Construído para cruzar mares gelados, o Lyubov Orlova virou navio-fantasma após se soltar no Atlântico. Localizado por satélite, desapareceu de novo — e nunca mais foi visto.
Em janeiro de 2013, o Lyubov Orlova, um antigo navio russo de cruzeiros polares, escapou do controle durante uma tentativa de reboque no Canadá e acabou à deriva no Oceano Atlântico sem qualquer tripulação a bordo. O caso chamou atenção mundial ao se tornar um raro exemplo documentado de navio-fantasma em águas modernas. Após dias desaparecido, o navio foi localizado por satélites. Depois, sumiu novamente — e nunca mais foi encontrado.
O episódio gerou uma onda de especulações, alimentadas por boatos de que ratos canibais poderiam estar a bordo ou que a embarcação havia sido vista anos depois em outras regiões. No entanto, registros oficiais indicam que o último sinal real do navio que desapareceu no meio do oceano foi detectado ainda em 2013, pouco tempo após sua soltura acidental.
De cruzeiro polar a embarcação encalhada por dívidas
O Lyubov Orlova foi construído em 1976 na antiga Iugoslávia para operar em regiões polares. Projetado para transportar turistas em cruzeiros no Ártico e na Antártida, o navio chegou a ser considerado seguro e confiável, com casco reforçado para navegar em mares gelados. Nomeado em homenagem à atriz soviética Lyubov Orlova, fez parte da frota russa de turismo marítimo por décadas.
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Após anos de serviço, o navio foi apreendido em 2010 no porto de St. John’s, no Canadá, devido a dívidas acumuladas pela operadora. Sem interessados em sua recuperação, ficou atracado por quase dois anos até que, em janeiro de 2013, foi decidido seu reboque para a República Dominicana, onde seria desmontado como sucata.
Solto no mar sem ninguém a bordo
Durante o trajeto de reboque, um cabo se soltou, e o Lyubov Orlova ficou à deriva no Atlântico Norte, completamente vazio. A embarcação ou a ser levada pelas correntes oceânicas, sem qualquer sistema de propulsão ou controle, tornando-se um risco à navegação internacional.
Nos dias seguintes, o navio foi monitorado por breves períodos, mas acabou saindo do alcance dos radares. O governo canadense, alegando que o navio estava fora de sua zona econômica exclusiva, optou por não realizar mais buscas. Àquela altura, o navio-fantasma ou a ser seguido apenas por imagens de satélite.
Último sinal e teorias sobre o destino do navio russo
Em fevereiro de 2013, um sinal de emergência do sistema EPIRB (baliza de emergência marítima) foi captado a mais de 1.300 quilômetros da costa da Irlanda. Isso indicava que a embarcação poderia estar afundando ou com entrada de água, ativando automaticamente os transmissores.
Depois disso, não houve mais qualquer contato ou detecção confirmada. Nenhum destroço foi recuperado, e nenhuma embarcação encontrou o Lyubov Orlova. O mais provável é que o navio tenha naufragado no Atlântico Norte, mas, sem vestígios, seu destino permanece oficialmente desconhecido.
Surgimento de boatos e fake news
A ausência de provas concretas alimentou uma série de histórias não verificadas. Algumas publicações chegaram a afirmar que o navio reapareceu anos depois próximo à Noruega, o que nunca foi confirmado. Outras versões mais sensacionalistas falavam em ratos canibais que teriam tomado o navio, vivendo e se reproduzindo a bordo — tese considerada absurda por especialistas, dada a falta de alimento e ambiente adequado à sobrevivência animal por tanto tempo.
O caso se tornou objeto de matérias em tabloides europeus e inspiração para obras de ficção e vídeos virais na internet. No entanto, todos os registros oficiais apontam que o último contato com o navio russo foi ainda em 2013.
Navio russo Lyubov Orlova: um caso raro na era da navegação monitorada
O desaparecimento do Lyubov Orlova contrasta com a realidade da navegação atual, em que embarcações são constantemente monitoradas por GPS, radar e satélites. Um navio de grande porte sumir sem deixar vestígios é algo incomum e inquietante para as autoridades marítimas.
Além disso, o episódio serviu como alerta para a crescente quantidade de navios abandonados aguardando desmontagem em diversos portos do mundo. A falta de fiscalização, a crise de empresas marítimas e o alto custo do desmonte legal fazem com que algumas embarcações sejam simplesmente “soltas” no mar, oferecendo risco ambiental e de colisões.
Legado do navio russo Lyubov Orlova
Apesar de seu desaparecimento, o Lyubov Orlova continua sendo lembrado como um dos casos mais notórios de navio-fantasma do século XXI. Sua história reúne elementos de descaso com embarcações obsoletas, falhas na responsabilidade marítima internacional e o fascínio humano por mistérios não resolvidos.
Enquanto não surgirem provas concretas de seu naufrágio ou localização, o caso do navio que desapareceu no meio do oceano permanece oficialmente em aberto — e segue alimentando o imaginário popular.