Inteligência artificial ajuda cientistas a decodificar cartas secretas de épocas adas, revelando informações históricas inéditas e impulsionando avanços em pesquisas
A criptografia tem um papel essencial na proteção de dados e na segurança cibernética atualmente. Ela impede que pessoas não autorizadas em informações transmitidas ou armazenadas. Porém, a prática de enviar cartas secretas ou mensagens é antiga.
Desde a antiguidade, sistemas de cifras foram usados para transmitir segredos, baseando-se em chaves compartilhadas apenas entre os destinatários pretendidos.
Segredos em códigos: como as cifras funcionam
Um sistema de cifras transforma informações em códigos que só podem ser entendidos com uma chave. Por exemplo, cada letra pode ser derivada de números ou outros símbolos. Essa substituição pode ser questionada, dificultando a identificação de padrões.
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A complexidade aumenta ainda mais quando cada letra pode corresponder a números diferentes. Sem a chave certa, decifrar essas mensagens é um verdadeiro desafio.
Michelle Waldispühl, professora de alemão na Universidade de Oslo, explica: “A chave é compartilhada apenas entre as pessoas que devem ser capazes de lê-la. Uma pessoa criptografa, e a outra descriptografa usando a chave.”
As cartas secretas de Mary Stuart
Uma descoberta impressionante ocorreu na Biblioteca Nacional sa. O pesquisador George Lasry encontrou mais de 50 cartas secretas criptografadas, escritas por Mary Stuart, a ex-rainha da Escócia.
Essas cartas secretas foram enviadas de sua cela para o embaixador francês na Inglaterra, enquanto ela foi presa por conspirar contra sua prima, Elizabeth I da Inglaterra.
As cartas foram arquivadas de forma incomum, pois ninguém havia conseguido decifrá-las antes. O The Guardian descreveu essa descrição como a descoberta mais significativa sobre Mary Stuart em mais de um século.
As mensagens revelam conspirações políticas e estratégias complexas, oferecendo um novo olhar sobre um período histórico marcado por traições e disputas pelo poder.
Negociações, guerra e amor em código
O trabalho de Waldispühl e seus colegas não se limitou às cartas de Mary Stuart. Eles também analisaram documentos de Axel Oxenstierna, chanceler da Suécia, durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648).
Essas cartas tratavam de relatórios de guerra, conversas de paz e negociações diplomáticas. Informações sensíveis, como nomes de pessoas e locais, eram criptografadas. Porém, em momentos de pressa, apenas os dados mais críticos eram codificados.
Além de questões diplomáticas e bélicas, o amor também encontrou um lugar nos códigos secretos. Um colecionador particular apresentou mais de 400 cartões postais contendo escrita cifrada, datados do final do século XIX e início do século XX.
Um cartão postal de 1908 chamou atenção. A mensagem começou de forma totalmente ilegível: “=voevoeeoggvkov/l“.
Após decifração parcial, revelou-se uma mensagem romântica em alemão: “Meine innig geliebte einzige herzensgute Miezefrau”, traduzida como “Meu querido e único gatinho de bom coração“.
A máquina enigma e o papel humano na criptografia
Durante a Segunda Guerra Mundial, a criptografia evoluiu para níveis ainda mais sofisticados. A máquina Enigma, usada pelos nazistas, é um exemplo emblemático.
Alan Turing e sua equipe britânica desempenharam um papel crucial ao quebrar o código da Enigma, usando máquinas e técnicas inovadoras para a época.
No entanto, mesmo com o avanço da tecnologia, o elemento humano continua essencial. Waldispühl enfatiza a importância do chamado “humano-no-loop”. Muitas vezes, há pouco material disponível para treinar modelos de linguagem, tornando necessária a análise humana detalhada.
Por exemplo, ao transcrever documentos codificados, os cientistas da computação precisam da revisão de linguistas para corrigir detalhes sutis, como vírgulas e marcas sobre caracteres. Essas configurações podem ser decisivas para a interpretação correta do conteúdo.
Cartas secretas: desvendando um mistério do século XVI
Em um caso específico, uma carta totalmente codificada revelou-se um documento político importante. Após intensa análise manual e digital, descobriu-se que se tratava de propaganda de campanha do Sacro Imperador Romano Maximiliano II.
A carta continha promessas e ameaças destinadas aos representantes do reino da Polônia-Lituânia na década de 1570.
Esse episódio mostra como as mensagens cifradas podem conter informações restritas sobre eventos históricos e estratégias políticas, refletindo os interesses e ambições dos poderosos da época.
Inteligência artificial para resolver mistérios antigos
Waldispühl e sua equipe compilaram milhares de documentos codificados em um banco de dados chamado de-crypt.org. Mas os planos do grupo vão além da decifração de cartas antigas.
Eles pretendem desenvolver modelos e ferramentas para interpretar outros sistemas de escrita e símbolos, mesmo quando há poucos dados disponíveis.
Entre os desafios recomendados por Waldispühl estão o “Linear B”, um antigo sistema de escrita grego, e o Disco de Phaistos, de 4.000 anos, encontrado em Creta e ainda indecifrado. Esses mistérios permanecem sem solução, mas os avanços tecnológicos podem mudar isso.
Tecnologia ao alcance de todos
O objetivo final da equipe é tornar essas ferramentas íveis. Waldispühl sonha com um futuro em que qualquer pessoa possa fotografar um documento com o celular e receber uma tradução e análise completa em questão de segundos.
Esse avanço não beneficiaria apenas historiadores e linguistas, mas qualquer indivíduo interessado em explorar e entender mensagens codificadas do ado.
Afinal, a criptografia, que começou como uma ferramenta de reis e espiões, pode em breve estar ao alcance de todos, revelando histórias esquecidas e segredos guardados por séculos.
Com informações de Tech Xplore.