União Europeia reage à guerra comercial EUA-China e busca proteger sua indústria de um possível redirecionamento de produtos chineses
A guerra comercial entre Estados Unidos e China tem causado reflexos diretos no mercado europeu. Com receio de uma nova onda de produtos chineses entrando em massa, líderes da União Europeia começaram a articular respostas.
A principal preocupação de Bruxelas é o desvio dessas exportações para o bloco europeu, o que pode prejudicar indústrias locais e desestabilizar mercados emergentes.
Trégua com Washington, foco no Pacífico
Enquanto isso, uma trégua temporária de 90 dias entre Estados Unidos e União Europeia oferece um breve alívio. Esse intervalo permite que os dois lados tentem negociar a suspensão do bloqueio norte-americano a produtos europeus.
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Mas os olhares de Washington continuam voltados para o confronto com Pequim no Pacífico, região considerada o epicentro dessa disputa comercial.
Tarifas elevadas e redirecionamento de produtos
A China impõe uma tarifa de 145% sobre todas as suas exportações destinadas aos Estados Unidos. Esse nível de imposto impossibilita praticamente a competitividade das empresas chinesas no mercado americano, responsável por 13% das exportações do país asiático.
Com essa via bloqueada, o receio europeu é que esse volume de produtos seja transferido para o mercado interno da União Europeia.
Víctor Burguete, pesquisador do CIDOB, alerta para os riscos. O principal deles seria o aumento de casos de dumping: quando empresas vendem produtos a preços artificialmente baixos, forçando a saída de concorrentes locais.
Ele destaca que isso pode ser particularmente grave em setores com sobreposição entre China e Europa, como o de máquinas e equipamentos elétricos, entre outros produtos chineses.
Setores emergentes mais vulneráveis
As maiores ameaças, segundo Burguete, estão nas chamadas indústrias nascentes. Entre elas estão os segmentos de tecnologias verdes, como a fabricação de baterias e painéis solares.
Ele explica que esses setores já enfrentam forte pressão competitiva vinda da China. A chegada de produtos ainda mais baratos poderia dificultar ainda mais a consolidação dessas áreas dentro da Europa.
Ángel Melguizo, pesquisador do Conselho Europeu de Relações Exteriores, lembra que a China já tem tradição em investir fora do seu território.
Desde o fim da década ada, Pequim ou a aplicar recursos em setores como energia solar, energia eólica, baterias e veículos elétricos, principalmente na América Latina. Esses fluxos de investimento tendem a se intensificar diante do atual cenário de confronto econômico.
Reequilíbrio das relações com a China
A relação entre China e União Europeia vive um momento delicado. Para Bruxelas, a China é vista simultaneamente como rival e parceiro estratégico. Mas a escalada da guerra tarifária empurra os europeus para uma reavaliação de postura.
Durante visita oficial a Pequim, o presidente espanhol Pedro Sánchez enfatizou que a China deve ser tratada como aliada. Entre os temas discutidos, está a criação de um mecanismo para rastrear e reagir a desvios comerciais.
A estratégia europeia é evitar um ciclo de medidas protecionistas. Em vez de aplicar tarifas retaliatórias, autoridades europeias propõem ações como a definição de preços mínimos para produtos verdes no bloco. A intenção é proteger as indústrias locais sem recorrer a barreiras rígidas.
Mudança de perspectiva tecnológica
Outro ponto levantado por Burguete é a mudança de interesses. Antes, a Europa se preocupava com o o da China às suas tecnologias. Hoje, com o avanço chinês em áreas verdes, o foco se inverteu: os europeus buscam aproveitar o conhecimento chinês.
Um exemplo seria a instalação de fábricas de veículos chineses no território europeu, com produção local e transferência de tecnologia.
Diversificar é o caminho para a União Europeia
Para enfrentar o bloqueio americano e a possível sobrecarga de produtos chineses, a solução defendida por Bruxelas é a diversificação. A União Europeia precisa expandir seus acordos comerciais com outras regiões do mundo.
Nesse contexto, o tratado com o Mercosul ganha destaque. Mesmo com resistência de países como a França no ado, a pressão atual faz com que posições sejam revistas. Espanha e outros defensores da parceria pedem urgência na ratificação.
Irene Sánchez, coordenadora de programas do ECFR, acredita que a aprovação do acordo UE-Mercosul pode auxiliar ambas as regiões a evitar serem arrastadas pela rivalidade entre Estados Unidos e China. Para ela, trata-se de consolidar uma alternativa baseada no multilateralismo e no livre comércio.
Juntas, União Europeia e América Latina representam mais de 20% do PIB mundial e mais de 30% dos votos nas Nações Unidas. A aliança também reúne mais de 1,1 bilhão de pessoas e empresas líderes em setores estratégicos como energia, mobilidade, indústria avançada e biotecnologia.
União Europeia: Política comercial como ferramenta de valores
Nos últimos anos, a União Europeia ou a usar sua política comercial como instrumento para defender valores como os direitos humanos e a sustentabilidade.
Agora, segundo Sánchez, é o momento de acelerar essa estratégia e ampliar a atuação global. O bloco já trabalha em acordos com países como Arábia Saudita, Malásia, Singapura, Índia e Indonésia.
O futuro da relação com os Estados Unidos dependerá da posição da próxima istração. Mas, fora dessa disputa, a Europa ainda tem muito a conquistar.
Com informações de Infobae.