Uma revolução no setor automotivo, com raízes em tecnologia esquecida, ganha vida através de inovação e avanços em suspensões, tornando-se referência mundial.
Uma tecnologia desenvolvida há mais de duas décadas, que parecia esquecida pelo tempo, renasceu com força total e se tornou o segredo por trás da suavidade de um dos SUVs elétricos mais sofisticados da atualidade.
O Nio ET9, modelo chinês avaliado em cerca de US$ 110 mil, viralizou nas redes sociais por desafiar as leis da física — ou pelo menos parecer fazer isso.
Em vídeos que impressionam pela estabilidade, o carro atravessa lombadas e desníveis com taças de champanhe sobre a carroceria, sem que uma gota seja derramada.
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O segredo por trás dessa estabilidade impressionante está em um sistema de suspensão com raízes curiosamente americanas, e não chinesas.
A inovação teve origem na década de 1980, quando a renomada fabricante de equipamentos de áudio Bose decidiu investir em uma ideia ambiciosa: criar a suspensão automotiva mais avançada do mundo.
Batizado de Project Sound, o projeto foi idealizado pelo fundador da empresa, Amar Bose, um engenheiro elétrico com paixão pela perfeição tecnológica.
A origem de uma suspensão visionária
Inspirado pelas limitações de sistemas já existentes, como o famoso sistema hidropneumático da Citroën, Bose acreditava que poderia criar algo mais eficaz, leve e com menor necessidade de manutenção.
Sua proposta era substituir os tradicionais sistemas hidráulicos e pneumáticos por um conjunto de atuadores eletromecânicos, capazes de responder em tempo real às imperfeições da pista.
O sistema da Bose usava motores elétricos montados diretamente nos amortecedores, comandados por algoritmos complexos que se ajustavam conforme as condições do solo.
O resultado era uma condução incrivelmente suave, algo que parecia saído de um filme de ficção científica.
Entretanto, apesar dos testes promissores — um protótipo funcional chegou a ser instalado em um Lexus LS 400 — o alto custo e as limitações da computação da época impediram a produção em massa.
O próprio Amar Bose era conhecido por seu perfeccionismo extremo, o que atrasou ainda mais a comercialização da tecnologia.
Foram cinco anos apenas refinando as equações que comandavam o sistema.
Segundo o próprio engenheiro, diversas montadoras demonstraram interesse — incluindo Honda, Mercedes-Benz, Jaguar e até a Ferrari — mas nenhuma chegou a firmar um acordo definitivo.
Do limbo ao renascimento
Por volta de 2004, o projeto foi oficialmente engavetado.
Durante anos, tornou-se quase uma lenda urbana entre entusiastas da engenharia automotiva.
No entanto, em 2017, a história começou a mudar com a entrada em cena da startup americana ClearMotion.
Fundada por ex-engenheiros do MIT, a empresa viu potencial comercial na suspensão da Bose e comprou os direitos da tecnologia, incluindo patentes, protótipos e softwares.
Segundo documentos da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC), foram arrecadados mais de US$ 100 milhões em investimentos para reviver o projeto.
A abordagem da ClearMotion foi diferente: eles simplificaram a mecânica e apostaram no avanço da computação embarcada para tornar o sistema mais ível e confiável.
Essa aposta rendeu frutos.
Em 2023, a Nio — montadora chinesa conhecida por sua aposta em veículos elétricos de alto desempenho — assinou um contrato milionário com a ClearMotion.
O acordo previa a instalação da tecnologia em cerca de 750 mil veículos nos anos seguintes, incluindo o sofisticado ET9.
A chegada do SkyRide
Rebatizado de SkyRide, o sistema é agora uma das grandes apostas da indústria automotiva chinesa.
Integrado ao conjunto de sensores e câmeras do Nio ET9, ele realiza milhares de ajustes por segundo em cada roda do carro, antecipando-se ao terreno com ajuda da inteligência artificial.
Toda a frota da Nio colabora para esse sistema, enviando dados em tempo real sobre as condições das vias por onde circula.
A inovação vai além do conforto.
O SkyRide também inclui funções adicionais que aproveitam sua capacidade de movimentar individualmente cada parte da suspensão.
Entre os recursos mais curiosos estão um modo de “sacudida” para remover neve acumulada e um sistema antienjoo, ideal para ageiros mais sensíveis.
Há até um minijogo que permite controlar a inclinação do carro usando o movimento do celular.
Atualizações são feitas remotamente, via internet, permitindo que novos recursos sejam adicionados com o tempo, como já ocorre em muitos veículos elétricos de última geração.
Uma revolução com raízes esquecidas
O renascimento da suspensão da Bose não apenas coloca a Nio em evidência no mercado global, como também reforça a importância de revisitar projetos considerados inviáveis no ado.
Com os avanços da tecnologia, aquilo que antes era impossível pode se tornar a próxima grande tendência da indústria.
Esse movimento também mostra como a China está cada vez mais apostando na aquisição e aprimoramento de tecnologias ocidentais em vez de simplesmente copiá-las, como era comum no ado.
O caso da Nio e da ClearMotion é um exemplo claro dessa mudança de estratégia.
Com a ascensão de tecnologias como o SkyRide, o conceito de “tapete voador” pode deixar de ser um mero elogio para se tornar uma descrição literal da experiência ao dirigir.
E o mais curioso é que isso se tornou realidade não pelas mãos de uma gigante europeia ou americana, mas por uma união improvável entre uma startup de engenharia e uma montadora chinesa.
Você já imaginou um carro capaz de antecipar buracos na pista e ajustar a suspensão antes mesmo de ar por eles? Deixe seu comentário abaixo e compartilhe sua opinião sobre essa revolução na forma de dirigir!