Quando pensamos no ponto mais seco da Terra, desertos quentes como o Saara ou o Atacama vêm à mente. Mas a ciência revela que os Vales Secos da Antártica, onde não chove (água líquida) há milênios, detêm esse título.
A busca pelo ponto mais seco da Terra nos leva a um dos ambientes mais inóspitos e fascinantes do planeta: os Vales Secos de McMurdo (VSM), na Antártica. Contrariando a percepção comum, esta região gélida supera os famosos desertos do Saara e do Atacama em certas métricas de aridez, com áreas onde não há registro de chuva líquida há milhares, ou mesmo milhões, de anos.
A crença popular aponta desertos quentes como o Saara ou o Atacama como os locais mais secos. No entanto, evidências científicas robustas indicam que os Vales Secos de McMurdo, na Antártica, representam um dos ambientes mais áridos da Terra.
A noção de “mais seco” aqui é multifacetada, envolvendo baixíssima umidade atmosférica, precipitação mínima (quase toda como neve) e um frio intenso que imobiliza a água. Em algumas áreas específicas dos VSM, acredita-se que não ocorra chuva líquida há milênios.
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O que são os Vales Secos de McMurdo?
Situados na Terra de Vitória, a oeste do Estreito de McMurdo, os Vales Secos de McMurdo cobrem cerca de 4.800 km², constituindo a maior região relativamente livre de gelo da Antártica. Essa característica, por si só, é uma anomalia.
A paisagem é dominada por um substrato rochoso de granitos e gnaisses, com depósitos glaciais e uma cobertura de cascalho, onde se observa solo poligonal formado por ciclos de congelamento e degelo (polígonos de cunhas de gelo).
Como os Vales Secos se mantêm tão incrivelmente áridos?
A aridez excepcional dos VSM resulta de uma combinação de fatores:
- Ventos Catabáticos: Ar frio e denso do planalto polar antártico é puxado pela gravidade para os vales. Ao descer, aquece adiabaticamente, e sua umidade relativa diminui drasticamente. Esses ventos, que podem atingir 320 km/h, atuam como “secadores naturais”, sublimando neve e gelo (convertendo-os diretamente de sólido para gás) e removendo umidade.
- Efeito de Sombra de Chuva: As Montanhas Transantárticas, com até 1,6 km de altura, bloqueiam o fluxo de gelo e interceptam o ar úmido do oceano, forçando a precipitação no lado de barlavento e deixando os vales a sotavento em uma “sombra de precipitação”.
- Baixas Temperaturas e Umidade: As temperaturas médias anuais nos vales variam de -15°C a -30°C. Ar frio retém muito menos vapor d’água que ar quente, e o ar seco e frio dos VSM absorve avidamente qualquer umidade superficial.
Entendendo a natureza da precipitação no verdadeiro ponto mais seco da Terra
Apesar da reputação, os VSM recebem alguma precipitação, inferior a 100 mm anuais e quase exclusivamente como neve, que raramente se acumula devido à sublimação. A alegação de “ausência de chuva por milhões de anos” refere-se à chuva líquida.
É plausível que em áreas específicas, como as Colinas Friis (onde condições podem ter permanecido constantes por 14-20 milhões de anos) ou o Vale Universidade, não tenha ocorrido chuva líquida por períodos geológicos.
Gelo no permafrost do Vale Universidade origina-se da deposição de vapor atmosférico, não de água líquida. A distinção é crucial: a aridez extrema é definida pela baixa precipitação e pelo estado congelado ou rápido desaparecimento dessa água.
Vales Secos da Antártica vs. Desertos do Atacama e Saara
Comparando os VSM com outros desertos famosos:
- Vales Secos de McMurdo: Deserto polar, frio extremo, água quase toda indisponível biologicamente.
- Deserto do Atacama: O deserto não polar mais seco, com precipitação média de 10-15 mm (algumas áreas com 0,5 mm/ano ou sem chuva registrada por séculos). Pode ter nevoeiro costeiro (camanchaca).
- Deserto do Saara: Maior deserto quente, precipitação média mais alta e variável (geralmente <100 mm a 250 mm), com chuvas e trovoadas ocasionais. Enquanto o Atacama tem recordes de baixíssima chuva líquida medida, os VSM apresentam aridez extrema pela combinação de frio e mecanismos que removem ou imobilizam a umidade.
A importância científica dos Vales Secos da Antártica
Apesar das condições hostis, os VSM abrigam vida, predominantemente microbiana (extremófilos). Cianobactérias, algas, líquenes e bactérias colonizam solos, o interior de rochas (criptoendólitos), riachos efémeros de degelo e lagos hipersalinos permanentemente cobertos de gelo (como os lagos Vanda e Bonney, e a Lagoa Don Juan, possivelmente a mais salina da Terra). As Cataratas de Sangue, um fluxo de salmoura rica em ferro do Glaciar Taylor, revelam um ecossistema subglacial anaeróbio.
Estudos em áreas mais extremas, como o Vale Universidade e as Colinas Friis, mostram biomassa e atividade microbiana baixíssimas ou ausentes, ajudando a definir os limites da vida. Devido ao frio, secura e outras características, os VSM são considerados pela NASA o ambiente terrestre mais próximo de Marte, servindo como um análogo crucial para testar instrumentos e estratégias para a busca de vida extraterrestre.