A Ponte Xambioá, obra estratégica da BR-153, está 95% concluída, mas sem previsão real de uso. População continua dependendo de balsas para atravessar o rio Araguaia.
A Ponte Xambioá, que deveria ser um divisor de águas na infraestrutura entre Tocantins e Pará, está tecnicamente pronta. Com 1.728 metros de extensão sobre o rio Araguaia e custo que já ultraa R$ 233 milhões, a obra atingiu 95% de conclusão, mas permanece inível. Enquanto isso, motoristas e moradores seguem na travessia por balsas, arcando com altos custos e longas esperas.
Prometida para setembro de 2022, a entrega foi adiada várias vezes. Agora, segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), a nova previsão é o segundo semestre de 2025. O motivo? A ponte está de pé, mas os os ainda não existem.
Ponte Xambioá e a travessia que nunca chega
A estrutura liga Xambioá (TO) a São Geraldo do Araguaia (PA) e integra a BR-153, rota crucial para o agronegócio e o transporte de cargas do Norte ao Sul do Brasil. A rodovia também serve como escoamento para a produção da região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que cresce aceleradamente.
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Mas, na prática, nada flui. Caminhoneiros continuam pagando até R$ 294 por travessia via balsa, com atrasos que beiram uma hora. Já moradores desembolsam R$ 25 por automóvel, R$ 5,50 por bicicleta e convivem com o drama diário para estudar, trabalhar ou ar serviços de saúde do outro lado do rio.
“É uma espera de 30 a 45 minutos, dependendo do nível do rio. Isso impacta toda a economia regional”, afirma o prefeito de Xambioá, Mike Câmara.
Uma ponte moderna travada por erros antigos
A Ponte Xambioá foi construída com engenharia de ponta: balanço sucessivo, concreto de alta performance, aço anticorrosivo e pilares fincados a dezenas de metros abaixo do leito. Tudo para garantir estabilidade, durabilidade e tráfego de veículos pesados.
Só faltou um detalhe: os os. O trecho do lado paraense terá 310 metros. Do lado tocantinense, 1.700 metros. Nenhum deles começou a ser construído. A pavimentação, sinalização, iluminação e a laje de transição também não foram executadas. Tudo depende de novas licitações, liberações e, sobretudo, indenizações de terras.
Segundo a prefeitura de Xambioá, muitos moradores ainda não receberam os valores de desapropriação. Enquanto isso, a ponte pronta segue como miragem.
O Brasil que atrasa o próprio progresso
A Ponte Xambioá é exemplo claro de um vício crônico nas obras públicas brasileiras: falta de planejamento. Dados do Tribunal de Contas da União mostram que o país acumula mais de 14 mil obras inacabadas.
“A desapropriação deveria ser a primeira etapa de qualquer obra pública. Começaram pela ponte e esqueceram dos os. Um erro primário que gerou um ime gigantesco”, critica Marcelo Daniel Melo, presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia.
Agora, a promessa é que os serviços complementares se estendam até julho de 2025. Até lá, a ponte de R$ 233 milhões continua servindo apenas de cartão-postal. Uma estrutura monumental, isolada por decisões minúsculas.