Conheça o submarino nuclear da classe Ohio, considerado o submarino mais poderoso do mundo, capaz de lançar armas nucleares com precisão — mas cujo custo exorbitante forçou cortes na produção pela própria marinha.
No coração do oceano, longe dos radares e olhos humanos, navega uma das mais letais criações da engenharia militar moderna: o submarino nuclear da classe Ohio. Concebido pelos Estados Unidos em plena Guerra Fria, ele é considerado por especialistas como o submarino mais poderoso do mundo — uma verdadeira fortaleza submersa capaz de lançar um apocalipse nuclear com um simples comando. Mas apesar de seu poder incomparável, o custo de desenvolvimento e manutenção dessa frota é tão alto que até mesmo os Estados Unidos, maior potência militar do planeta, decidiram reduzir pela metade o número inicialmente previsto de unidades.
O que torna a classe Ohio o símbolo máximo do poder militar submarino?
O papel estratégico da classe Ohio é claro: garantir a sobrevivência do arsenal nuclear americano em qualquer cenário. Seus submarinos compõem o braço marítimo da tríade nuclear — ao lado dos mísseis terrestres e bombardeiros estratégicos — e são projetados para permanecerem ocultos por meses nos oceanos, prontos para responder a qualquer ameaça existencial ao país com retaliação total.
O segredo da sua eficácia está em sua furtividade, mobilidade e capacidade destrutiva. Ao contrário das bases fixas, fáceis de serem alvejadas em um ataque nuclear surpresa, esses submarinos podem estar em qualquer lugar do planeta — e ninguém, nem mesmo aliados dos EUA, sabe onde estão.
-
O carro que tinha tudo para dar certo, mas o público não entendeu ou a montadora errou feio
-
O navio gigante que ‘engole’ plataformas de petróleo inteiras: 382 metros e capacidade para levantar 48.000 toneladas em alto mar
-
Entrou para o Guinness Book: a maior rota de ônibus do mundo atravessa 30 cidades e começa no Brasil rumo ao Peru
-
6 profissões que não precisam de diploma e estão pagando muito mais do que você imagina
Submarino nuclear classe Ohio: características técnicas e operacionais
O submarino nuclear da classe Ohio impressiona por suas dimensões colossais e autonomia praticamente ilimitada. Seu reator nuclear do tipo S8G permite missões que duram até 90 dias sem necessidade de reabastecimento.
Especificações principais (fonte: US Navy):
- Comprimento: 170 metros
- Largura: 13 metros
- Deslocamento submerso: 18.750 toneladas
- Velocidade submersa: superior a 20 nós
- Profundidade operacional: classificada, mas estimada em até 300 metros
- Propulsão: reator nuclear S8G + turbinas a vapor
- Tripulação: cerca de 155 militares (revezamento entre duas equipes: Blue e Gold)
Esse modelo foi produzido entre 1976 e 1997. Inicialmente, a Marinha americana pretendia construir 24 unidades, mas devido aos custos envolvidos e ao fim da Guerra Fria, o total foi reduzido para 18.
Dessas, 14 continuam armadas com mísseis balísticos Trident II D5, enquanto outras 4 foram convertidas para transportar mísseis de cruzeiro Tomahawk e forças de operações especiais.
Um arsenal capaz de aniquilar continentes
Cada submarino da classe Ohio do tipo SSBN é armado com 24 mísseis Trident II D5, considerados os mais precisos e potentes mísseis balísticos lançados de submarino no mundo. Cada Trident pode carregar até 14 ogivas nucleares independentes (MIRVs), com potência de até 475 quilotons por ogiva — cerca de 30 vezes a bomba de Hiroshima.

Isso significa que um único submarino da classe Ohio pode carregar até 336 ogivas nucleares, com capacidade para destruir dezenas de cidades simultaneamente em menos de 30 minutos.
Em termos de poder destrutivo e capacidade de penetração em sistemas de defesa inimigos, nenhum outro sistema atualmente em operação supera a combinação Ohio + Trident II D5.
Por que os EUA cortaram a produção pela metade?
Apesar da importância estratégica, o custo exorbitante da classe Ohio sempre gerou preocupações internas. O custo unitário ultraava US$ 2,9 bilhões em valores atualizados. Ao todo, o programa consumiu mais de US$ 50 bilhões, sem contar os gastos operacionais e de manutenção ao longo de décadas.
Com o fim da Guerra Fria, o governo americano optou por congelar o programa em 18 unidades — cancelando as 6 restantes — e redirecionar recursos para a modernização de submarinos já existentes e o desenvolvimento de novas tecnologias como a classe Columbia, que deverá substituir a Ohio a partir de 2031.
Segundo o Congressional Research Service (CRS), a decisão representou um equilíbrio entre segurança nacional e responsabilidade fiscal em tempos de menor tensão geopolítica.
A classe Columbia: sucessora natural
A classe Columbia será a nova geração de submarinos nucleares balísticos da Marinha dos EUA. O plano atual é construir 12 unidades, suficientes para manter a dissuasão estratégica, mas com melhorias substanciais em termos de furtividade, durabilidade e redução de custos operacionais.
Cada Columbia deverá custar cerca de US$ 9,4 bilhões, com custo total do programa estimado em mais de US$ 110 bilhões. Eles contarão com reatores nucleares de vida útil completa (não exigirão reabastecimento durante todo o ciclo de vida), novas tecnologias de redução de ruído e automação avançada.
A previsão é que o primeiro Columbia entre em serviço em 2031, substituindo gradualmente os Ohio ao longo das próximas décadas.
A rivalidade silenciosa com a Rússia: classe Borei
A Rússia, por sua vez, desenvolveu a classe Borei, sua resposta à classe Ohio. Apesar de serem submarinos nucleares balísticos modernos, os Borei têm menos capacidade de carga e alcance de mísseis mais limitado.
Características da classe Borei (fonte: Ministério da Defesa da Rússia):
- Comprimento: 170 metros
- Deslocamento submerso: 24.000 toneladas
- Propulsão: reator nuclear OK-650
- Mísseis: 16 RSM-56 Bulava, com ogivas nucleares MIRV
- Tripulação: cerca de 107 militares
Embora o desempenho russo seja notável, a avaliação de analistas do Defense News e do FAS (Federation of American Scientists) aponta que os submarinos americanos da classe Ohio ainda superam os Borei em silêncio, tempo de patrulha, integração com sistemas aliados e, principalmente, precisão e confiabilidade dos mísseis Trident II D5.
O papel dos submarinos na doutrina de dissuasão nuclear
A doutrina de dissuasão nuclear baseada em submarinos — conhecida como second-strike capability — é fundamental para manter o equilíbrio de poder. Mesmo que um país sofra um ataque nuclear massivo e perca parte significativa de sua infraestrutura e forças armadas, seus submarinos ocultos em patrulha têm capacidade de reagir com força devastadora.
Esse conceito foi desenvolvido durante a Guerra Fria e continua válido no século XXI. Segundo a própria US Navy, sempre há submarinos armados em patrulha ativa — em localizações sigilosas — prontos para responder em questão de minutos a qualquer agressão.
Os submarinos da classe Ohio operam com um sistema de revezamento entre duas tripulações (Blue e Gold), o que permite manter os navios em patrulha praticamente sem interrupções. Cada missão dura entre 70 e 90 dias, seguida por manutenção e troca de equipe.
Além disso, os reatores nucleares são substituídos apenas uma vez durante toda a vida útil do submarino, o que reduz drasticamente o tempo fora de operação.
A cada ciclo, sistemas de comunicação, sonares e plataformas de lançamento são atualizados para garantir superioridade tecnológica — incluindo integração com satélites e redes táticas navais e aéreas.
Críticas e preocupações ambientais
Apesar de sua importância estratégica, a classe Ohio não está isenta de críticas. Diversos grupos ambientais e especialistas alertam para os riscos que envolvem a operação de reatores nucleares submersos e o impacto ambiental em caso de acidente.
Além disso, há questionamentos éticos sobre a manutenção de arsenais com capacidade para destruir a civilização várias vezes. O alto custo do programa também levanta debates internos nos EUA sobre a prioridade dada ao setor militar em detrimento de políticas sociais.
Por outro lado, estrategistas argumentam que a existência de submarinos como os da classe Ohio é justamente o que evita guerras nucleares, por meio da dissuasão e do equilíbrio entre potências.
A classe Ohio representa o que há de mais letal, furtivo e tecnologicamente avançado na história dos submarinos nucleares. Seu papel como pilar da dissuasão estratégica dos EUA está consolidado há mais de 40 anos. Mesmo com os altos custos e a polêmica que envolvem sua operação, a frota continua sendo vista como uma das garantias de estabilidade geopolítica global.
O submarino mais poderoso do mundo não é apenas uma arma — é um símbolo silencioso de um equilíbrio frágil que mantém o mundo à beira da destruição, mas também longe dela. E, enquanto a classe Columbia se prepara para tomar seu lugar, os Ohio continuam a navegar em silêncio, prontos para agir em segundos — mas torcendo para nunca precisarem.
Fontes oficiais:
- United States Navy – Official Website
- Federation of American Scientists (FAS)
- Defense News
- Ministério da Def
- esa da Rússia / RT