Pesquisadores revelam descobertas surpreendentes após abrirem baterias da Tesla e BYD, analisando desde química e design até custo, calor gerado e eficiência estrutural. Um estudo técnico com impacto direto nas decisões do mercado de carros elétricos.
Duas gigantes do mercado de carros elétricos tiveram suas baterias analisadas a fundo por cientistas para determinar qual oferece melhor desempenho, custo-benefício e durabilidade.
O estudo, publicado na revista Cell Reports Physical Science, comparou duas das baterias mais emblemáticas da atualidade: a Blade da chinesa BYD e a 4680 da americana Tesla.
O resultado vai além da química e levanta debates importantes sobre o futuro dos veículos elétricos.
-
Projeto bilionário de túnel submarino quer reduzir viagem de 12 para 5 horas com trem-bala a 250 km/h e 13 milhões de ageiros podem ser beneficiados todos os anos
-
Smartphones antigos ganham nova função como centros de dados sustentáveis
-
Essa é a moto que não precisa de CNH e ainda tem um dos melhores preços do mercado
-
Carros elétricos vão ficar muito mais baratos? Baterias de sódio com ciclo de vida de 10 mil cargas podem reduzir em até R$ 70.000 o preço dos automóveis
A comparação revelou que as abordagens tecnológicas de cada fabricante refletem estratégias bem diferentes de mercado.
A Tesla aposta em alta performance e inovação estrutural, enquanto a BYD prioriza durabilidade, segurança e custo mais baixo de produção.
Apesar de não se tratar de uma disputa definitiva — já que muitos fatores influenciam o desempenho final de um carro elétrico —, o estudo oferece uma análise inédita e detalhada de como essas baterias funcionam na prática.
Diferenças químicas refletem estratégias distintas
As baterias comparadas não são aleatórias: a Blade, da BYD, utiliza a química LFP (lítio-ferro-fosfato), enquanto a 4680 da Tesla emprega a composição NCM (níquel, cobalto e manganês).
Essas diferenças impactam diretamente o desempenho, a autonomia e o custo de produção.
A bateria LFP, adotada pela BYD, é conhecida por ser mais barata, mais estável e ter maior vida útil.
Em contrapartida, sua densidade energética é menor, o que significa menos autonomia.
Já a bateria NCM, usada pela Tesla, é mais potente e oferece maior alcance com a mesma capacidade, mas custa significativamente mais caro para produzir e tende a se degradar mais rapidamente com o tempo.
Segundo os pesquisadores, a escolha da química LFP pela BYD não é apenas técnica, mas também geográfica e econômica.
Na China, onde a empresa domina o mercado, o uso de veículos elétricos é majoritariamente urbano, o que torna a autonomia extrema menos relevante.
A robustez, segurança e custo reduzido da LFP são ideais para esse cenário.
Inovação no design das células também pesa
Além da química, a estrutura física das baterias foi um fator determinante na análise.
A Tesla desenvolveu a célula cilíndrica 4680, cinco vezes maior que suas predecessoras, permitindo uma maior densidade energética e maior volume de energia por módulo.
Enquanto isso, a BYD inovou com a chamada “bateria em folha” (Blade Battery), um design mais plano e modular que favorece a estabilidade térmica e a segurança.
Essa estrutura permite dissipar melhor o calor e reduzir o risco de superaquecimento — um dos maiores temores em veículos elétricos.
De acordo com os dados obtidos, a bateria da Tesla gera o dobro de calor durante a recarga em comparação com a da BYD.
Embora isso não afete diretamente o desempenho imediato, obriga o uso de sistemas de resfriamento mais sofisticados — o que aumenta o peso, o custo e a complexidade do veículo.
Custos: vantagem clara para a BYD
Em termos de produção, a vantagem é da fabricante chinesa.
Com base nos preços dos minerais em 2024, a bateria Blade custa cerca de US$ 10/kWh a menos que a da Tesla.
Isso representa uma economia de aproximadamente US$ 685 (cerca de R$ 3.800) por bateria de 60 kWh.
A principal razão para essa diferença é o custo elevado do níquel, componente essencial na composição NCM da Tesla.
Além disso, o menor uso de ligas metálicas e a estrutura simplificada contribuem para o valor reduzido da bateria da BYD.
Vale destacar que o peso da bateria Blade é maior, o que poderia sugerir menor eficiência.
Porém, essa desvantagem é compensada pela durabilidade e menor exigência de componentes externos como sistemas de arrefecimento, resultando em um produto mais simples e confiável no longo prazo.
Menos vibrações, menos exigência em materiais
Outro fator que favorece a BYD é o próprio funcionamento dos motores elétricos.
A ausência de vibração, ruído e calor excessivo permite utilizar materiais mais simples, como plásticos reforçados, em vez de ligas metálicas caras.
Isso impacta diretamente a estrutura do veículo e reduz o custo total de produção.
De acordo com a consultoria Caresoft Global Technologies, muitas montadoras tradicionais, como a Toyota, ainda pensam nos carros elétricos como uma evolução direta dos veículos a combustão.
Isso as leva a superdimensionar componentes e utilizar materiais caros que não são necessários no novo paradigma elétrico.
Tesla e BYD, por outro lado, projetam seus veículos desde o início como 100% elétricos.
Essa mentalidade resulta em soluções mais eficientes, leves e econômicas — tanto na montagem quanto na manutenção a longo prazo.
E quanto à autonomia?
Apesar da análise técnica das baterias, os pesquisadores não abordaram a autonomia em quilômetros, pois essa variável depende de múltiplos fatores — como o motor utilizado, a aerodinâmica do veículo e o tipo de condução.
Portanto, uma comparação direta de alcance não seria justa entre as duas tecnologias.
Entretanto, é sabido que baterias NCM, como as da Tesla, oferecem maior densidade energética.
Ou seja, um carro com bateria NCM tende a percorrer mais quilômetros com uma única carga do que um com bateria LFP — desde que os demais componentes do veículo sejam equivalentes.
Um mercado em transição
A disputa entre BYD e Tesla está longe de acabar.
Ambas as empresas lideram o setor de veículos elétricos e investem pesadamente em inovação.
A Tesla domina na América do Norte e Europa, enquanto a BYD avança rapidamente em mercados emergentes, como América Latina, Sudeste Asiático e África.
Atualmente, o avanço da BYD na exportação de modelos com baterias LFP tem incomodado concorrentes e forçado montadoras tradicionais a reverem suas estratégias.
Empresas como Volkswagen, Ford e GM já anunciaram investimentos em parcerias com fornecedores chineses de tecnologia LFP.
Enquanto isso, a Tesla também não ignora essa tendência e ou a oferecer versões mais íveis de seus modelos com baterias LFP para o mercado chinês e europeu.
Qual bateria vence?
A resposta depende do que o consumidor prioriza.
Se o objetivo é autonomia, potência e inovação em engenharia, a bateria 4680 da Tesla leva vantagem.
Por outro lado, se o foco é economia, durabilidade e segurança, a Blade da BYD é a escolha mais lógica.
O estudo não tem o objetivo de declarar um vencedor definitivo, mas mostra como diferentes filosofias de engenharia podem gerar soluções competitivas.
Ambas as baterias têm pontos fortes e fracos, e o mercado global provavelmente continuará acomodando os dois tipos por muitos anos.
E você, se pudesse escolher, preferiria mais autonomia ou uma bateria mais econômica e durável?