1. Início
  2. / Ciência e Tecnologia
  3. / Transformando lixo em tesouro — como os micro-ondas estão revolucionando a reciclagem de lixo eletrônico
Tempo de leitura 4 min de leitura Comentários 0 comentários

Transformando lixo em tesouro — como os micro-ondas estão revolucionando a reciclagem de lixo eletrônico

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 10/06/2025 às 19:30
lixo eletrônico

Micro-ondas e lixo eletrônico: o avanço que pode mudar a reciclagem de metais raros

O tântalo está em quase todos os celulares e laptops. Mesmo assim, poucas pessoas sabem o que ele é. Esse metal raro, essencial para o funcionamento de dispositivos eletrônicos, quase sempre é perdido após o descarte. Vai parar em aterros ou é exportado com o lixo eletrônico. Agora, pesquisadores buscam mudar isso com uma solução inesperada: micro-ondas.

O valor estratégico do tântalo

O tântalo é resistente ao calor e indispensável para a produção de capacitores. Esses componentes armazenam e liberam energia de forma eficiente em eletrônicos modernos.

Estão presentes em celulares, laptops, equipamentos médicos e até sistemas aeroespaciais. Cerca de 24% da produção mundial de tântalo é destinada a esses capacitores.

Dia
Xaomi 14T Pro tá um absurdo de potente e barato! Corre na Shopee e garanta o seu agora!
Ícone de Episódios Comprar

Apesar de seu papel essencial, a recuperação desse material é extremamente ineficiente. Em 2024, o tântalo custava US$ 170 por quilo — muito mais caro do que o cobre, que girava em torno de US$ 9,50. Ainda assim, reciclar tântalo a partir de lixo eletrônico é caro, demorado e poluente. A maior parte simplesmente não é reaproveitada.

Lixo eletrônico em números preocupantes

Em 2022, o mundo gerou mais de 62 milhões de toneladas de lixo eletrônico. Grande parte desses resíduos é jogada fora sem qualquer reaproveitamento. Outros são enviados para o exterior, onde acabam em centros de reciclagem informais e perigosos. Métodos como queima de placas ou uso de ácidos oferecem riscos graves à saúde humana e ao meio ambiente.

A perda de metais críticos como o tântalo não é apenas um problema ambiental. É também estratégico. Os Estados Unidos, por exemplo, dependem da importação de tântalo de países como a China. Qualquer interrupção no fornecimento pode impactar indústrias inteiras, da eletrônica à defesa.

A solução no micro-ondas

Foi diante desse cenário que pesquisadores da Universidade da Virgínia Ocidental decidiram buscar uma alternativa. A equipe do Departamento de Engenharia Mecânica, de Materiais e Aeroespacial testou uma ideia simples: usar micro-ondas para reciclar o tântalo.

O processo começa com a trituração de capacitores usados. O pó resultante é misturado com um material à base de carbono. Diferente da água, o carbono absorve micro-ondas com facilidade. Isso permite direcionar o calor com precisão. A energia ativa uma reação química conhecida como “redução carbotérmica”. Assim, o composto de tântalo é transformado em carboneto de tântalo puro.

Esse método mostrou ser eficaz. A pureza do metal recuperado ou de 97%, segundo um estudo recente publicado na Scientific Reports. Além disso, a técnica não usa produtos químicos agressivos. Também consome menos energia e produz menos resíduos.

Da bancada ao mundo real

Os primeiros testes foram promissores, mas o desafio agora é outro: escalar a tecnologia. A equipe iniciou projetos-piloto para aplicar o método em lotes maiores. Estão usando lixo eletrônico real, como placas de circuitos de celulares e servidores de data centers.

O projeto recebeu apoio da DARPA, a agência de pesquisas avançadas do Departamento de Defesa dos EUA. O investimento faz parte do programa RPOD — Reciclagem no Ponto de Descarte. A justificativa vai além do meio ambiente: garantir segurança nacional por meio da reciclagem doméstica de materiais críticos como o tântalo.

Caminho para uma reciclagem lucrativa

Para que a tecnologia se espalhe, é preciso mais do que eficiência. É necessário que seja financeiramente viável. E nesse ponto, o tântalo tem uma vantagem. Com um valor de mercado alto, torna-se atraente para empresas. Se puder ser recuperado de forma barata, segura e em larga escala, o interesse tende a crescer.

A possibilidade de lucro, somada à redução de impactos ambientais, forma uma equação poderosa. Usar micro-ondas para recuperar metais como o tântalo pode transformar centros de reciclagem e reduzir a dependência externa.

Um futuro com menos perdas

Recuperar o tântalo de lixo eletrônico com micro-ondas pode parecer inusitado. Mas a abordagem une tecnologia ível, eficiência energética e ganhos reais. O sucesso dos testes laboratoriais e o interesse do setor militar dos EUA mostram que essa pode ser uma das principais apostas no futuro da reciclagem eletrônica.

Se funcionar em larga escala, será possível evitar o desperdício de materiais valiosos, reduzir danos ambientais e garantir mais autonomia na produção tecnológica.

E tudo isso pode começar com algo tão simples quanto um forno de micro-ondas.

Seja o primeiro a reagir!
Reagir ao artigo
Inscreva-se
Entre com
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
s
Visualizar todos comentários

Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail [email protected].

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x