Com a volta de Donald Trump à presidência, políticas ambientais são revistas e quase US$ 8 bilhões em investimentos sustentáveis evaporam, freando o avanço da energia limpa nos Estados Unidos.
Desde o início de 2025, os Estados Unidos vêm enfrentando uma reviravolta no setor de energias renováveis. A volta de Donald Trump à presidência dos EUA trouxe uma série de mudanças nas políticas públicas, especialmente na área ambiental. Os reflexos já aparecem de forma concreta: quase US$ 8 bilhões em investimentos foram cancelados ou reduzidos no primeiro trimestre do ano, atingindo diretamente projetos ligados à energia limpa em todo o país.
Segundo dados do grupo apartidário Clean Economy Works, da organização E2, o total de recursos suspensos em apenas três meses é mais de três vezes superior ao montante que havia sido cancelado nos 30 meses anteriores. A mudança de cenário se dá, principalmente, pelas críticas e ações do novo governo Trump em relação aos incentivos fiscais que vinham sendo concedidos para fomentar o setor de energias renováveis.
Estados republicanos entre os mais afetados
Uma das ironias do atual cenário é que grande parte dos investimentos perdidos estava direcionada justamente a estados governados por representantes do Partido Republicano — mesmo partido do atual presidente. Somente nesses estados, mais de US$ 6 bilhões em projetos ligados à energia limpa deixaram de avançar desde janeiro. Estima-se que ao menos 10 mil empregos foram perdidos nesses locais.
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Esses distritos haviam sido os maiores beneficiados pelos incentivos federais aprovados durante o governo anterior, especialmente após a aprovação dos créditos fiscais para o setor de energias renováveis em agosto de 2022. Até o início de 2025, esses mesmos distritos concentravam 62% dos anúncios de novos projetos, 71% dos empregos previstos e mais de 80% do volume total de investimentos.
Fábricas encerradas e projetos cancelados nos EUA
A reversão das políticas ambientais por parte do governo Trump tem causado impactos diretos em empresas que apostavam no setor. A Bosch, por exemplo, encerrou o projeto de sua fábrica de células de combustível de hidrogênio na Carolina do Sul, com valor estimado em US$ 200 milhões. Já a Freyr Battery cancelou a construção de uma fábrica de baterias na Geórgia, um projeto de US$ 2,5 bilhões.
Ao todo, apenas entre janeiro e março de 2025, 13 grandes empreendimentos ligados à energia limpa foram cancelados ou significativamente reduzidos. Esse movimento representa mais de US$ 5 bilhões em investimentos que deixaram de ser realizados e um corte substancial nas oportunidades de geração de empregos.
Investimentos ainda resistem no setor de energias renováveis
Apesar do cenário de incertezas, o setor de energias renováveis nos EUA ainda atrai iniciativas. Em março, empresas anunciaram dez novos projetos, avaliados em mais de US$ 1,6 bilhão. Esses projetos incluem desde fábricas de energia solar até a produção de veículos elétricos e equipamentos de transmissão. Juntos, eles podem gerar mais de 5.000 novos empregos permanentes.
Um dos exemplos mais relevantes é o plano da Tesla de investir US$ 200 milhões em uma nova fábrica de baterias próxima a Houston, no Texas. A planta deverá empregar cerca de 1.500 pessoas, sinalizando que, mesmo diante das incertezas políticas, há espaço para expansão no mercado de energia limpa.
Michael Timberlake, porta-voz da E2, comentou que, apesar dos desafios impostos pelas mudanças no governo dos EUA, as empresas continuam interessadas em investir no país. No entanto, ele alerta que a instabilidade política pode prejudicar ainda mais o setor se medidas claras e de longo prazo não forem estabelecidas.
Setor de energias renováveis em risco
Desde a introdução dos incentivos federais em 2022, o setor de energia limpa nos EUA vinha em crescimento acelerado. Foram mais de US$ 133 bilhões anunciados em novos projetos em 42 estados e em Porto Rico, com a expectativa de contratação de 122 mil trabalhadores em posições permanentes.
Porém, segundo a E2 e a Atlas Public Policy, pelo menos 34 desses projetos foram cancelados, reduzidos ou encerrados por completo desde então. Mais de 15 mil empregos deixaram de ser criados e cerca de US$ 10 bilhões em investimentos foram perdidos.
Com a atual política da istração Trump, analistas do setor temem que esse número cresça nos próximos meses, especialmente se persistir a insegurança quanto ao futuro dos créditos fiscais e às diretrizes para o desenvolvimento de energia limpa nos EUA.
Caminhos incertos para o futuro da energia nos EUA
As decisões do governo Trump em relação à energia limpa levantam questionamentos sobre o futuro do setor no país. Enquanto alguns empresários mantêm seus planos de expansão, outros recuam diante da instabilidade. O fato de distritos republicanos — justamente os mais favorecidos anteriormente — estarem entre os mais prejudicados pelas novas políticas reforça a complexidade do momento.
Os EUA ainda possuem um dos maiores mercados mundiais de energias renováveis, mas o cenário atual aponta para um período de indefinição. A condução política do atual presidente será decisiva para saber se o país continuará liderando a transição energética ou se perderá terreno para outras nações mais comprometidas com o avanço da energia limpa.
Fonte: Electrek