Proposta republicana para reverter créditos fiscais ligados à energia solar ameaça fechar 287 fábricas e cortar US$ 220 bilhões em investimentos, segundo a Solar Energy Industries Association (SEIA).
Uma proposta orçamentária em debate no Congresso dos Estados Unidos ameaça a continuidade de importantes incentivos à energia limpa, com potencial de impacto direto em empregos, fábricas e investimentos no setor de energia solar e armazenamento. O projeto de lei, apoiado pela maioria republicana, foi aprovado no fim de semana pelo Comitê de Orçamento da Câmara e será analisado nesta quarta-feira pelo Comitê de Regras da Câmara.
De acordo com estimativas divulgadas pela Solar Energy Industries Association (SEIA), a aprovação do texto na forma atual poderia colocar em risco cerca de 300 mil empregos e comprometer até 287 fábricas espalhadas por vários estados, a maioria em regiões tradicionalmente favoráveis ao Partido Republicano.
Fábricas, investimentos e energia em risco com novo projeto de lei
A presidente e CEO da SEIA, Abigail Ross Hopper, declarou que o projeto de lei representa uma ameaça direta ao futuro da indústria de energia solar e de armazenamento nos EUA. “Se esta proposta se tornar lei, quase 300 fábricas no país — a maioria em estados republicanos — poderão fechar ou nunca abrir”, afirmou em comunicado oficial nesta terça-feira.
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A análise da associação aponta que os cortes afetariam diretamente os principais créditos fiscais que impulsionam o crescimento do setor desde a aprovação da Lei de Redução da Inflação (IRA) em 2022. Entre os dispositivos que seriam eliminados estão:
- Crédito de energia residencial 25D, eliminado após 2025
- Crédito de investimento em eletricidade limpa 48E, eliminado após 2028
- Crédito de produção industrial avançada 45X, totalmente encerrado após 2031
Somente a remoção do 25D poderia resultar na perda de até 85 mil empregos até 2026, e 250 mil até 2028, segundo a projeção da SEIA.
US$ 220 bilhões em investimentos e conta de luz mais cara
Além das perdas em postos de trabalho e fechamento de unidades industriais, a SEIA alerta que o projeto de lei pode gerar uma queda imediata nos investimentos em energia solar e armazenamento, com prejuízo estimado de até US$ 220 bilhões até 2030.
Outro efeito direto apontado pelo grupo é o aumento de US$ 51 bilhões no custo da eletricidade para os consumidores, resultado da diminuição da oferta de energia limpa e da retomada de fontes mais caras e poluentes.
A associação reforça que o impacto seria profundo em todo o sistema elétrico dos EUA, com queda de 145 TWh na geração de energia e possível incapacidade de atender à crescente demanda de centros de dados, data centers e tecnologias de inteligência artificial (IA), que exigem fornecimento estável e de alta capacidade.
Incentivos beneficiam regiões pró-Trump, diz associação
Curiosamente, a SEIA destacou que muitos dos investimentos realizados graças aos incentivos do IRA se concentraram em distritos que votaram no presidente Donald Trump. A análise também menciona que diversos legisladores republicanos já expressaram apoio à manutenção parcial dos subsídios à energia solar e ao armazenamento.
Entre os apoiadores da continuidade dos créditos está Neil Chatterjee, ex-presidente da Comissão Federal de Regulamentação de Energia (FERC), que defendeu abertamente que o Partido Republicano adote uma postura pragmática e preserve “políticas energéticas inteligentes”.
“A energia solar e o armazenamento estão adicionando capacidade à rede mais rápido do que todas as outras fontes combinadas”, afirmou a associação. “Se o Congresso cortar esses incentivos, os Estados Unidos não conseguirão atender à demanda e ficarão vulneráveis a apagões e à perda de liderança na corrida tecnológica global.”
Mobilização e pressão política contra o novo projeto de lei
Diante do cenário, a SEIA lançou um apelo público para que empresas, trabalhadores e defensores da energia limpa pressionem seus representantes no Congresso contra o avanço do projeto de lei. O grupo também iniciou diálogo com parlamentares da Câmara e do Senado para tentar preservar ao menos parte dos incentivos vigentes.
“O mercado por si só não é suficiente para manter essa indústria crescendo. A estabilidade regulatória é vital para o desenvolvimento de novas fábricas, novas tecnologias e geração de empregos”, concluiu Abigail Ross Hopper.
A decisão sobre o texto final da proposta dependerá da tramitação no Comitê de Regras e, posteriormente, da votação em plenário. A expectativa é que as próximas semanas sejam decisivas para o futuro da política energética dos EUA, especialmente no que diz respeito à energia solar, armazenamento, e à competitividade global do país em tecnologias de baixo carbono.