A John Deere, marca icônica no agronegócio, enfrenta descontentamento de proprietários de seus tratores e equipamentos devido a novas estratégias de mercado. Entenda a controvérsia.
A John Deere, fabricante norte-americana de equipamentos agrícolas, é uma presença dominante nas lavouras globais há quase dois séculos. Seus tratores, colheitadeiras e outros implementos se tornaram sinônimos de confiança e ferramentas indispensáveis para muitos produtores rurais. Essa parceria histórica, que impulsionou a produção agrícola, agora enfrenta um período de tensão.
Nos últimos anos, a empresa adotou estratégias que geraram revolta entre agricultores, especialmente nos Estados Unidos. Acusações sérias e batalhas judiciais ameaçam a relação de longa data e podem impactar a posição da John Deere no mercado. Este artigo explora as razões desse descontentamento e as possíveis consequências para a gigante dos equipamentos verdes.
A ascensão da John Deere: de arados revolucionários a gigante do agro
A história da John Deere iniciou em 1837, quando o ferreiro John Deere criou um arado de aço polido revolucionário. Essa inovação resolveu um problema crônico dos agricultores de Illinois, cujo solo pegajoso exigia paradas constantes para limpeza dos arados de ferro fundido. O arado autolimpante de Deere permitiu maior eficiência, e em poucos anos, ele já vendia mais de mil unidades anualmente.
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Após o falecimento de John Deere em 1886, a empresa continuou crescendo. Embora tenha se aventurado brevemente na fabricação de bicicletas na década de 1890, logo se concentrou em equipamentos agrícolas. Para competir com empresas como a International Harvester, a John Deere entrou na fabricação de tratores em 1912 e, em 1927, lançou sua primeira colheitadeira. Com isso, consolidou-se como marca preferida e essencial para a agricultura em várias partes do mundo.
Tecnologia nos tratores da John Deere
A John Deere sempre buscou inovações, e com a chegada da tecnologia ao campo, investiu maciçamente na modernização de suas máquinas. Os tratores da John Deere e outros equipamentos aram a incorporar sensores e computadores, tornando-se cada vez mais autônomos e eficientes. Um diretor da empresa chegou a afirmar que a John Deere possuía mais engenheiros de software do que mecânicos.
Essa modernização, embora tenha melhorado a produtividade, também gerou os primeiros descontentamentos. As novas tecnologias permitiram que os tratores da John Deere coletassem dados detalhados da produção em tempo real, mas também levantaram questões sobre o controle e uso dessas informações, além de mudar radicalmente a forma como a manutenção dos equipamentos é realizada.
A controvérsia da coleta de dados da produção agrícola
Os modernos equipamentos da John Deere não apenas colhem produtos agrícolas, mas também uma vasta quantidade de dados sobre a produção. Informações como toneladas colhidas e produtividade por hectare são enviadas diretamente para os servidores da empresa. Os agricultores não possuem controle sobre esses dados e temem que possam ser compartilhados com bancos ou intermediários, prejudicando-os.
Até o momento, não há confirmação de vazamento de dados pela John Deere. No entanto, o receio sobre a privacidade e o uso potencial dessas informações valiosas é uma fonte de preocupação para uma parcela dos proprietários dos equipamentos verdes.
O monopólio da manutenção: o epicentro da revolta dos fazendeiros
O principal foco do descontentamento dos agricultores com os tratores da John Deere reside na manutenção dos equipamentos mais novos. Historicamente, os clientes eram livres para reparar suas máquinas onde preferissem, inclusive por conta própria. Com a crescente tecnologia embarcada, a John Deere adotou uma estratégia similar à da Apple e Tesla, restringindo o reparo a centros oficiais.
Isso significa que ferramentas de diagnóstico são exclusivas dos revendedores credenciados. Os agricultores relatam que não podem alugar esses computadores de diagnóstico e precisam contratar um técnico da empresa para qualquer verificação, o que gera custos e atrasos. Há relatos de equipamentos parados por dias aguardando um técnico, causando grandes prejuízos, especialmente durante a colheita.
Reação dos proprietários de tratores da John Deere
A John Deere viu uma oportunidade de aumentar sua receita com a nova política de manutenção. Segundo uma reportagem da Bloomberg, a venda de peças e serviços é entre três e seis vezes mais lucrativa para a John Deere e seus revendedores do que a venda de equipamentos novos. Essa estratégia se refletiu no valor das ações da empresa, que saltou de pouco mais de $100 no início de 2020 para mais de $440 atualmente.
Em resposta às restrições e altos custos, os agricultores estão buscando alternativas. Existem relatos de proprietários hackeando os sistemas dos tratores da John Deere para conseguir realizar reparos fora da rede oficial. Além disso, um grupo de proprietários descontentes se uniu para processar a empresa, buscando reverter essa situação pela via judicial.
Processos judiciais e incertezas políticas para a John Deere
A John Deere pode enfrentar tempos difíceis em breve. Uma reportagem da agência Reuters indica que a empresa pode ser levada ao banco dos réus para enfrentar acusações de conspiração ilegal para restringir serviços de manutenção e reparo. Este pode ser apenas o começo de problemas legais para a fabricante dos tratores da John Deere.
Além disso, a política externa pode trazer desafios. O ex-presidente Donald Trump, que retornará à Casa Branca em janeiro de 2025, já sinalizou que pode taxar os produtos da John Deere em 200% caso a empresa transfira sua produção para o México. Isso frustraria os planos da empresa de baratear custos aproveitando acordos comerciais na América do Norte. Resta aguardar para ver se a John Deere mudará suas práticas ou se o cenário no campo se tornará ainda mais dividido.