O aquecimento global revela recursos e rotas no Ártico, intensificando a corrida entre nações como China, Rússia e potências ocidentais pela influência na região.
O Ártico, antes uma vasta imensidão gelada, aquece quatro vezes mais rápido que o resto do planeta. Esse fenômeno desencadeia uma nova era de oportunidades e tensões. Potências globais como China, Rússia, EUA e nações europeias disputam o o a recursos naturais e novas rotas marítimas, transformando o Ártico em um palco geopolítico crucial.
Por que o Ártico atrai potências mundiais?
Cientistas climáticos afirmam que o Ártico está aquecendo quatro vezes mais rápido que qualquer outro lugar. Isso afeta ecossistemas, vida selvagem e populações locais. Apesar de sua vastidão, cobrindo 4% do globo, as potências globais veem um novo mundo de oportunidades se abrindo no Ártico devido às mudanças ambientais.
O derretimento do gelo no Ártico facilita o o aos incríveis recursos naturais da região. Entre eles estão minerais essenciais, petróleo e gás. Estima-se que cerca de 30% do gás natural inexplorado se encontra no Ártico. Além disso, o degelo está abrindo possibilidades para novas rotas comerciais marítimas. Estas rotas podem reduzir drasticamente o tempo de viagem entre a Ásia e a Europa, o que representa economia significativa no setor de exportação.
-
O país mais jovem do mundo tem apenas 13 anos — como ele está hoje?
-
Elon Musk rompe com Trump e abandona política após perdas bilionárias
-
Argentina oficializa saída da OMS e revisão rigorosa em protocolos de vacinação
-
Apelidada de ‘nave-mãe’, aeronave militar da China transporta 16 toneladas de munição, tem envergadura de 25 metros e lança até 100 drones kamikazes em pleno voo
Ambições de uma “Superpotência Polar”
A China está determinada a ser um grande protagonista no Ártico. Magnus Mæland, prefeito de uma pequena cidade no extremo norte da Noruega, relatou o súbito interesse chinês ao receber três delegações do país asiático no fim de 2023. “É porque eles querem ser uma superpotência polar”, ele diz.
Pequim tem competido para comprar imóveis e se envolver em projetos de infraestrutura no Ártico. O país asiático espera estabelecer uma presença regional permanente e já se descreve como um “Estado quase ártico”. A China também está desenvolvendo um plano de “Rota da Seda Polar” para o transporte marítimo no Ártico.
Contudo, essa abordagem chinesa tem encontrado resistência. Tentativas recentes de Pequim de comprar portos na Noruega e Suécia, e um aeroporto na Groenlândia, foram recusadas. O prefeito Mæland expressa cautela: “Queremos ter um relacionamento com a China, mas não queremos depender da China“. Novas leis na Noruega, por exemplo, proíbem a transferência de propriedades se a venda puder prejudicar “os interesses de segurança noruegueses”.
A Rússia e o domínio estratégico do Ártico
A Rússia controla uma impressionante metade da costa do Ártico. A rejeição europeia às investidas chinesas tem aproximado Pequim de Moscou, o principal ator na região. A Rússia está absorvendo investimentos chineses, e os dois países cooperam militarmente no Ártico. A guarda costeira da China entrou no Ártico pela primeira vez em outubro, em patrulha conjunta com forças russas, após exercícios militares conjuntos. Bombardeiros de longo alcance de ambos os países também patrulharam o Oceano Ártico perto do Alasca.
Andreas Østhagen, do Instituto Fridtjof Nansen, descreve o Ártico como um “alvo fácil” para essa colaboração. “A Rússia precisa de investimentos e atores comerciais”, afirma, e “a China é esse mercado”. Apesar da cooperação, a Rússia mantém cautela para não permitir que a China se aprofunde demais no Ártico, região da qual Moscou depende fortemente para seus recursos naturais e onde armazena armas estratégicas, principalmente na península de Kola, lar da Frota do Norte.
OTAN e o Ocidente: Vigilância e resposta às tensões
Com a adesão da Finlândia e Suécia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), todos os países que fazem fronteira com o Ártico, exceto a Rússia, são membros da aliança. Isso intensificou os exercícios da OTAN no Ártico.
A Noruega, vizinha da Rússia, sente-se particularmente sob pressão. O país acredita que a Rússia usa o Ártico para treinar recrutas e pilotar bombardeiros para atacar a Ucrânia. Incidentes de interferência de GPS e espionagem na fronteira aumentaram, segundo o coronel Jørn Kviller. A Noruega e seus aliados da Otan monitoram de perto atividades suspeitas, incluindo submarinos espiões russos, e protegem infraestruturas críticas subaquáticas, como cabos de comunicação e gasodutos. O vice-almirante Rune Andersen, chefe do quartel-general conjunto norueguês, ressalta que a concentração russa de armas nucleares no Ártico visa não apenas a Europa, mas também os EUA.
O Ártico em disputa: Riscos, consequências e a voz das comunidades indígenas
O arquipélago norueguês de Svalbard está no centro da disputa pelos recursos do Ártico. Embora norueguês, é governado por um tratado que permite que cidadãos de países signatários trabalhem lá. Desde a invasão da Ucrânia, houve demonstrações de poder nacionalista e crescente suspeita de espionagem nas instalações de pesquisa de diferentes países. “Acho que o mundo foi dominado pelo FOMO [medo de ficar de fora] do Ártico,” comenta o prefeito local Terje Aunevik.
As comunidades indígenas do Ártico sentem que seus direitos são negligenciados. Miyuki Daorana, ativista inuíte da Groenlândia, afirma que a disputa por recursos é “muito mais séria” agora. Ela acusa países europeus de usarem a “crise climática” como desculpa para o que chama de “colonialismo verde ou agressão do desenvolvimento”, visando extrair cada vez mais das terras indígenas.
A antiga noção da “excepcionalidade do Ártico”, onde a cooperação prevalecia, está desaparecendo. Em seu lugar, surge uma era de políticas de poder, com nações agindo primordialmente em seus próprios interesses. Com tantas nações rivais agora no Ártico, os riscos de má interpretação ou erro de cálculo são altos.