Um investimento audacioso de R$ 5 bilhões transforma radicalmente a região portuária do Rio de Janeiro, com o projeto Mata Maravilha buscando um novo paradigma de urbanismo sustentável no histórico porto carioca.
Onde o abandono urbano reinou por décadas, surge o Mata Maravilha. Com R$ 5 bilhões, o projeto reescreverá a história do porto do Rio de Janeiro e do urbanismo mundial. A iniciativa revitalizará a região portuária, criando um ecossistema de 223.000 m² com floresta nativa, arquitetura futurista e o maior parque urbano à beira da Baía de Guanabara.
De auge colonial ao declínio
A região portuária do Rio de Janeiro pulsa com a história do Brasil, sendo palco de eventos que moldaram a identidade nacional desde o século XVIII. No período colonial, o porto do Rio era um ponto nevrálgico para mercadorias e pessoas, incluindo o desembarque de escravizados africanos, produtos europeus e, posteriormente, imigrantes. Sua importância cresceu com a chegada da família real em 1808, consolidando-o como centro comercial vital.
O final do século XIX trouxe um boom industrial à área, com fábricas surgindo em bairros como Gamboa e Saúde. O Moinho Fluminense, inaugurado em 1887, tornou-se um símbolo desse progresso, projetado como o mais moderno da América Latina. Contudo, a partir da segunda metade do século XX, o porto entrou em declínio devido à mudança da capital e à modernização de outras estruturas, levando ao abandono de prédios históricos e à desativação do próprio Moinho em 2016.
-
Casa construída em 24 horas por menos de US$ 10 mil: Impressora 3D de concreto ganha destaque como alternativa rápida, barata e sustentável na construção de moradias
-
Senado aprova Selo de Engenharia Solidária para reconhecer projetos sociais — proposta segue para nova análise e pode beneficiar famílias de baixa renda
-
Dez elevadores e três gruas da obra onde três pessoas morreram após a queda do 17º andar, em SP, foram interditados pelo Ministério do Trabalho
-
Antes funcionava com tração animal; hoje, está presente em todas as obras. Conheça a mente por trás da ideia genial da betoneira como a conhecemos hoje
A ambição de ser a primeira cidade “Nature Positive”
O Mata Maravilha nasceu do desejo de revitalizar o icônico Moinho Fluminense, transformando-o no coração de uma nova era urbana para o Rio, com a meta de tornar a cidade a primeira “nature positive” do planeta. À frente da iniciativa está o empresário francês Alexandre Allard, conhecido pela restauração da Cidade Matarazzo em São Paulo, que agora direciona sua experiência em design, sustentabilidade e cultura para o Porto Maravilha.
Para concretizar essa visão, Allard uniu-se à Aimon Empreendimentos Imobiliários e ao Fundo Internacional Autonomy e Capital, especializado em projetos de alto impacto. Essa parceria robusta atraiu a Prefeitura do Rio, que, via edital, selecionou o projeto da AI Moinho. Um o decisivo ocorreu em abril de 2025, quando o prefeito Eduardo Paes liberou o imóvel do Moinho, permitindo o início oficial do Mata Maravilha.
Uma floresta urbana tecnológica no Porto
O Mata Maravilha promete dimensões extraordinárias para o porto, integrando inteligência artificial, biodiversidade e inclusão social. Serão plantadas mais de 40.000 árvores e arbustos nativos da Mata Atlântica, resgatando a flora original em mais de 10 hectares dos 223.000 m² totais. O projeto recriará um bioma tropical com 7 km de caminhos e integrará mangues e sistemas de filtração natural para ajudar a recuperar a Baía de Guanabara.
A sustentabilidade é chave, com uma operação carbono zero e autonomia em água e temperatura. Sistemas de captação de chuva, ventilação natural e fachadas vivas buscarão reduzir a temperatura local em até 8°C. Tecnologias verdes e inteligência artificial, com sensores e algoritmos, monitorarão o desempenho ambiental, enquanto a arquitetura regenerativa visa gerar benefícios concretos para o entorno do porto.
Torres verticais, hubs de inovação e bem-estar
A infraestrutura do Mata Maravilha no porto incluirá duas torres residenciais floresta vertical de 70 andares, com fachadas cobertas por vegetação nativa. Inspiradas no Bosco Verticale de Milão, elas absorverão CO2 e filtrarão poluentes. O complexo contará ainda com quatro hotéis, moradia para 2.500 pessoas, coworkings e centros de inovação, formando um polo digital focado em tecnologia verde.
Completam o projeto o parque elevado Harmonia, uma vila de arte ancestral, um teatro da natureza e um mercado orgânico. O bem-estar será contemplado com uma sala de movimento e um templo de meditação. O Hubia, um centro de tecnologias verdes, buscará atrair 15.000 talentos, consolidando o Rio como referência em inovação, conforme destaca o Canal Construction Time sobre a ambição transformadora para o porto.
Do respeito à história à referência global no Porto
O Mata Maravilha se compromete com as raízes culturais e sociais do porto, respeitando sua história e população, incluindo as resistências negras e movimentos antirracistas. Comitês sociais e culturais com participação local serão formados, e edifícios históricos como o Moinho Fluminense serão restaurados, preservando a memória coletiva e estimulando a economia local de forma inclusiva.
Em comparação com a Cidade Matarazzo em São Paulo, também de Allard, o Mata Maravilha representa uma evolução. Enquanto Matarazzo focou na recuperação de um quarteirão com viés artístico e de luxo, o projeto no Porto Maravilha visa reflorestar uma área muito maior, integrando moradia, cultura, tecnologia e regeneração ambiental em uma escala inédita. O impacto do projeto transcende o Rio, posicionando-o como um potencial modelo global de urbanismo sustentável para outras metrópoles enfrentarem desafios climáticos e sociais.