1. Início
  2. / Construção
  3. / O prédio mais fino do mundo custou US$ 2 bilhões e desafia a gravidade com seus 435 metros — mas vive quase vazio no coração de Nova York
Tempo de leitura 6 min de leitura Comentários 0 comentários

O prédio mais fino do mundo custou US$ 2 bilhões e desafia a gravidade com seus 435 metros — mas vive quase vazio no coração de Nova York

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 03/06/2025 às 10:39
O prédio mais fino do mundo custou US$ 2 bilhões e desafia a gravidade com seus 435 metros — mas vive quase vazio no coração de Nova York
Foto: Reprodução – Curiosa Engenharia

Conheça a torre Steinway, o prédio mais fino do mundo, que custou US$ 2 bilhões e virou símbolo do luxo vazio em Manhattan. Um ícone arquitetônico que enfrenta o fantasma dos imóveis vazios em Nova York.

No skyline de Nova York, onde arranha-céus disputam atenção há mais de um século, um edifício se destaca não pela altura absoluta, mas pela ousadia de sua forma: a torre Steinway, oficialmente chamada de 111 West 57th Street. Este colosso arquitetônico é reconhecido como o prédio mais fino do mundo, com uma proporção largura-altura de 1:24. Mas apesar da engenharia extraordinária, do investimento bilionário e da localização privilegiada na chamada “Billionaires’ Row”, a torre enfrenta uma ironia brutal: está quase vazia.

O projeto que pretendia atrair bilionários e investidores globais transformou-se em símbolo do excesso — e do fracasso — do mercado imobiliário de alto padrão nos Estados Unidos. Imóveis vazios em Manhattan, especialmente em edifícios ultraluxuosos, tornaram-se o novo normal, levantando questões sobre sustentabilidade urbana, desigualdade e o futuro das grandes metrópoles.

O arranha-céu Nova York mais esguio do mundo

Com 435 metros de altura e apenas 17,5 metros de largura em sua base, a torre Steinway foi projetada para ser uma combinação entre o clássico e o moderno. O edifício incorpora o histórico Steinway Hall, antigo showroom da icônica marca de pianos, cuja fachada em estilo Beaux-Arts foi restaurada e integrada ao projeto principal.

Dia
Baratíssimo
📱 Smartphones poderosos com preços e descontos imperdíveis!
Ícone de Episódios Comprar
YouTube Video

O projeto arquitetônico é assinado pelo prestigiado escritório SHoP Architects, enquanto a construção ficou a cargo da JDS Development Group e da Property Markets Group (PMG). A torre abriga apenas 60 unidades residenciais, cada uma delas ocupando andares inteiros ou grandes metragens horizontais com vista panorâmica para o Central Park e a cidade.

A proporção extrema de 1:24 — ou seja, a altura é 24 vezes maior que a largura — faz da torre Steinway um caso único na engenharia civil moderna. O prédio mais fino do mundo desafia não apenas limites arquitetônicos, mas também os ventos intensos de Manhattan, utilizando sofisticados sistemas de contrapeso para garantir estabilidade.

O custo da exclusividade: US$ 2 bilhões

Segundo levantamento do New York Times e da CNN Business, o custo estimado da torre Steinway ultraa os US$ 2 bilhões, tornando-se um dos projetos residenciais mais caros já construídos em Nova York. Cada unidade de alto padrão foi inicialmente avaliada entre US$ 20 milhões e US$ 60 milhões, com coberturas (penthouses) superando a marca dos US$ 100 milhões.

Esse valor se justificaria, segundo os desenvolvedores, pelo acabamento artesanal, materiais nobres como mármore, mogno e bronze dourado, e serviços exclusivos como concierge 24h, spa, piscina coberta, academia e garagens privativas subterrâneas.

Contudo, o contexto econômico mudou. A pandemia da Covid-19, seguida de inflação global e retração nos investimentos de luxo, afetou drasticamente a procura por imóveis ultracaros. Isso se refletiu nos dados de vendas da torre, que acumula dezenas de unidades sem comprador, mesmo após inauguração parcial em 2021.

Imóveis vazios em Manhattan: um problema estrutural

A torre Steinway não está sozinha. Segundo relatório da Douglas Elliman Real Estate, publicado em parceria com o economista Jonathan Miller, o estoque de imóveis de luxo sem ocupação em Manhattan atingiu níveis históricos entre 2022 e 2024. Edifícios da chamada “Billionaires’ Row”, como o One57, o 432 Park Avenue e o Central Park Tower, sofrem com o mesmo fenômeno: preços altíssimos, ocupação mínima.

Os dados mais recentes apontam que cerca de 45% das unidades na Steinway Tower continuam vazias ou listadas para revenda com desconto, muitas delas com valores 15% a 30% abaixo do preço original. Algumas coberturas foram retiradas de listagens por absoluta ausência de propostas.

Este cenário evidencia uma disfunção no mercado imobiliário de luxo: imóveis são concebidos como ativos financeiros e não como moradias. Muitas unidades são adquiridas por investidores estrangeiros para fins de especulação, permanecendo desocupadas por tempo indeterminado. Isso cria uma “cidade fantasma vertical”, onde edifícios suntuosos coexistem com ruas sem movimento.

YouTube Video

Luxo que não se paga: custos de manutenção e taxas altíssimas

Além do preço de aquisição, viver em um arranha-céu Nova York como a torre Steinway envolve despesas mensais que beiram o absurdo. Taxas de condomínio ultraam facilmente os US$ 10 mil por mês, somadas a impostos prediais e custos de manutenção que desestimulam até mesmo os mais ricos.

De acordo com a CNN Business, a manutenção da infraestrutura — incluindo elevadores de alta velocidade, sistemas antivibração, segurança, staff completo e manutenção de áreas comuns — exige uma base mínima de moradores ativos para ser viável economicamente. Com a baixa ocupação, os custos se tornam insustentáveis até para incorporadoras.

A engenharia por trás do prédio mais fino do mundo

A Steinway Tower não é apenas uma peça de luxo, mas também uma obra-prima da engenharia contemporânea. Seu esqueleto estrutural inclui:

  • Um núcleo central de concreto armado com espessura superior a 1 metro;
  • Pilares laterais com ligas metálicas especiais para resistir à pressão dos ventos;
  • Um sistema de amortecimento no topo do edifício com contrapesos móveis (tuned mass damper) para evitar oscilações.

A fachada alterna vidro espelhado e terracota, criando uma estética verticalmente segmentada que homenageia os arranha-céus clássicos da década de 1920 — mas com materiais e tecnologia do século XXI.

A altura total de 1.428 pés (ou 435 metros) faz com que a torre seja o terceiro edifício residencial mais alto do mundo e o segundo em Nova York, atrás apenas da Central Park Tower. Mas é a esbelteza extrema que transforma a torre em um fenômeno global.

Torre Steinway e a crítica urbana

Críticos como Michael Kimmelman, do New York Times, e especialistas do Council on Tall Buildings and Urban Habitat (CTBUH) apontam que edifícios como a torre Steinway representam um modelo de urbanismo excludente, voltado para poucos e ignorando as necessidades do tecido social da cidade.

Enquanto Nova York enfrenta uma crise habitacional severa, com mais de 60 mil pessoas em situação de rua, arranha-céus com dezenas de andares permanecem às escuras à noite, um retrato da desigualdade crescente e do descolamento entre mercado imobiliário e sociedade.

A torre, embora bela e inovadora, tornou-se símbolo dessa contradição: um monumento ao capital especulativo, mais voltado para fundos soberanos e investidores estrangeiros do que para residentes reais.

O futuro da torre Steinway: recuperação ou reconfiguração?

Apesar das dificuldades, especialistas não descartam uma reversão gradual do cenário. Com a estabilização econômica pós-pandemia, reprecificação dos imóveis e possível flexibilização de uso (como aluguéis de médio prazo ou reconfiguração interna), a torre Steinway ainda pode se recuperar parcialmente.

Projetos similares já aram por reposicionamento. O One57, por exemplo, lançou campanhas agressivas com descontos e planos de pagamento flexíveis para estimular vendas. A reconfiguração de imóveis de luxo como espaços corporativos híbridos também está em estudo.

Entretanto, analistas como Jonathan Miller alertam que o modelo baseado em preços astronômicos, baixa densidade e público ultrar parece ter alcançado seu pico de viabilidade. Para muitos, a torre Steinway continuará como um lembrete vertical da bolha imobiliária do século XXI.

Um colosso vazio e uma lição global

A torre Steinway, o prédio mais fino do mundo, é uma maravilha da arquitetura e da engenharia moderna. Ela representa o ápice técnico da construção civil vertical — mas também o limite prático do mercado imobiliário voltado para poucos.

Seu custo de US$ 2 bilhões e a atual baixa ocupação refletem um modelo que, embora esteticamente deslumbrante, não é sustentável. No coração de Manhattan, a torre se impõe como símbolo de um paradoxo: luxo absoluto e abandono silencioso coexistem em um dos terrenos mais valorizados do planeta.

Se Nova York quiser preservar sua identidade vibrante e inclusiva, será necessário repensar o papel desses arranha-céus. E o mundo, atento, observa o destino dessa torre esguia como um espelho de seus próprios dilemas urbanos.

Inscreva-se
Entre com
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais antigos
Mais recente Mais votado
s
Visualizar todos comentários
Valdemar Medeiros

Jornalista em formação, especialista na criação de conteúdos com foco em ações de SEO. Escreve sobre Indústria Automotiva, Energias Renováveis e Ciência e Tecnologia

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x