Por que o oeste da China está quase desabitado? 94% dos chineses vivem à direita de uma linha invisível. Saiba o que está por trás da desigualdade territorial do gigante asiático
Imagine um país onde uma única cidade tem mais habitantes do que nações inteiras. Agora, amplie esse cenário para províncias com população superior à de países como França, Reino Unido e Egito. Essa é a China, uma potência asiática que abriga mais de 1,4 bilhão de pessoas — o equivalente a quase 20% de toda a população mundial, segundo dados atualizados da ONU. E ainda assim, mais da metade do seu território permanece praticamente desabitado.
O que explica essa gigantesca concentração humana em uma parte relativamente pequena do país? Neste artigo, exploramos os fatores históricos, geográficos, econômicos e climáticos que definem essa distribuição desigual e como isso pode mudar no futuro.
A maior população do mundo e um dos maiores em território, rivalizando com potências como os Estados Unidos e o Canadá
A China é o país mais populoso do planeta — superando inclusive a Índia, seu rival demográfico , além de ser um dos maiores em extensão territorial, rivalizando com potências como os Estados Unidos e o Canadá. Com um território de mais de 9,5 milhões de km², o gigante asiático poderia, teoricamente, abrigar sua população de forma equilibrada. No entanto, o que vemos é uma distribuição extremamente desigual: 94% da população chinesa está concentrada na faixa leste, enquanto os vastos territórios do oeste e centro do país continuam praticamente vazios.
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Essa concentração é tão intensa que as cidades de Xangai, Pequim e Guangzhou somadas possuem mais habitantes que toda a Coreia do Sul. Para se ter uma ideia da escala, a província de Henan tem uma população equivalente à da França, e outras províncias ultraam países inteiros em número de habitantes.
Por que o leste da China atrai tanta gente?
O padrão de ocupação da China tem raízes históricas profundas. Desde antes de Cristo, as civilizações chinesas se desenvolveram na região leste, próximas ao Mar Amarelo, favorecendo o comércio e a agricultura. Dinastias como Han, Qin, Tang e Ming consolidaram suas capitais na costa ou próximo dela, moldando a geografia populacional do país até os dias de hoje.
Outro fator determinante é o clima favorável e os recursos hídricos abundantes. A região leste é banhada pela corrente quente de Kuroshio, que traz umidade do Pacífico, favorecendo as chuvas e, consequentemente, o desenvolvimento agrícola. A presença dos três maiores rios do país: Yangtzé, Rio Amarelo e Rio das Pérolas, transforma essa área em uma das mais férteis do mundo. Segundo a FAO, mais de 25% dos alimentos do planeta vêm de terras irrigadas por rios como esses.
O oeste inabitável: montanhas, desertos e isolamento
Enquanto o leste prospera, o oeste enfrenta desafios naturais severos. Essa parte do território chinês é dominada por desertos áridos e altas montanhas, como o Deserto de Gobi, o Deserto de Taklamakan e o Planalto do Tibete, a região habitada mais alta do mundo. Nessas áreas, as condições climáticas são extremamente adversas: temperaturas negativas, baixa umidade e escassez de chuvas tornam quase impossível o cultivo e dificultam a ocupação humana.
Além disso, essas regiões são cercadas por cadeias montanhosas como os Himalaias, Tianshan e Qinling, que funcionam como barreiras naturais. Elas bloqueiam a chegada das nuvens carregadas de umidade vindas do oceano, um fenômeno conhecido como sombreamento orográfico, responsável pela aridez extrema. O resultado é um território vasto, porém inóspito.
Comparações com o Brasil: território grande, população concentrada
A situação chinesa lembra, em certa medida, o que ocorre no Brasil, onde estados como Amazonas, Pará e Mato Grosso possuem imensas áreas territoriais, mas densidade populacional reduzida. No caso da China, porém, a diferença é ainda mais acentuada: 60% do território têm menos de 6% da população.
Um exemplo extremo é o Tibete, que, embora gigantesco em área, possui menos habitantes que o estado do Rio Grande do Norte, que tem cerca de 3,5 milhões de pessoas. Isso reflete também na economia: o PIB per capita do Tibete se assemelha ao de países como Peru ou Nigéria, enquanto províncias litorâneas como Pequim já ultraam o PIB per capita de Portugal, segundo dados da Banco Mundial.
Uma nova China no horizonte: governo chinês prevê investimentos bilionários e a criação de polos logísticos em territórios antes isoladas
Ciente dessa desigualdade interna, o governo chinês tem buscado reverter o cenário. Em 2020, as autoridades anunciaram oficialmente a erradicação da extrema pobreza e lançaram uma série de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento do oeste. A principal estratégia é a chamada Nova Rota da Seda, um ambicioso projeto de infraestrutura que pretende conectar a China com a Europa e o restante da Ásia por meio de ferrovias, rodovias e gasodutos que cruzam as regiões menos desenvolvidas.
Segundo o site oficial da Iniciativa do Cinturão e Rota, o plano prevê investimentos bilionários e a criação de polos logísticos em áreas antes isoladas. Isso não apenas impulsionará a economia do interior, mas também reforçará a soberania chinesa em regiões estratégicas, como a fronteira com a Índia, onde há conflitos recorrentes com tropas indianas na disputa por territórios no Himalaia.
O futuro do gigante asiático
Embora os projetos de desenvolvimento estejam em andamento, o desafio de redistribuir a população da China é monumental. A infraestrutura, os recursos e o clima ainda favorecem largamente a região leste, onde estão concentradas as maiores empresas, indústrias e centros urbanos do país. Mas, com planejamento, tecnologia e investimento, o interior árido e quase vazio pode se tornar a próxima fronteira de crescimento do gigante asiático.
Tem vontade de conhecer a China? Já pensou em como seria viver no país mais populoso do mundo, onde tradição milenar e tecnologia de ponta se misturam a cada esquina? Antes de arrumar as malas, vale a pena entender por que 94% dos chineses vivem concentrados em apenas uma parte do território — e o que isso revela sobre os contrastes dessa superpotência asiática. Deixe sua opinião nos comentários