Protocolo criado por cientistas europeus permite cultivo seguro em áreas próximas à Zona de Exclusão de Chernobyl, reacendendo esperança para regiões estigmatizadas por contaminação nuclear
Um novo estudo traz esperança para milhares de hectares abandonados desde o desastre nuclear de Chernobyl. Pesquisadores desenvolveram um protocolo seguro e eficaz que pode permitir a retomada da agricultura em terras contaminadas, sem riscos à saúde dos trabalhadores ou dos consumidores.
Testes em campo mostram viabilidade
O protocolo foi testado em uma área de 100 hectares na região de Zhytomyr, próxima à chamada “Zona de Exclusão de Chernobyl”.
A pesquisa foi conduzida por especialistas da Universidade de Portsmouth, em parceria com o Instituto Ucraniano de Radiologia Agrícola. O objetivo era verificar se culturas como batata, milho, grãos e girassóis poderiam ser cultivadas com segurança.
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Os resultados foram animadores. Segundo os dados coletados, a dose de radiação à qual os trabalhadores foram expostos ficou bem abaixo do limite legal estabelecido na Ucrânia. Em alguns casos, os níveis foram até menores que a radiação natural presente em outras regiões do mundo.
Apesar do sucesso com certas culturas, o estudo recomenda evitar o cultivo de leguminosas como feijão, ervilha e lentilha. Esses alimentos absorvem mais radionuclídeos do solo, o que pode representar riscos à saúde. Portanto, o protocolo orienta com precisão quais culturas são seguras e quais devem ser evitadas.
Potencial de recuperação em larga escala
A partir dos dados obtidos, os cientistas estimam que até 20.000 hectares de terras agrícolas na Ucrânia poderiam ser recuperados usando esse novo método.
Essas terras, hoje subutilizadas, representam uma oportunidade concreta para fortalecer a segurança alimentar do país e revitalizar comunidades rurais que vivem sob estigma há décadas.
Além disso, a técnica pode ser aplicada em outras regiões afetadas por contaminação radioativa, como Fukushima, no Japão, ou áreas militares desativadas.
Simples e ível
O protocolo proposto é descrito como rigoroso, mas ível. Ele não exige processos industriais caros ou invasivos. Com análises de solo e monitoramento de radiação gama externa, os pesquisadores conseguem prever com precisão o comportamento das culturas agrícolas em relação à contaminação.
Isso permite o uso seguro de recursos naturais anteriormente considerados perdidos. Também promove práticas agrícolas sustentáveis, descentraliza a produção de alimentos e reduz a pressão sobre as terras ativas atualmente utilizadas.
Uma visão além da Ucrânia
Para o professor Jim Smith, principal autor do estudo, o avanço vai além da recuperação da área afetada por Chernobyl. “Não se trata apenas de Chernobyl, trata-se de usar evidências para proteger as pessoas e evitar que terras úteis caiam em desuso”, afirmou.
A aplicação desse protocolo representa uma oportunidade para unir ciência, desenvolvimento rural e sustentabilidade. Ao permitir a geração de empregos agrícolas e o uso seguro do solo, a iniciativa pode redefinir o futuro de muitas regiões marcadas por desastres nucleares.
Fim de um estigma
Com esse avanço, terras antes vistas como perigosas e improdutivas podem voltar a ter papel essencial na economia rural. A pesquisa mostra que, com ciência e cuidado, é possível transformar o medo em ação responsável e produtiva.
Com informações de Ecoinventos.