Com demanda crescente por energia, restrições a projetos solares e eólicos podem gerar gargalos, atrasos e aumento de custos para empresas de tecnologia.
Empresas responsáveis por data centers nos Estados Unidos estão soando o alarme diante das novas diretrizes do governo Trump que restringem o desenvolvimento de energias renováveis em território norte-americano. O setor, que já enfrenta um crescimento acelerado por conta da corrida global da inteligência artificial (IA), teme que a política energética da nova istração possa comprometer não apenas a expansão dos centros de dados, mas também a posição estratégica dos EUA na inovação digital.
As preocupações aumentaram após a suspensão de projetos de energia limpa em terras federais e o cancelamento de iniciativas como o parque eólico Empire Wind, de US$ 5 bilhões, da empresa Equinor. A medida também envolveu o fim de empréstimos federais voltados ao setor e deixou em estado de alerta investidores, operadoras e fornecedores de infraestrutura tecnológica.
Pressão sobre o fornecimento de energia
De acordo com o think tank Center for Strategic and International Studies, a demanda adicional dos data centers nos EUA até 2030 será de aproximadamente 83,7 gigawatts — o equivalente a criar uma nova rede elétrica de um estado do tamanho do Texas. Essa explosão de consumo está diretamente ligada ao avanço da IA generativa, que exige grandes volumes de dados, servidores potentes e operação constante.
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Especialistas do setor afirmam que o uso de energia renovável é essencial para alimentar esses sistemas de forma econômica e ambientalmente viável. Sem a expansão dessas fontes, há risco de gargalos no fornecimento, aumento de custos e dependência de fontes mais poluentes, como gás e carvão.
Simon Ninan, vice-presidente sênior da Hitachi Vantara, afirmou que “a abordagem antagônica à energia renovável pode tornar impossível satisfazer o crescimento de dados que está acontecendo”. Ele também alertou que os EUA podem comprometer sua liderança na corrida global pela IA, enquanto países como a China adotam estratégias mais proativas para modernizar suas redes elétricas.
Trump prioriza combustíveis fósseis e trava expansão de energias renováveis
O governo Trump tem defendido a expansão do uso de combustíveis fósseis como forma de garantir segurança energética diante do avanço tecnológico. Em declarações recentes, assessores da Casa Branca apontaram que perder a supremacia da IA para a China seria mais perigoso que o aquecimento global.
A retórica é acompanhada de medidas concretas: além de bloquear novos projetos eólicos em áreas federais, o governo também interrompeu linhas de crédito que apoiavam instalações solares e suspendeu avaliações ambientais para novos empreendimentos.
As decisões motivaram reação imediata de estados liderados por democratas. Nesta semana, uma coalizão formada por 17 procuradores-gerais estaduais entrou com ação judicial para barrar as restrições impostas à energia eólica, defendendo a continuidade de investimentos e a manutenção de empregos.
Amazon, Google e Microsoft se manifestam
Grandes empresas do setor de tecnologia, como Amazon, Microsoft, Meta e Google — todas com operações de hiperescala — estão entre as mais impactadas pelas mudanças regulatórias. A Amazon Web Services, maior compradora corporativa de energia renovável no mundo, reiterou que o uso de fontes limpas é essencial para manter os custos baixos e atingir suas metas climáticas.
Kevin Miller, vice-presidente de Data Centers Globais da AWS, afirmou que “a energia renovável pode frequentemente ser mais barata do que alternativas porque não há necessidade de comprar combustível”. Segundo ele, os contratos de compra firmados pela empresa foram vantajosos em termos econômicos e ambientais.
A Equinix, outra gigante do setor de infraestrutura digital, destacou que a demanda por energias renováveis nunca foi tão alta. Christopher Wellise, vice-presidente de sustentabilidade da companhia, disse que as novas restrições impõem “desafios a curto e médio prazo” que podem afetar planos de expansão e compromissos ambientais.
Gargalos e risco de atraso nos investimentos de energias renováveis
Empresas como a Stonepeak, especializada em ativos reais e infraestrutura, afirmam que o mercado tem registrado concorrência crescente por energia limpa, mas que as políticas atuais estão gerando incertezas. Nick Hertlein, diretor istrativo da empresa, destacou que o desenvolvimento da IA precisa ser acompanhado por decisões públicas que viabilizem o crescimento do setor de data centers.
Mesmo com tentativas de compensar o déficit energético com projetos movidos a gás, fornecedores como Siemens e GE Vernova alertaram que a entrega de turbinas maiores pode levar até 2029, tornando a expansão lenta e dispendiosa. Isso coloca ainda mais pressão sobre as energias renováveis, que são mais rápidas de instalar e mais baratas de operar.
Rich Powell, CEO da Clean Energy Buyers Association, foi direto: “Se não conseguirmos trazer novos recursos de menor custo quando a demanda estiver aumentando, teremos que depender cada vez mais de recursos de custo mais alto”.
Pequenos operadores estão em como de espera
Embora as grandes empresas tenham capacidade de influenciar politicamente ou absorver parte dos custos, pequenas e médias operadoras estão em um cenário de espera. Segundo Simon Ninan, essas companhias aguardam uma possível flexibilização nas tarifas e desburocratização dos projetos de energia limpa antes de tomarem decisões de investimento.
Sem garantias de fornecimento estável e barato, muitos projetos estão sendo adiados ou redimensionados. Em alguns casos, isso pode resultar até em cancelamentos de expansões planejadas ou interrupção de contratos já em negociação.
Cenário estadual de energias renováveis também é incerto
Alguns estados norte-americanos também aram a adotar medidas que restringem a instalação de sistemas solares e eólicos. No Texas, terceiro maior mercado de data centers dos EUA, estão em debate legislações que aumentam a regulação sobre projetos de energia renovável, o que pode afetar diretamente a atratividade do estado para novos empreendimentos.
Doug Lewin, presidente da Stoic Energy, alertou que esse movimento pode colocar em risco uma “enorme oportunidade” para o crescimento regional dos centros de dados. Ele afirmou que “a Virgínia tem capacidade limitada de expansão, e o Texas seria uma alternativa viável, mas os projetos de lei propostos podem acabar com isso”.