou o Service Life Extension Program (SLEP) para manter o LARC-V relevante no século XXI. O coração da reforma é o motor John Deere turbo de 375 hp ligado a transmissão hidráulica, mais suave e potente que a antiga caixa mecânica.

O upgrade dobrou o “bollard pull” na água para 7600 lb e elevou a capacidade de reboque em terra a 29000 lb. Sistemas elétricos foram digitalizados, a cabine ganhou novos painéis e a ergonomia melhorou. Das quase 200 unidades ainda em mãos norte-americanas, 42 já aram pelo SLEP e trabalham em Beach Master Units, Construction Teams e navios de pré-posicionamento.

Bollard Pull em português é conhecido como tração estática, é a força de tração que um rebocador ou uma embarcação pode exercer quando está amarrado a um mastro (bollard) sem se mover.

O mais curioso é que, apesar do visual quase inalterado, o “novo” LARC-V opera como trator portuário, rebocador costal e plataforma de mergulho, um currículo que nenhum caminhão-trator convencional acumula.

Operadores e usos atuais

Além dos Estados Unidos, Austrália, Argentina, Portugal, Filipinas e Singapura ainda mantêm frotas ativas. Os australianos levaram LARC-V a missões de apoio na Antártica, abastecendo bases na ilha Macquarie sobre praias difíceis.

No desastre das inundações de Queensland, em 2011, dois exemplares foram transportados de C-17 para atuar como táxis anfíbios entre áreas urbanas alagadas. A habilidade de subir calçadas, cruzar correntezas e deslizar por ruas submersas fez a diferença nos resgates.

Pelo mundo civil, cerca de 100 veículos viraram atração turística. É o caso dos eios no lago glacial Jökulsárlón, na Islândia, e das “duck tours” de Halifax, no Canadá, onde o LARC-V desliza da rua para o porto sem mudar de marchas.

A sobrevida comercial não é mero folclore. O casco de alumínio resiste à corrosão, as peças vêm de motores industriais e a dirigibilidade lembra a de um trator, o que barateia a habilitação de condutores.

Modelismo e cultura pop

Para quem prefere escalar 1/35, a Gecko Models lançou um kit elogiado por especialistas. O casco vem em peça única, os pneus são moldados “com peso” e há photo-etch para espelhos, limpadores e es de corda.

O manual inclui três pinturas: dois padrões verde-oliva de Da Nang, 1965, e um LARC-V argentino das Malvinas, 1982. Modelistas já relatam que, se vedar bem o casco, a miniatura realmente flutua na pia — façanha incomum em blindados de plástico.

O sucesso do kit reacendeu o interesse em dioramas de praia, com figuras descarregando caixas de munição sobre esteiras molhadas. Há quem espere que as boas vendas animem a marca a produzir o irmão maior, o LARC-LX, de 60 t.

Enquanto isso, o LARC-V garante seu lugar na cultura pop. Ele figura em vídeos de turismo, faz ponta em séries sobre guerra e mobiliza comunidades de restauração, sempre pronto para mostrar que, às vezes, o transporte mais eficiente é aquele que ignora a linha entre terra e mar.

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Jefferson S

Profissional com experiência militar no Exército, Inteligência Setorial e Gestão do Conhecimento no Sebrae-RJ e no Mercado Financeiro por meio de um escritório da XP Investimentos. Trago um olhar único sobre a indústria energética, conectando inovação, defesa e geopolítica. Transformo cenários complexos em conteúdo relevante sobre o futuro do setor de petróleo, gás e energia. Envie uma sugestão de pauta para: [email protected]

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