Criado a partir de anticorpos de um homem picado por 200 cobras, novo antídoto testado por cientistas do NIH e da Centivax oferece proteção inédita e pode revolucionar o tratamento de envenenamentos
Pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) e da empresa Centivax desenvolveram um novo antídoto contra veneno de cobra com resultados promissores. O estudo foi publicado na semana ada na revista Cell e mostrou que o antídoto protegeu camundongos expostos ao veneno de 19 cobras altamente venenosas.
O diferencial da pesquisa está na origem do antídoto. Ele foi parcialmente derivado de anticorpos extraídos do sangue de um homem que, ao longo da vida, foi picado cerca de 200 vezes por diferentes espécies de cobras.
O homem, chamado Tim Friede, é herpetologista autodidata e começou a se expor voluntariamente ao veneno há quase duas décadas.
-
Japão cria um novo material que resolve um dos principais problemas do mundo
-
Astrônomos descobrem planeta onde chove metal e ventos ultraam 8 mil km/h; um dos mundos mais extremos já observados
-
Tesla ou BYD? Estudo inédito revela os segredos das baterias dos carros elétricos que dominam o Brasil e o mundo
-
Jarro Zeer: a tecnologia simples do Egito Antigo — como funciona a “geladeira sem energia”
Um doador com imunidade rara
Friede se dedicou a criar resistência ao veneno de cobra. Segundo a NPR, suas primeiras experiências o levaram ao hospital em coma.
Mesmo assim, ele continuou o experimento, sendo picado repetidas vezes e injetando em si doses de veneno. Ao perceber que estava hiperimune, ele se ofereceu para colaborar com cientistas.
Em 2017, Friede entrou em contato com Jacob Glanville, fundador da Centivax. A equipe de Glanville isolou dois anticorpos específicos do sangue de Friede que apresentaram grande potencial de neutralizar toxinas de várias cobras. Esses anticorpos foram então sintetizados em laboratório.
Resultados em testes com camundongos
Os pesquisadores combinaram os anticorpos com uma molécula experimental chamada varespladibe. Essa molécula já havia mostrado potencial contra toxinas de cobras. O resultado foi um coquetel antiveneno com três componentes.
Nos testes, os camundongos foram expostos ao veneno de 19 cobras pertencentes à família elapídeo, que inclui espécies como as najas e a mamba-negra. Essas cobras estão classificadas nas categorias 1 e 2 da Organização Mundial da Saúde, consideradas as mais perigosas do mundo.
O coquetel ofereceu proteção total, com 100% de sobrevivência, contra o veneno de 13 dessas cobras. Para as outras seis espécies, a proteção foi parcial, mas ainda significativa.
Possível avanço rumo a um antídoto universal
A pesquisa representa um o importante em direção ao desenvolvimento de um antídoto universal. Hoje, os antídotos são produzidos a partir da resposta imunológica de animais, geralmente cavalos.
Esses tratamentos funcionam bem, mas costumam ser limitados a toxinas específicas e podem causar reações adversas, como a chamada doença do soro.
Outras equipes também estão em busca de soluções mais abrangentes. No entanto, segundo os pesquisadores da Centivax, este é o primeiro candidato de antídoto desenvolvido com anticorpos sintéticos derivados de um humano com exposição real e prolongada a diversos venenos.
Próximos os da pesquisa
A Centivax continua o desenvolvimento do coquetel e pretende realizar novos testes em cães picados por cobras na Austrália. Esses animais são levados para clínicas veterinárias após o ataque, o que pode permitir observar a eficácia do tratamento em situações reais.
O objetivo da empresa é ampliar o alcance do antídoto, criando uma versão que também atue contra a outra grande família de cobras venenosas: as víboras. Com isso, os cientistas esperam desenvolver um antídoto ainda mais abrangente — talvez até um único tratamento contra todos os tipos de venenos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, entre dois e quatro milhões de pessoas são envenenadas por cobras a cada ano.
Destas, cerca de 100 mil morrem. Se o novo antídoto se mostrar eficaz em humanos, poderá salvar milhares de vidas, especialmente em países em desenvolvimento, onde os casos são mais frequentes.
Com informações de Gizmodo.