No extremo sul da maior metrópole do Brasil, um bairro pacato esconde um segredo cósmico sob os pés de seus moradores. O bairro Vargem Grande, em Parelheiros, está localizado dentro de uma verdadeira cratera de meteoro — a cratera de Colônia — uma das únicas formações do tipo habitadas no planeta.
Imagine viver sua rotina em um bairro comum e, de repente, descobrir que está morando dentro de uma cratera de impacto meteórico formada entre 5 e 36 milhões de anos atrás. Essa é a realidade dos moradores do bairro Vargem Grande, no distrito de Parelheiros, zona sul de São Paulo, a aproximadamente 40 km da Praça da Sé, marco zero da capital. A formação geológica onde o bairro foi construído é conhecida como cratera de Colônia, e só foi identificada nos anos 1960, após a análise de fotos aéreas e imagens de satélite.
Desde então, tem sido objeto de mais de 60 anos de estudos científicos, sendo hoje reconhecida internacionalmente como uma das poucas crateras habitadas do mundo. Veja também: A cidade no Brasil onde o chão cedeu, bairros sumiram do mapa e mais de 60 mil moradores foram forçados a fugir de casa
A descoberta do bairro construído em cratera
A existência do bairro construído em cratera cratera permaneceu um mistério até a década de 1960, quando cientistas começaram a suspeitar de sua origem ao analisarem imagens aéreas que mostravam um padrão circular incomum no relevo da região. Posteriormente, com a chegada das imagens de satélite, a estrutura ou a ser investigada mais a fundo.
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Com 3,6 quilômetros de diâmetro, 400 metros de profundidade e bordas que chegam a 120 metros de altura, a formação logo chamou a atenção da comunidade geológica. Inicialmente, acreditava-se que se tratava de uma depressão natural ou causada por processos vulcânicos, mas novas evidências apontaram em outra direção: o impacto de um meteoro ou cometa vindo do espaço.
Um pedaço do sistema solar em plena São Paulo – bairro construído em cratera
Pesquisas mais recentes, lideradas pelo geólogo Victor Velázquez, da USP, com apoio da Fapesp, confirmaram que a formação de fato se trata de uma cratera de impacto, resultante da colisão de um corpo celeste com a superfície terrestre.
Segundo Velázquez, o impacto ocorreu em alta velocidade, liberando uma quantidade gigantesca de energia, suficiente para abrir uma depressão de quilômetros de extensão. O local foi oficialmente reconhecido e incluído no Earth Impact Database, mantido pela Universidade de New Brunswick, no Canadá — a principal base de dados de crateras de impacto da Terra.
Até hoje, o banco de dados lista apenas 190 crateras de impacto confirmadas em todo o mundo, e apenas duas delas são ocupadas por seres humanos: a cratera de Colônia, no Brasil, e a cratera de Ries, no sul da Alemanha.
Vargem Grande: um bairro dentro da cratera
O bairro Vargem Grande, situado no centro da cratera, abriga centenas de famílias e uma paisagem que contrasta com o restante da metrópole. Cercado por vegetação nativa da Mata Atlântica, clima ameno e pouco trânsito, o local transmite a sensação de estar longe de São Paulo, mesmo sendo parte dela.
Apesar da grandeza da formação geológica, muitos moradores só souberam da existência da cratera nos anos 1990, quando as pesquisas foram divulgadas na mídia.
“Todo mundo ficou espantado com a notícia. Mas depois se acostumaram e hoje em dia têm até certo orgulho. O pessoal fala com orgulho que mora numa cratera de meteoro”, conta Ozéias, morador do bairro desde os anos 1980.
Patrimônio geológico e ambiental
Por sua importância científica e ambiental, a cratera de Colônia foi tombada em 2003 pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo) e, em 2009, recebeu o título de Monumento Geológico Estadual.
A área também é considerada patrimônio ambiental da cidade, protegida por leis que proíbem ocupações irregulares e incentivam ações de preservação. Parte da região está sendo transformada no Parque Nacional Cratera de Colônia, ainda em fase de implantação.
Curiosidades sobre a cratera de Colônia
A seguir, algumas curiosidades que tornam esse bairro ainda mais surpreendente:
- A cratera de Colônia foi formada entre 5 e 36 milhões de anos atrás, segundo estudos geológicos.
- A estrutura tem um formato quase perfeitamente circular, com 3,6 km de diâmetro, visível em mapas por satélite.
- É uma das únicas duas crateras habitadas no mundo.
- A área apresenta características únicas, como vegetação preservada, nascentes de água limpa e solo geologicamente distinto.
- Durante muitos anos, a origem do relevo foi atribuída a afundamentos naturais ou a um antigo lago, antes da comprovação do impacto celeste.
A cratera e a ciência: o que dizem os pesquisadores
A confirmação de que a cratera de Colônia é de origem meteórica só veio com análises mais detalhadas de rochas da região. Essas amostras mostraram evidências de metamorfismo de choque — uma transformação estrutural que ocorre apenas com a liberação de energia em impactos cósmicos.
Outros dados, como a presença de minerais deformados e a topografia circular simétrica, reforçaram a tese. Segundo os cientistas, o corpo celeste que causou o impacto tinha vários metros de diâmetro e chegou à Terra com velocidade de até 20 km por segundo.
Essa colisão liberou energia equivalente a milhares de bombas atômicas, criando o relevo que hoje serve de lar para moradores, escolas, comércios e vias públicas — tudo dentro da cicatriz deixada por um evento astronômico.
Turismo e conscientização
O bairro e a cratera de Colônia vêm atraindo a atenção de curiosos, estudantes, pesquisadores e até turistas interessados em geologia e astronomia. Diversas placas informativas e mirantes foram instalados, e visitas guiadas são oferecidas por projetos educativos locais.
A proposta do Parque Nacional Cratera de Colônia inclui a criação de centros de visitação, trilhas ecológicas, pontos de observação e programas de educação ambiental, tornando a região um polo de turismo científico e sustentável.
Para os moradores, a existência da cratera é motivo de curiosidade e, para muitos, de orgulho. Segundo relatos, a notícia sobre a origem meteórica inicialmente causou surpresa, mas acabou se tornando parte da identidade local.
A principal preocupação agora é com a preservação da área, diante do avanço urbano e da especulação imobiliária. Organizações civis e ONGs ambientais atuam em parceria com o governo estadual para proteger a cratera contra ocupações e construções irregulares.
Outras crateras de impacto no Brasil
O Brasil possui oito crateras de impacto catalogadas no Earth Impact Database. Veja algumas:
Nome da Cratera | Localização | Diâmetro (km) | Habitação |
---|---|---|---|
Colônia | São Paulo (SP) | 3,6 | Sim |
Araguainha | MT/GO | 40 | Não |
Serra da Cangalha | Tocantins | 13 | Não |
Vista Alegre | Paraná | 9,5 | Não |
Riachão | Maranhão | 4 | Não |
Cerro do Jarau | Rio Grande do Sul | 13 | Não |
São Miguel do Tapuio | Piauí | 20 | Não |
Vargeão | Santa Catarina | 12 | Não |