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Cientistas encontram rocha que contém evidências de tsunamis de 115 milhões de anos atrás

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 20/05/2025 às 14:22
Âmbar é uma resina fossilizada de árvores que endureceu ao longo de milhões de anos e frequentemente preserva material biológico antigo, como insetos ou pólen. Créditos da imagem: Aya Kubota.

Pesquisadores encontram camadas de âmbar no fundo do mar em Hokkaido, no Japão, e revelam tsunamis gigantes ocorridos há 115 milhões de anos durante o período Cretáceo.

Descobrir um evento natural que aconteceu há mais de 100 milhões de anos é raro. Identificar que esse evento foi um tsunami é ainda mais surpreendente.

E foi exatamente isso que uma equipe de pesquisadores encontrou ao analisar rochas em uma pedreira na ilha de Hokkaido, no Japão.

A descoberta não foi planejada. Os cientistas estavam estudando sedimentos antigos quando se depararam com algo fora do comum: camadas espessas de âmbar enterradas em profundidade em uma formação marinha.

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Essas resinas fossilizadas, que geralmente aparecem em florestas ou áreas costeiras, estavam agora a mais de 150 quilômetros da antiga linha do litoral.

Uma resina fora do lugar

O estudo revelou que o âmbar teve origem como resina de árvores em florestas costeiras.

Durante tsunamis gigantescos, pedaços inteiros dessas florestas foram arrancados e levados ao mar, levando junto a resina, árvores, plantas e solo.

O material foi parar diretamente no fundo do oceano, sendo posteriormente soterrado por sedimentos marinhos.

Tsunamis são fenômenos extremamente destrutivos. Eles são provocados por terremotos submarinos ou deslizamentos de terra.

Avançam rapidamente e destroem tudo o que está pelo caminho. Apesar de hoje serem bem documentados, encontrar provas da sua ocorrência em tempos tão antigos é extremamente difícil.

Isso acontece porque os registros geológicos deixados por tsunamis, como areia ou conchas, tendem a desaparecer com o tempo. E, muitas vezes, são confundidos com sinais deixados por inundações ou tempestades. Mas o âmbar trouxe uma nova possibilidade.

Sequência sedimentar com surpresa

A equipe investigou uma sequência sedimentar do período Cretáceo Inferior. Os depósitos tinham cerca de 150 metros de espessura, com base vulcânica e, sobre ela, uma grossa camada de sedimentos marinhos. Foi nessa transição que o âmbar apareceu, infiltrado no meio do arenito profundo.

No total, foram encontradas 30 camadas distintas com âmbar. Em algumas delas, o material representava até 80% da superfície visível. Uma das camadas era tão concentrada que havia até sete centímetros de espessura de âmbar sobre dez metros de rocha marinha. Um verdadeiro mistério para os cientistas.

Mais do que a quantidade, o que mais chamou a atenção foi o estado em que o âmbar foi encontrado. A aparência da resina indicava que ela ainda estava mole quando foi depositada no fundo do mar.

Reconstrução de tsunamis de grande escala do Cretáceo Inferior que atingiram o fundo do mar a partir da terra. Imagem do estudo.

Técnica revela “chamas” sob a água

Para analisar melhor, os pesquisadores usaram uma técnica conhecida como “tomografia de moagem de fluorescência”. Essa técnica permite fatiar a amostra e observá-la sob luz ultravioleta. Foi assim que eles notaram deformações no âmbar, com dobras e fluxos que lembram chamas se formando para cima — um sinal típico da areia úmida quando é pressionada.

Essas formações mostram que o âmbar ainda era resina fresca e macia quando afundou. Ele se misturou à lama do fundo do mar e só depois endureceu. Se estivesse seco, teria se quebrado ou se depositado de forma diferente.

Segundo os pesquisadores, a resina moderna endurece em cerca de uma semana quando exposta ao ar. Mas debaixo d’água, ela permanece macia por mais tempo. Esse comportamento foi essencial para entender o caminho que levou o material até o fundo marinho.

Árvores afundadas e lodo arrancado

Outro detalhe importante da descoberta foi o que estava junto com o âmbar. As camadas vinham acompanhadas de madeira flutuante, pedaços de lama e sedimentos misturados. Alguns fragmentos de madeira mediam mais de um metro de comprimento. Também havia blocos de lama arrancados do próprio fundo do oceano.

Esses elementos indicavam que um evento de grande energia havia arrastado tudo de uma só vez. A presença dos chamados “turbiditos” — arenitos formados por avalanches submarinas de sedimentos — reforçava essa teoria.

A explicação mais plausível: um tsunami.

Um evento em cadeia

A hipótese dos cientistas é que um terremoto provocado pela subducção de placas tectônicas gerou um grande tsunami.

Ele avançou do mar em direção à terra, arrasando florestas costeiras, arrancando árvores e carregando a resina das plantas. Ao mesmo tempo, plataformas costeiras desabaram, lançando sedimentos e calcário no fundo do oceano.

Esse conjunto de materiais foi sendo depositado ao longo do tempo no fundo da bacia pelágica. Enquanto areia e lama afundavam rapidamente, resina e madeira flutuavam mais tempo, sendo depositadas depois.

A repetição de camadas sugere que esse tipo de tsunami aconteceu várias vezes durante aquele período geológico.

Uma nova função para o âmbar

O âmbar já era conhecido como um material valioso para a ciência. Ele preserva vestígios de vida antiga, como insetos e pólen. Mas agora ele também pode funcionar como registro de catástrofes naturais.

Essa nova utilidade transforma o entendimento que se tinha do âmbar. Em vez de apenas uma lembrança de antigas florestas, ele se torna também uma testemunha de eventos dramáticos. E, em um ambiente marinho profundo, onde ciclones e enchentes não alcançam, o registro de tsunamis se torna mais fácil de identificar.

A pesquisa mostra que o âmbar pode ser usado para rastrear eventos extremos do ado, especialmente quando outras marcas desapareceram. E mais: oferece uma nova forma de estudar o transporte de sedimentos em ambientes marinhos.

Conclusão científica valiosa

O estudo, publicado na revista Nature Scientific Reports, representa um avanço importante na compreensão dos tsunamis antigos. As características únicas do âmbar, especialmente quando associado a sedimentos de profundidade, abrem caminho para novas investigações em regiões onde o litoral mudou ou desapareceu com o tempo.

Segundo os autores, a resina deve ser vista não apenas como um fóssil, mas como parte de um processo sedimentar completo. Ela registra desde a erosão até o soterramento, fornecendo informações que antes eram invisíveis para os geólogos.

Essa descoberta reforça a importância da observação detalhada de estruturas aparentemente comuns. Um simples pedaço de âmbar, quando bem estudado, pode contar uma história de destruição e transformação que começou há mais de 100 milhões de anos.

O estudo foi publicado na Nature Scientific Reports .

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail [email protected].

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