Medida recente reduz valor do combustível, mas política da estatal continua vinculada a parâmetros do mercado internacional; especialistas analisam impactos econômicos e operacionais
A Petrobras anunciou em 28 de março de 2025 uma redução de 4,6% no preço do diesel, com vigência a partir de 1º de abril de 2025. O novo valor de R$ 3,78 por litro representa uma queda de R$ 0,17 nas refinarias. De acordo com nota da estatal, essa é a primeira redução no ano — a última havia ocorrido em dezembro de 2023, com queda de 6,6%. Antes disso, em fevereiro de 2025, o diesel havia sido reajustado para cima em 6,8%, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Fatores econômicos explicam a redução
De acordo com o Banco Central, o real acumulou valorização de cerca de 8% frente ao dólar no primeiro trimestre de 2025. Além disso, o preço do barril do petróleo Brent apresentou uma queda média de 7,2% durante março, conforme dados da OilPrice. Essas variações contribuíram para que os preços internos da Petrobras superassem o nível da paridade de importação — referência para a formação de preços da companhia. Segundo o analista Felipe Perez, da Ativa Investimentos, a estatal utilizou esse espaço para realinhar valores ao mercado, respeitando a margem de competitividade e abastecimento.
O que é a política de paridade de importação (PPI)
A política de paridade de importação, implementada oficialmente em outubro de 2016, consiste em alinhar os preços internos dos combustíveis aos custos de importação. Esse cálculo inclui o preço internacional do petróleo (principalmente o Brent), o câmbio (dólar comercial), os custos de transporte marítimo e seguro, além das margens de risco e custo de internamento nos portos brasileiros. Ainda que a Petrobras tenha anunciado em maio de 2023 uma nova política comercial mais flexível, especialistas afirmam que os preços seguem, na prática, influenciados por parâmetros internacionais.
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Entidade técnica contesta alinhamento internacional
A Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), em artigo publicado em 1º de abril de 2025, criticou a continuidade da PPI. Segundo a entidade, a estatal tem capacidade produtiva e logística suficientes para formar preços baseados em custos nacionais. Além disso, argumenta-se que a subutilização das refinarias brasileiras e a dependência de preços internacionais comprometem a função estratégica da empresa. A AEPET defende que o alinhamento à paridade limita o potencial da Petrobras de oferecer combustíveis mais íveis para a população e o setor produtivo.
Impacto da redução para o transporte rodoviário
De acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT), o diesel representa até 35% dos custos logísticos de transportadoras e operadores rodoviários. Assim, mesmo uma redução pontual como essa pode aliviar custos operacionais de frete e distribuição. Consequentemente, é possível que os efeitos cheguem ao consumidor por meio de contenção de aumentos em alimentos, bens de consumo e transporte coletivo. Contudo, analistas ressaltam que, sem mudanças estruturais na política de preços, a previsibilidade continua sendo um desafio para o setor.
Petrobras sinaliza possibilidade de novos ajustes
Durante coletiva realizada no Palácio do Planalto em 28 de março, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, declarou que a empresa avalia a possibilidade de reduzir o preço do querosene de aviação (QAV). Apesar disso, nenhuma data ou critério técnico foi divulgado. A indicação foi bem recebida pela Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR), que afirma que o custo dos combustíveis representa mais da metade dos gastos operacionais do setor.
Nova política de preços: mudanças e permanências
Segundo nota da própria Petrobras, a política adotada desde maio de 2023 substituiu a PPI por uma estratégia que considera as condições de mercado, a competição e os custos internos. Contudo, segundo avaliação de especialistas do Instituto de Energia da USP e da UFRJ, as variáveis internacionais continuam sendo predominantes na formação dos preços. Assim, embora a metodologia seja oficialmente mais flexível, o modelo de precificação ainda reflete o mercado global, o que mantém os consumidores expostos à volatilidade externa.
A redução no preço do diesel anunciada pela Petrobras é uma medida relevante, especialmente para o setor de transportes e logística. Entretanto, por não representar uma mudança na estrutura de precificação da empresa, seus efeitos devem ser analisados com cautela. Especialistas e entidades técnicas continuam apontando a necessidade de uma política de preços mais alinhada aos custos nacionais, capaz de oferecer maior previsibilidade e estabilidade. A transparência nas decisões comerciais, aliada à eficiência na gestão da produção e do refino, será essencial para que a estatal cumpra seu papel econômico e social com responsabilidade.
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