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Conheça o navio que ‘cava’ o mar: Tian Kun Hao, a draga chinesa que escava 6 mil metros cúbicos por hora

Escrito por Valdemar Medeiros
17/05/2025 às 14:24
Atualizado 18/05/2025 às 17:30
Conheça o navio que ‘cava’ o mar - Tian Kun Hao, a draga chinesa que escava 6 mil metros cúbicos por hora
Foto: Draga chinesa

Capaz de escavar o equivalente a três piscinas olímpicas por hora e transportar o material por até 15 km, a Tian Kun Hao é a maior draga de sucção de corte da Ásia — e o símbolo de uma nova era geopolítica e tecnológica no Mar do Sul da China.

Batizada com o nome de uma criatura mítica chinesa, a Tian Kun Hao é mais que um navio — é uma poderosa ferramenta de engenharia e uma peça estratégica na disputa por influência marítima. Com 140 metros de comprimento, a embarcação foi projetada para escavar, sugar e transportar grandes volumes de areia e rocha do fundo do mar para criação de ilhas artificiais, portos e obras de infraestrutura costeira. Apelidada pela mídia estatal como o “criador mágico de ilhas”, ou navio que “cava” o mar, a draga Tian Kun Hao representa o que há de mais avançado na tecnologia de dragagem de sucção de corte, sendo capaz de trabalhar a 35 metros de profundidade e deslocar até 6 mil metros cúbicos de material por hora.

O que é uma draga de sucção de corte?

A Tian Kun Hao é classificada como uma draga de sucção com cortador (Cutter Suction Dredger – CSD), um tipo de navio que usa uma cabeça rotativa de corte para desintegrar sedimentos sólidos no fundo do mar, sugando o material por meio de tubos de sucção e enviando-o a grandes distâncias através de dutos ou lança direta.

No caso da Tian Kun Hao, esse sistema permite que o navio escave terra, areia, lama, cascalho, rocha coralina e sedimentos consolidados, tornando-a ideal tanto para engenharia civil quanto para uso militar.

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Seu diferencial está na capacidade de movimentar material a uma distância de até 15 km, o que a torna perfeita para formar novas ilhas, ampliar áreas costeiras ou construir portos sem necessidade de equipamentos adicionais.

Principais características da Tian Kun Hao

Créditos: CN NEWS
EspecificaçãoDetalhe
NomeTian Kun Hao
SignificadoNome mitológico (peixe que vira pássaro)
Tipo de navioDraga de sucção de corte
Comprimento140 metros
Capacidade de escavação6.000 m³ por hora
Profundidade de dragagemAté 35 metros abaixo do nível do mar
Alcance de transporteAté 15 km de distância
Materiais que pode escavarAreia, lama, rocha, coral, cascalho
Local de construçãoInstituto de Estudo Marítimo de Xangai
Empresa operadoraChina Harbour Engineering Company (CHEC)

Essa embarcação representa o auge da engenharia marítima chinesa e possui um dos maiores cortadores do mundo, reforçando a posição da China como potência em infraestrutura offshore.

Da engenharia à geopolítica: uma draga que incomoda

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A apresentação oficial da Tian Kun Hao ocorreu estrategicamente na véspera da visita do então presidente dos EUA, Donald Trump, à China, em um momento em que as tensões territoriais no Mar do Sul da China estavam em alta.

A embarcação despertou atenção mundial por sua potencial aplicação militar. Países como Filipinas, Vietnã, Malásia, Brunei e Taiwan acusam Pequim de usar dragas como a Tian Kun Hao para transformar recifes em bases artificiais — uma forma de expandir presença em áreas marítimas disputadas.

A principal preocupação recai sobre o Arrecife Scarborough, uma zona altamente sensível na região. Segundo analistas, o uso do navio para construir infraestrutura ali seria visto por muitos como uma “linha vermelha” em termos diplomáticos, podendo gerar forte reação internacional.

Como o navio “cria” uma ilha artificial?

A tecnologia da Tian Kun Hao permite literalmente esculpir e realocar o fundo do mar. O processo segue as seguintes etapas:

  • Corte do fundo marinho com o cortador rotativo na extremidade da embarcação.
  • Sucção de sedimentos, fragmentos de rochas e areia.
  • Transporte hidráulico por dutos que se estendem até 15 km da embarcação.
  • Depósito controlado do material em local predeterminado, criando volume e massa.
  • Compactação e estabilização, geralmente com uso de máquinas terrestres ou embarcações auxiliares.

Esse processo possibilita aumentar a área útil de território, alargar portos, construir zonas industriais costeiras e — como no caso chinês — estabelecer presença física em áreas marítimas contestadas.

A Tian Kun Hao nos Emirados Árabes

Em 2024, a draga chinesa foi enviada para Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, onde participa de um projeto de recuperação e dragagem da Ilha Hudayriyat.

O objetivo é transformar a ilha em um polo turístico e residencial de alto padrão, com marinas, resorts e vias de o ampliadas. A presença da Tian Kun Hao no Golfo Pérsico reforça o interesse global por sua capacidade técnica e sua importância como instrumento de influência da China no exterior.

O nome Tian Kun Hao é carregado de simbolismo. Ele remete à figura mitológica chinesa do “Kun”, um enorme peixe que se transforma no pássaro lendário “Peng”, capaz de voar por milhares de quilômetros.

Na prática, o nome representa a ideia de transformação e domínio sobre o espaço, tanto natural quanto territorial. É uma metáfora ideal para um navio que literalmente move terras oceânicas para criar novos espaços de soberania.

Por que a Tian Kun Hao gera tensão no Mar do Sul da China?

O Mar do Sul da China é uma das regiões mais disputadas do mundo. Riquíssimo em recursos naturais e vital para as rotas comerciais globais, ele é reivindicado por vários países asiáticos — mas a China afirma ter soberania sobre quase 90% da área, com base em mapas históricos.

A construção de ilhas artificiais é parte central dessa disputa. Desde 2014, a China vem transformando recifes e atolados em instalações militares com pistas de pouso, radares e sistemas de mísseis. E navios como a Tian Kun Hao são as ferramentas que tornam isso possível.

Segundo analistas internacionais, o lançamento público do navio com pompa e propaganda não foi apenas demonstração de tecnologia, mas uma declaração política de intenções.

Tecnologia avançada, mas com riscos ambientais

Apesar da eficiência, o uso extensivo de dragas como a Tian Kun Hao levanta preocupações ambientais sérias:

  • Destruição de recifes de coral, essenciais para biodiversidade marinha
  • Turbidez da água, que afeta a fotossíntese de organismos subaquáticos
  • Impacto na pesca artesanal, especialmente em regiões costeiras
  • Aumento de erosão, devido a alterações na dinâmica de sedimentos

ONGs ambientais e grupos de pesquisa alertam que a criação de ilhas artificiais pode gerar desequilíbrios ecológicos irreversíveis, especialmente se feita em larga escala, como no caso chinês.

A diferença entre dragagem civil e militar

A dragagem civil é amplamente utilizada em todo o mundo para expandir portos, aprofundar canais e combater o assoreamento de rios. Já a dragagem com fins militares ou geopolíticos, como no Mar do Sul da China, muda o equilíbrio estratégico em áreas disputadas.

A Tian Kun Hao pode ser usada em ambos os contextos, mas sua capacidade e alcance tornam a embarcação altamente sensível em regiões politicamente instáveis.

Tian Kun Hao, o navio que “cava” o mar, é um símbolo da ambição chinesa no domínio marítimo e da capacidade tecnológica do país em construir onde antes só havia oceano.

Com um desempenho que impressiona — escavando até 6 mil metros cúbicos por hora e lançando esse volume a até 15 km de distância —, a embarcação representa o que há de mais moderno na engenharia naval de dragagem.

Mas, além da engenharia, ela levanta debates sobre soberania, preservação ambiental, equilíbrio militar e expansão territorial. Um único navio, portanto, com poder suficiente para redesenhar o mapa — literal e politicamente.

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Valdemar Medeiros

Jornalista em formação, especialista na criação de conteúdos com foco em ações de SEO. Escreve sobre Indústria Automotiva, Energias Renováveis e Ciência e Tecnologia

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