Apesar da fama do Titanic, o recorde de profundidade pertence ao USS Samuel B. Roberts, naufragado em combate e descoberto a 6.800 metros abaixo do nível do mar nas Filipinas.
Quando o assunto é naufrágio, o Titanic costuma ser o primeiro nome que vem à mente. Envolto em romance, tragédia, e décadas de fascínio cultural, o navio britânico que afundou em 1912 após colidir com um iceberg ainda ocupa um lugar de destaque no imaginário coletivo. No entanto, não é o mais profundo. O título de naufrágio mais profundo já registrado no mundo pertence ao USS Samuel B. Roberts, um navio de guerra dos Estados Unidos que repousa a impressionantes 6.800 metros de profundidade no fundo do oceano, de acordo com um comunicado oficial da Marinha dos Estados Unidos.
Para efeito de comparação, o Titanic está a cerca de 3.800 a 4.000 metros de profundidade, o que torna a descoberta do USS Samuel B. Roberts um feito técnico e histórico sem precedentes.
A história do USS Samuel B. Roberts
A embarcação era um contratorpedeiro de escolta da Marinha dos EUA e foi batizada em homenagem ao marinheiro Samuel Booker Roberts Jr., morto em ação durante a Segunda Guerra Mundial.
-
Pepsi virou a sexta maior potencia naval do mundo: trocou toneladas de concentrado de refrigerante por submarinos e destróieres
-
Virada de jogo nos estaleiros? Sinaval revela estratégias para um novo ciclo de ouro
-
Maersk completa sua frota pioneira de navios porta-contêineres a metanol e redefine o transporte marítimo
-
Novo navio da China movido a GNL e capacidade para 7.000 veículos inicia viagens à Europa
O USS Samuel B. Roberts, conhecido carinhosamente como “Sammy B”, lutou bravamente na Batalha de Samar, parte da maior Batalha do Golfo de Leyte, em 1944 — um dos maiores confrontos navais da Segunda Guerra Mundial.
Apesar de ser um navio relativamente pequeno e menos armado do que os oponentes, o “Sammy B” enfrentou forças japonesas muito superiores na costa das Filipinas. Mesmo sob pesado ataque, resistiu por horas, danificando embarcações inimigas e salvando outras unidades norte-americanas de um destino semelhante.
O heroísmo e a tragédia
Com 224 tripulantes a bordo, o USS Samuel B. Roberts resistiu até onde foi possível. Depois de esgotar seus torpedos e munições, o navio foi atingido por projéteis inimigos e acabou partindo ao meio antes de afundar.
89 marinheiros perderam a vida. Os sobreviventes aram mais de 50 horas à deriva em botes salva-vidas e foram resgatados sob condições extremas. O episódio é considerado um dos atos de bravura mais notáveis da história naval norte-americana, e o nome do navio permanece vivo na memória das Forças Armadas dos EUA como símbolo de coragem e sacrifício.
Descoberta a quase 7 mil metros
Os destroços do USS Samuel B. Roberts permaneceram ocultos nas profundezas do oceano por quase 80 anos, até serem localizados em junho de 2022, por meio de uma missão liderada pelo explorador e ex-oficial da Marinha dos EUA Victor Vescovo, conhecido por suas expedições em zonas abissais.
A operação utilizou submarinos robóticos e equipamentos de alta tecnologia para atingir profundidades extremas e mapear o leito oceânico na região das Filipinas, onde se sabia que o navio havia sido perdido.
O achado foi anunciado com grande emoção pela Marinha norte-americana, que o classificou como “um dos naufrágios mais profundos já encontrados e documentados”, e como um tributo aos heróis que serviram a bordo.
Abaixo do Titanic: o que a profundidade revela?
Enquanto o Titanic está localizado a cerca de 4.000 metros de profundidade no Oceano Atlântico Norte, o USS Samuel B. Roberts repousa 2.800 metros mais abaixo, na bacia oceânica próxima ao arquipélago filipino.
Isso equivale a quase 7 quilômetros abaixo do nível do mar — uma profundidade tão extrema que apenas veículos submersíveis altamente especializados podem operar com segurança nesses ambientes.
A profundidade, nesse caso, é mais do que um número impressionante: revela as limitações tecnológicas da época e os avanços que hoje permitem à humanidade explorar os recantos mais profundos do oceano, onde a pressão é centenas de vezes maior do que na superfície.
Pode haver naufrágios ainda mais profundos?
Apesar do título de “naufrágio mais profundo do mundo”, o caso do USS Samuel B. Roberts pode não ser único. A imensidão dos oceanos e os séculos de navegação sugerem que outras embarcações, ainda não identificadas, podem repousar a profundidades ainda maiores.
O próprio Victor Vescovo comentou que há áreas inexploradas nos oceanos que provavelmente escondem naufrágios de diferentes períodos históricos, de navios militares a embarcações comerciais.
Além disso, com o crescimento da tecnologia de mapeamento submarino e o interesse por arqueologia subaquática, novas descobertas podem surgir nas próximas décadas — inclusive em zonas hadais, aquelas localizadas a profundidades superiores a 6 mil metros.
Mais do que destroços: um legado
Mais do que apenas os restos metálicos de uma embarcação, o naufrágio do USS Samuel B. Roberts representa um legado de heroísmo e sacrifício. Ele remete a uma época em que jovens marinheiros arriscaram suas vidas em defesa de valores e nações, em meio à escuridão literal e simbólica da guerra.
A descoberta de seus destroços também é um lembrete das conquistas da ciência moderna, que agora permite ao ser humano explorar áreas do planeta até então iníveis — e, com isso, reescrever partes da história.
Enquanto o Titanic continuará sendo o naufrágio mais icônico da história moderna, envolto em glamour e tragédia, o USS Samuel B. Roberts é, incontestavelmente, o mais profundo já registrado — tanto em profundidade literal quanto no impacto simbólico para as Forças Armadas dos Estados Unidos.