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Mente em branco — o que acontece no seu cérebro quando a mente fica em branco, segundo a ciência

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 26/04/2025 às 09:59
mente em branco
Foto: REPRODUÇÃO IA

Estudo revela que o apagamento mental não é falha de pensamento, mas um estado cerebral específico, com implicações para saúde mental e consciência.

Em um dia comum, os pensamentos saltam de um tema a outro — listas de compras, prazos, músicas repetitivas. Mas, em certos momentos, eles cessam completamente, ficando com a mente em branco.

Essas pausas são conhecidas como “mente em branco“. Apesar de serem reconhecidas no dia a dia, também foram, muitas vezes, vistas como lapsos de memória.

Um novo estudo conduzido por Thomas Andrillon e colegas propõe algo diferente. A mente em branco pode ser um estado consciente distinto e quantificável.

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Um vazio dentro da consciência

Normalmente, a mente é comparada a um rio em constante fluxo de pensamentos — lembranças, planejamentos, reflexões. Sempre se acreditou que algo estivesse circulando nesse fluxo. Porém, esse novo estudo sugere que, às vezes, o rio simplesmente seca.

Pesquisadores tratavam a mente em branco como parte da divagação mental, aqueles momentos de distração em que os pensamentos se desviam da tarefa atual. Mas Andrillon e seus colegas propõem que o branqueamento mental é algo separado.

Na divagação, há pensamentos presentes, mesmo que desconectados. No branqueamento, não há pensamento algum.

Pessoas relatam sentir-se mais sonolentas e lentas durante o branqueamento. Também são mais propensas a cometer erros. Estima-se que amos entre 5% e 20% do tempo acordados nesse estado, percebendo ou não.

Esses episódios aparecem mais durante tarefas repetitivas, após noites mal dormidas ou após exercícios físicos intensos. As pistas são sutis: lapsos de atenção, esquecimento de informações e silenciamento repentino do monólogo interno.

Diversos tipos de apagamento mental

Segundo o estudo, existem vários tipos de branqueamento mental. Algumas pessoas entram nesse estado deliberadamente, como ocorre durante práticas de meditação.

Outras chegam lá involuntariamente. Em alguns casos, a pessoa percebe a mente em branco no momento em que acontece. Em outros, apenas ao lembrar depois.

Esses brancos tendem a ser mais frequentes quando estamos cansados, sonolentos ou após esforço físico.

Em testes laboratoriais, foram associados a comportamentos mais lentos e reações mais demoradas. Mudanças fisiológicas também acompanham: a frequência cardíaca diminui e as pupilas se contraem.

Antoine Lutz, do Centro de Pesquisa em Neurociência de Lyon, destacou que o objetivo é entender melhor como o branqueamento mental se relaciona com outras experiências semelhantes, como estados meditativos.

O que acontece no cérebro durante o branco

Para estudar o fenômeno, os cientistas usaram exames como EEG e fMRI. Eles observaram um aumento de ondas lentas no cérebro, parecido com o início do sono, mesmo com os participantes acordados e responsivos. Isso foi descrito como “sono local” — uma espécie de desligamento parcial do cérebro enquanto o restante permanece desperto.

Pouco antes de a mente ficar em branco, foram registradas mudanças: batimentos cardíacos diminuem, pupilas se contraem e a percepção do ambiente se torna difusa.

Quando os participantes eram instruídos a esvaziar suas mentes, áreas relacionadas à fala, memória e planejamento motor, como a área de Broca e o hipocampo, mostravam desativação.

Além disso, os cientistas notaram uma conectividade mais uniforme entre as regiões cerebrais, diferente do padrão comum, que é mais especializado. Essa comunicação igualitária pode estar ligada a níveis reduzidos de vigilância.

Curiosamente, nem todos os brancos ocorrem da mesma forma. Em alguns casos, picos de atividade neural nas regiões posteriores do cérebro precederam o apagamento. Isso indica que uma sobrecarga de pensamento rápido também pode levar ao estado de branco.

Os pesquisadores sugerem que a excitação cerebral — ou o nível de prontidão fisiológica — pode ser a chave para entender os diferentes caminhos que levam ao branqueamento mental. Quando a excitação é muito alta, há esgotamento. Quando é muito baixa, há sonolência. Em ambos os casos, a mente se aquieta.

Reflexões filosóficas sobre o vazio

O estudo também discute o branqueamento mental sob uma perspectiva filosófica. Pode um estado sem conteúdo ainda ser uma experiência consciente?

Muitas tradições meditativas dizem que sim. Praticantes descrevem a “consciência pura” como a ausência de pensamento, mas com forte presença consciente.

Os pesquisadores traçam paralelos entre o branqueamento mental e esses estados meditativos, embora ressaltem diferenças: a meditação é, em geral, deliberada, enquanto o branqueamento é muitas vezes involuntário.

Apesar dessas diferenças, a comparação é instigante. Ao contrastar diferentes formas de consciência, os cientistas buscam identificar as características que distinguem estados sem conteúdo daqueles carregados de pensamentos.

Thomas Andrillon, autor principal do estudo, enfatiza que a pesquisa é importante para desafiar a noção de que a mente acordada está sempre pensando. Ele também destaca como o branqueamento mental revela as diferenças individuais nas experiências subjetivas.

Estudo publicado em 24 de abril na revista Trends in Cognitive Sciences.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail [email protected].

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