Milhares de quilômetros de oleodutos e gasodutos transportam a energia que move o Brasil, mas essa infraestrutura essencial opera majoritariamente de forma silenciosa e subterrânea, guardando perigos que a maioria da população desconhece.
Sob a superfície de cidades brasileiras e no leito de mares, uma vasta e complexa rede de oleodutos e gasodutos opera continuamente. Diariamente, milhões de metros cúbicos de petróleo, gás natural e seus derivados fluem por essas tubulações, essenciais para a economia e o suprimento energético do Brasil. No entanto, essas “veias ocultas” da nação permanecem, em grande parte, invisíveis para a maioria da população.
Essa invisibilidade, embora muitas vezes uma escolha por segurança e otimização, pode mascarar riscos significativos e desafios de gestão. Veja a realidade dos oleodutos e gasodutos no Brasil, explorando sua importância vital, os perigos associados à sua operação e as medidas necessárias para garantir a segurança de todos.
Como funcionam os oleodutos e gasodutos e a impressionante dimensão da malha brasileira
Dutos são tubulações para transporte de longa distância. Oleodutos transportam petróleo e derivados líquidos, enquanto gasodutos levam gás natural. Construídos majoritariamente em aço carbono com revestimentos anticorrosivos, eles funcionam com estações de bombeamento (oleodutos) ou compressão (gasodutos) para impulsionar os fluidos.
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A malha brasileira é extensa: são mais de 20.200 km de oleodutos e gasodutos, conectando plataformas de produção offshore, refinarias, terminais e grandes consumidores. Empresas como Transpetro (subsidiária da Petrobras), Nova Transportadora do Sudeste (NTS), Transportadora Associada de Gás (TAG) e Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia Brasil2 (TBG) são as principais operadoras dessa infraestrutura crítica.
Os riscos ambientais e sociais inerentes aos oleodutos e gasodutos
Apesar de essenciais, os oleodutos e gasodutos carregam riscos. Vazamentos podem causar severa contaminação do solo e da água, afetando ecossistemas e fontes de água potável, como ocorrido em incidentes históricos na Represa Billings e na Serra do Mar. Em áreas urbanas, a proximidade com a população eleva o risco de explosões e incêndios, especialmente com gás natural ou GLP, como no trágico acidente da Vila Socó (Cubatão, 1984) que resultou em 38 mortes.
As causas comuns de acidentes incluem corrosão das tubulações, falhas operacionais, danos por ação de terceiros (como máquinas em obras) e, um problema crescente, o vandalismo e furto de combustíveis através de derivações clandestinas.
Os sistemas de segurança, monitoramento e a regulamentação dos oleodutos e gasodutos no Brasil
Para garantir a segurança, as operadoras utilizam tecnologias como PIGs (Pipeline Inspection Gauges) – “pigs inteligentes” que inspecionam o interior dos dutos – e Sistemas de Detecção de Vazamentos (SDV), além de monitoramento remoto em centros de controle. Programas de manutenção preventiva e preditiva são cruciais, assim como o controle rigoroso da corrosão.
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) é o principal órgão regulador, estabelecendo normas técnicas (como o RTDT) e fiscalizando a segurança operacional. As empresas também são obrigadas a ter Planos de Ação de Emergência (PAE) para resposta a incidentes.
A percepção pública, a transparência necessária e os desafios da comunicação sobre oleodutos e gasodutos
A “invisibilidade” da maioria dos oleodutos e gasodutos contribui para uma baixa percepção pública dos riscos. A Lei de o à Informação e a Nova Lei do Gás buscam aumentar a transparência no setor, mas a natureza técnica dos dados pode ser uma barreira para o cidadão comum.
É fundamental uma comunicação de riscos clara e proativa por parte das empresas e do governo. A criação de um sistema unificado de informação pública, que permita aos cidadãos identificar dutos em sua vizinhança, como o NPMS nos EUA, seria um avanço significativo para a conscientização sobre os oleodutos e gasodutos.
A expansão da malha, o papel na transição energética e a segurança dos oleodutos e gasodutos
Existem planos de expansão da malha de oleodutos e gasodutos no Brasil para atender à demanda e integrar novas fontes, como o gás de Vaca Muerta na Argentina e o biometano nacional. Essa infraestrutura também pode ser vital na transição energética, transportando CO₂ para projetos de Captura e Armazenamento de Carbono (CCS) e, futuramente, hidrogênio.
Contudo, isso exige planejamento estratégico para evitar ativos encalhados em um futuro de baixo carbono. Recomenda-se o fortalecimento da fiscalização, investimento em tecnologia e manutenção, e um diálogo transparente com a sociedade para garantir que os oleodutos e gasodutos sirvam ao país de forma segura e sustentável.