A exploração do níquel, mineral raro, está devastando florestas, contaminando oceanos e colocando comunidades em risco, enquanto a demanda global cresce até 500%
Quando pensamos na Indonésia, a primeira coisa que vem à cabeça são suas praias paradisíacas e florestas exuberantes. Mas a verdade é que, por trás dessa imagem de cartão-postal, existe uma realidade bem menos glamourosa. O país é o maior produtor mundial de níquel, um mineral raro essencial para a indústria de baterias e carros elétricos. Com reservas estimadas em 21 milhões de toneladas, a Indonésia detém cerca de 22% da oferta global de níquel, um número impressionante.
A demanda por esse mineral disparou nos últimos anos, impulsionada pela corrida por soluções energéticas mais sustentáveis. Carros elétricos, como os da Tesla, dependem fortemente do níquel para aumentar a autonomia das baterias de íon-lítio. Só em 2023, as exportações de níquel renderam US$ 6,8 bilhões para a economia indonésia. Mas, enquanto o mundo comemora avanços na transição energética, as comunidades locais pagam um preço altíssimo.
O impacto ambiental da mineração de níquel
A extração de níquel está deixando marcas profundas na Indonésia, e não são apenas econômicas. Em ilhas como Sulawesi e Halmahera, onde se concentram as maiores reservas do mineral raro, a mineração está transformando paisagens naturais em verdadeiros desertos industriais.
-
Apenas 1 grama desse mineral é capaz de extrair mais de 95% do ouro em eletrônicos descartados no planeta
-
A maior mina de ferro a céu aberto do mundo, Carajás, que revela reservas gigantescas de minério de alta qualidade e impulsiona a economia de uma nação
-
A mineração de asteroides que revela um potencial de trilhões de dólares em recursos e pode inaugurar a economia espacial
-
Nova jazida com mais de 7.100 toneladas de ouro de altíssima pureza é descoberta no Brasil e ultraa o impressionante valor de R$ 4,2 trilhões
Em Kabaena, Sulawesi, 75% do território já foi liberado para exploração. O resultado? Poluição das águas, sumiço dos peixes e infecções de pele nos moradores. E o pior: o desmatamento está avançando a os largos. Dois terços dos 920 mil hectares destinados à mineração estavam cobertos por florestas, que abrigavam uma biodiversidade riquíssima. A remoção dessas áreas verdes acelera a erosão do solo, impacta a fauna e altera o equilíbrio climático da região.
E os problemas não param por aí. A mineração também está colocando em risco um dos tesouros naturais mais valiosos do mundo: os ecossistemas marinhos de Raja Ampat. O arquipélago abriga uma das maiores biodiversidades do planeta, mas os sedimentos tóxicos das minas estão sufocando os recifes de coral. O consultor ambiental Victor Nikijuluw alerta que essa contaminação não apenas desloca espécies marinhas, mas também compromete a subsistência das comunidades que dependem da pesca para sobreviver.
O dilema econômico e ambiental
A Indonésia está numa encruzilhada. De um lado, o país colhe os frutos econômicos de sua posição estratégica no mercado global de minerais raros, impulsionando a economia e gerando empregos. Do outro, vê sua natureza ser destruída em um ritmo assustador.
Para tentar amenizar a situação, o governo anunciou medidas para reforçar a fiscalização das minas. Em novembro de 2023, foram prometidas revisões nas licenças de operação para garantir que as empresas sigam padrões ambientais mais rigorosos. Mas será que isso resolve o problema? Ambientalistas alertam que a mineração ilegal e a falta de transparência nas concessões continuam sendo entraves gigantes.
E a pressão só aumenta em cima do mineral raro. Estima-se que a demanda global por níquel possa crescer 500% até 2050. Isso significa mais exploração, mais degradação ambiental e, inevitavelmente, mais desafios para a Indonésia.