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Produção leiteira nos Estados Unidos vs. Brasil: Por que o modelo de super especialização americano não decola por aqui?

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 09/05/2025 às 14:22
A produção leiteira nos Estados Unidos é modelo, mas funcionaria no Brasil?
A produção leiteira nos Estados Unidos é modelo, mas funcionaria no Brasil?

A alta especialização da produção leiteira nos Estados Unidos impressiona, mas seria viável no Brasil? Analisamos os desafios e as diferenças cruciais entre os dois cenários.

O modelo de produção leiteira nos Estados Unidos, com sua impressionante especialização e padronização, frequentemente levanta a questão: funcionaria no Brasil? Lá, é comum um produtor focar exclusivamente na ordenha, enquanto outro se dedica à recria de novilhas e um terceiro à produção de volumoso, como silagem.

No entanto, a aplicação direta desse sistema em solo brasileiro encontra uma série de obstáculos. Apesar do potencial teórico, a realidade da produção leiteira nos Estados Unidos contrasta com a instabilidade, a falta de contratos e as variações culturais e produtivas do Brasil, que tornam essa especialização um grande desafio.

O modelo americano: especialização e padronização na produção leiteira nos Estados Unidos

produção leiteira nos Estados Unidos

Nos Estados Unidos, a produção leiteira frequentemente opera sob um regime de alta especialização. Cada etapa da cadeia pode ser uma atividade distinta: um produtor se concentra apenas em tirar leite, outro é especialista na cria e recria de bezerras até se tornarem novilhas prenhas, e um terceiro pode se dedicar exclusivamente à produção de alimentos para esses animais, como o milho para silagem. Essa divisão permite que cada um otimize seus custos e eficiência em sua respectiva área.

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Além disso, existe um alto grau de padronização no gado utilizado na produção leiteira nos Estados Unidos, seja na Califórnia, Texas, Flórida ou Wisconsin. Espera-se que uma vaca produza em média 40 litros e tenha seu primeiro parto por volta dos 24 meses. Grandes fazendas adotam esse modelo, muitas vezes preferindo comprar novilhas de terceiros especializados, por ser economicamente mais vantajoso do que criá-las internamente.

Potencial versus realidade: o sistema da produção leiteira nos Estados Unidos funcionaria no Brasil?

A ideia de replicar a especialização da produção leiteira nos Estados Unidos no Brasil não é nova e, teoricamente, tem tudo para dar certo. Existem algumas iniciativas e casos isolados no país, talvez com maior visibilidade em pequenas quantidades no Paraná. Cooperativas também já fizeram tentativas, algumas com sucesso, de implementar sistemas de recria de bezerras e venda de novilhas prenhas para seus cooperados.

A especialização na produção de silagem, por exemplo, já é uma realidade em diversas fazendas brasileiras que focam em fornecer alimento de qualidade para produtores de leite. Contudo, a especialização completa, principalmente na cria e recria de animais, ainda encontra pouquíssimos casos de sucesso em larga escala no Brasil.

Os grandes desafios brasileiros

A principal barreira para um modelo similar ao da produção leiteira nos Estados Unidos no Brasil é o chamado “Custo Brasil” e a instabilidade nas relações comerciais. No setor leiteiro brasileiro, a falta de contratos de longo prazo entre produtores e laticínios é um problema crônico. Essa ausência de segurança afeta toda a cadeia: o produtor de leite não tem garantia de venda para um laticínio específico e pode mudar de comprador conforme o preço oferecido. Da mesma forma, laticínios podem deixar de coletar de pequenos produtores, aumentando a insegurança.

Essa instabilidade se reflete diretamente na viabilidade da especialização na cria e recria. O produtor que precisaria comprar novilhas não tem segurança sobre a disponibilidade e o preço dos animais, nem sobre a venda do seu próprio leite. Similarmente, quem se especializaria em recriar animais não teria garantia de venda. Os pequenos e médios produtores, que mais se beneficiariam da especialização para diluir seus altos custos de cria e recria, são os que menos têm segurança para depender desse sistema.

Leite vs. corte

Enquanto a pecuária de corte no Brasil já possui uma segmentação bem definida (criador, recriador, terminador), o setor leiteiro enfrenta mais dificuldades. A genética leiteira é mais complexa de avaliar visualmente do que a do gado de corte, onde o peso e a conformação são parâmetros mais diretos. Comprar uma novilha recriada para leite envolve um investimento de longo prazo, pois o animal precisa permanecer produtivo por várias lactações (três a seis), exigindo grande confiança na qualidade e origem do animal.

Outro fator limitante é a perecibilidade do leite: ele precisa ser ordenhado diariamente e entregue com frequência (a cada dois dias ou diariamente), tirando do produtor a flexibilidade de “segurar” o produto, como ocorre no gado de corte. Além disso, a imensa variação de raças, manejos, culturas regionais e microclimas no Brasil dificulta a padronização vista na produção leiteira nos Estados Unidos, onde até preferências pessoais por determinadas raças podem sobrepor-se a decisões puramente econômicas.

O caminho a percorrer

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O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer na evolução de sua produção leiteira. Nossa média nacional de produtividade por vaca é baixa (estimada em menos de 2.000 litros por lactação, considerando todo o rebanho), indicando um vasto potencial de melhoria interna antes de se almejar níveis de especialização como os vistos na produção leiteira nos Estados Unidos.

Para que um sistema mais especializado possa prosperar, é fundamental uma maior estruturação da cadeia produtiva, com ênfase na segurança contratual entre produtores, recriadores e indústria. Enquanto o modelo da produção leiteira nos Estados Unidos pode parecer distante, ele serve como um espelho que reflete tanto os desafios quanto as oportunidades para o contínuo desenvolvimento do setor leiteiro brasileiro.

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Bruno Teles

Falo sobre tecnologia, inovação, petróleo e gás. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro. Com mais de 7.000 artigos publicados nos sites G, Naval Porto Estaleiro, Mineração Brasil e Obras Construção Civil. Sugestão de pauta? Manda no [email protected]

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