Com a evasão crescendo nos cursos de engenharia e o número de matrículas despencando no país, especialistas alertam para impactos estruturais e riscos futuros em setores fundamentais da economia, como infraestrutura, inovação tecnológica e energia, exigindo ações imediatas de todos os setores.
Nos últimos dez anos, o Brasil registrou uma queda expressiva nas matrículas em cursos de engenharia.
O número de ingressantes recuou de cerca de 469 mil em 2014 para 358 mil em 2023 – uma redução de 23%, conforme dados do Mapa do Ensino Superior, do Instituto Semesp.
Só na Engenharia Civil, o quadro é ainda mais gritante: de 358 mil alunos em 2015, esse número caiu para 172 mil em 2023, uma queda de 51%.
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A crise na engenharia no Brasil se manifesta em quase todas as áreas tradicionais do setor — como Produção, Mecânica, Elétrica, Eletrônica e Química.
Enquanto isso, apenas cursos voltados à tecnologia, como Engenharia de Computação e Engenharia de Software, continuam crescendo, impulsionados pela transformação digital.
Especialistas soam o alerta
“É um alerta que não pode ser ignorado”, enfatiza Marcos Massahiro Wada, engenheiro civil e presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos da Alta Noroeste (AEAN) em artigo publicado na entidade citada..
Ele aponta a instabilidade da carreira, a evasão precoce e a defasagem curricular como fatores que agravam a crise na engenharia no Brasil.
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a queda nas matrículas em engenharia já provocou um déficit de 75 mil profissionais entre 2014 e 2021.
Além disso, o país perdeu cerca de 150 mil estudantes nesse mesmo período.
Por que os jovens estão desistindo da engenharia?
A percepção de que a profissão perdeu prestígio e estabilidade tem afastado os jovens.
Muitos recém-formados encontram dificuldade de inserção no mercado formal, ou acabam migrando para outras áreas como gestão e tecnologia.
A dificuldade dos cursos também pesa.
Dados do Semesp mostram que a evasão em cursos presenciais privados de engenharia ultraa 39%.
“Muitos desistem nos primeiros semestres, desestimulados pela carga intensa das disciplinas”, afirma Wada.
Outro ponto central da crise na engenharia no Brasil está no desalinhamento entre o que as universidades oferecem e o que o setor produtivo exige.
Currículos engessados, pouca ênfase em inovação e sustentabilidade e ausência de práticas interdisciplinares afastam ainda mais os alunos.
Impactos estratégicos para o país
A queda nas matrículas em engenharia compromete diretamente a capacidade de o Brasil executar obras de infraestrutura, conduzir a transição energética e competir em setores como mobilidade urbana e tecnologia industrial.
Sem engenheiros qualificados, o país corre o risco de perder relevância em áreas estratégicas para o desenvolvimento nacional.
“Sem esses profissionais, não há avanço sustentável possível”, resume Wada.
Como reverter o cenário?
Especialistas defendem uma atuação coordenada entre governo, instituições de ensino e setor privado para conter a crise na engenharia no Brasil.
Wada propõe medidas como:
- Reformulação curricular conectada à indústria 4.0
- Estágios desde os primeiros anos
- Projetos práticos voltados à sustentabilidade
- Parcerias com empresas e centros de inovação
Além disso, políticas públicas de incentivo à permanência e valorização da carreira são essenciais.
Bolsas, mentorias e programas de incentivo podem contribuir para reverter a queda nas matrículas em engenharia.
Inspirações internacionais
Países como Coreia do Sul, Estados Unidos e China continuam a investir na formação de engenheiros como parte de suas estratégias de crescimento econômico.
O Brasil, em contraste, vive uma crise na engenharia que ameaça seu potencial de desenvolvimento.
Na sua visão, o que pode ser feito para tornar a engenharia novamente uma carreira atrativa e essencial para o futuro do país?