Com investimentos estimados em dezenas de bilhões de dólares e impacto direto na arrecadação pública, a Margem Equatorial pode se tornar um dos principais vetores de crescimento energético do país nas próximas décadas.
O Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) lançou um estudo em que defende que a Margem Equatorial brasileira seja reconhecida como uma área estratégica pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).
A proposta visa assegurar a soberania energética do país e potencializar investimentos e arrecadações públicas, além de promover o desenvolvimento regional.
Localizada no litoral que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte, a região é considerada uma nova fronteira para a exploração de petróleo e gás natural no Brasil e pode atrair mais de US$ 56 bilhões em investimentos e gerar cerca de US$ 200 bilhões em receitas para o Estado.
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O Ineep também propõe mudanças no modelo de exploração dos blocos da região, sugerindo a adoção do regime de partilha para garantir ganhos mais amplos para a sociedade brasileira.
Margem Equatorial é uma nova fronteira energética para o Brasil
A Margem Equatorial compreende uma vasta faixa marítima ao norte do país, cobrindo as bacias Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar.
Segundo o governo federal, esta área é considerada uma prioridade estratégica para o Ministério de Minas e Energia, por representar uma alternativa promissora à produção já consolidada no pré-sal.
O estudo do Ineep destaca que a exploração da Margem Equatorial não apenas contribuirá para manter a autossuficiência energética nacional, mas também tem potencial para financiar políticas públicas em áreas essenciais como saúde, educação e infraestrutura.
Essa perspectiva se baseia nas previsões de retorno financeiro com os leilões e a exploração dos blocos, que poderão gerar efeitos econômicos robustos a médio e longo prazo.
Regime de partilha é visto como essencial para a Margem Equatorial
Atualmente, os 65 blocos localizados em águas profundas e ultraprofundas da região estão incluídos no 5º Ciclo de Oferta Permanente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), previsto para junho e operando sob o regime de concessão.
No entanto, o Ineep defende a retirada desses blocos dessa rodada e propõe que eles sejam transferidos para o regime de partilha.
Diferente do modelo de concessão, onde o petróleo produzido pertence à empresa que venceu o leilão, no regime de partilha o Estado mantém parte da produção.
Esse modelo, já utilizado nas áreas do pré-sal, é visto pelo Ineep como mais adequado para assegurar ganhos públicos diretos e maior controle estratégico da exploração energética.
Desenvolvimento regional e segurança energética em pauta
Para os pesquisadores do Ineep, a Margem Equatorial deve ser articulada com um projeto de desenvolvimento nacional que contemple os seguintes objetivos:
- Segurança e soberania energética;
- Ampliação da oferta interna de energia;
- Fortalecimento da indústria nacional;
- Aumento da capacidade de refino;
- Redução das desigualdades regionais;
- Fomento à inovação tecnológica voltada à diversificação energética;
- Adaptação às mudanças climáticas e descarbonização da economia.
“Os avanços na exploração de petróleo e gás na MEB não representam retrocessos em relação à transição energética”, destaca o estudo, reforçando que a região de 360 mil km² foi recentemente incorporada ao território brasileiro após reconhecimento da ONU, o que aumenta ainda mais sua relevância geopolítica.
Recomendações estratégicas do Ineep
O estudo, elaborado pelos diretores técnicos Ticiana Alvares e Mahatma Ramos dos Santos, junto aos pesquisadores Francismar Ferreira e Maria Clara Arouca, traz recomendações que vão além da simples exploração de recursos. Entre elas:
Reconhecimento da Margem Equatorial como área estratégica pelo CNPE;
Retomada da exclusividade da Petrobras na condução das operações de exploração e produção;
Regulamentação do Fundo Social, para garantir a redistribuição dos lucros oriundos da exploração;
Fortalecimento da autonomia do Ibama, garantindo a proteção ambiental no processo.
De acordo com os autores, “o debate sobre a MEB não pode se limitar à dicotomia entre meio ambiente e desenvolvimento”, ressaltando que a discussão precisa integrar as variáveis climáticas, geopolíticas e de soberania.
O Ineep afirma que este é somente o primeiro de uma série de estudos que serão lançados com o objetivo de contribuir para o debate sobre políticas energéticas estratégicas no Brasil.
A proposta de reconhecimento da Margem Equatorial como uma área estratégica marca um o importante na construção de uma política energética que una segurança, sustentabilidade e desenvolvimento econômico.