Sensores, drones submarinos e até linguagens de programação: conheça as inovações criadas para petroleiros que hoje transformam áreas como construção civil, agricultura, defesa e tecnologia no Brasil.
A indústria de petroleiros no Brasil, tradicionalmente associada ao transporte de combustíveis e à exploração marítima, gerou inovações que ultraam o oceano. Graças aos investimentos em pesquisa e desenvolvimento realizados pelo setor de petróleo e gás, especialmente na área de exploração e produção offshore, diversas tecnologias originalmente criadas para enfrentar condições extremas no mar aram a ser aplicadas em áreas como engenharia civil, saúde, defesa, agricultura e tecnologia da informação.
Esses avanços surgiram a partir da necessidade de operar em ambientes desafiadores, com alta pressão, salinidade, risco de corrosão e exigência de automação e monitoramento remoto. O que começou como soluções para plataformas, navios e dutos submarinos, acabou impactando a vida cotidiana em terra firme.
Tecnologias criadas para petroleiros que hoje estão em uso fora do mar
Monitoramento Óptico de Arame (M.O.D.A.)
Desenvolvido pela Petrobras em parceria com a PUC-Rio, o sistema M.O.D.A. foi projetado para detectar falhas em cabos de aço usados em risers flexíveis de plataformas. Utilizando sensores ópticos por fibra (FBG), a tecnologia foi adaptada para monitorar elevadores, pontes e outras estruturas em ambientes urbanos, aumentando a segurança em edificações civis.
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ROVs – Drones Submarinos
Os ROVs (Veículos Operados Remotamente), empregados para inspeções subaquáticas em plataformas e navios, foram adaptados para pesquisas científicas marinhas, inspeções em barragens e até em estações de tratamento de água potável. O robô autônomo Flatfish, desenvolvido por Petrobras e Saipem, é um exemplo de como a robótica submarina do setor de petróleo encontrou novas funções fora do mar.
Linguagem de Programação Lua
A linguagem Lua, criada por pesquisadores da PUC-Rio para atender à automação em sistemas embarcados do setor offshore, se tornou uma das linguagens mais utilizadas no mundo em áreas como desenvolvimento de jogos, controle industrial, automação predial e Internet das Coisas (IoT).
Sistemas de Controle Distribuído (SDCD)
Projetados para monitorar refinarias e plataformas com múltiplos processos simultâneos, os SDCDs foram adaptados para plantas industriais, usinas de energia, centros de distribuição de água e sistemas de climatização urbana. A arquitetura modular e a capacidade de operação remota são pontos-chave que foram transferidos do mar para a terra.
Revestimentos Anticorrosivos Avançados
A alta corrosividade do ambiente marinho impulsionou o desenvolvimento de materiais resistentes e revestimentos anticorrosivos, hoje aplicados em pontes, torres metálicas, usinas e edifícios. Alguns desses revestimentos são produzidos a partir de fontes renováveis, ampliando a sustentabilidade no setor da construção civil.
Impacto ampliado: do mar para a sociedade
As tecnologias que nasceram nas operações offshore enfrentam pressões físicas, exigências técnicas e riscos ambientais elevados. Por isso, muitas soluções desenvolvidas para plataformas, navios e dutos submarinos são robustas, confiáveis e versáteis o suficiente para serem adaptadas a outros setores.
Essa transposição não é casual: a exploração e produção offshore exige constante inovação, e o investimento em engenharia e automação acabou criando um ambiente fértil para soluções que vão além do setor energético. A própria Petrobras, em seu portal de inovação, reconhece que os projetos de P&D realizados com universidades, centros de pesquisa e empresas de tecnologia trazem benefícios amplos para o país.
Aplicações na saúde, agricultura e defesa
Na área da saúde, técnicas de monitoramento remoto e sensores de integridade estrutural inspirados em plataformas estão sendo usados em hospitais inteligentes e equipamentos de e à vida. Na agricultura, tecnologias de georreferenciamento, sensores autônomos e redes de comunicação adaptadas das plataformas offshore são empregadas em sistemas de irrigação e análise de solo.
Já na defesa, a experiência com automação embarcada, controle remoto e estruturas modulares vem sendo adaptada para veículos não tripulados, estações de radar e bases operacionais móveis — inclusive em áreas remotas da Amazônia e fronteiras nacionais.
A indústria offshore como vetor de inovação nacional
O setor de petróleo e gás, por meio de suas atividades marítimas, acabou se tornando um dos principais vetores de inovação tecnológica no Brasil. A exigência por soluções resilientes, integradas e sustentáveis motivou colaborações entre universidades, startups e multinacionais, promovendo uma transferência de conhecimento que se espalha por diversas áreas.
As patentes registradas por instituições como Petrobras e universidades brasileiras ligadas à indústria offshore demonstram como esse ecossistema de inovação tem impactos transversais. Muitas dessas tecnologias foram desenvolvidas com o apoio da Lei de Inovação, da ANP e de editais públicos que incentivam o uso dual das soluções.
Um legado além da energia
A indústria de petroleiros e sua intensa atuação em águas profundas resultaram em um acervo tecnológico que beneficia muito além do abastecimento energético. Com aplicações concretas na infraestrutura urbana, indústria 4.0, sustentabilidade ambiental e serviços públicos, essas inovações provam que os frutos da engenharia marítima são colhidos também em terra firme.
Mais do que produzir petróleo, a indústria offshore tem gerado conhecimento que atravessa fronteiras e contribui com o desenvolvimento de setores estratégicos da economia brasileira.
Fontes: Petrobras, Saipem, Folha de S.Paulo, Revista Oil & Gas Brasil, UFRJ