Micro-ondas e lixo eletrônico: o avanço que pode mudar a reciclagem de metais raros
O tântalo está em quase todos os celulares e laptops. Mesmo assim, poucas pessoas sabem o que ele é. Esse metal raro, essencial para o funcionamento de dispositivos eletrônicos, quase sempre é perdido após o descarte. Vai parar em aterros ou é exportado com o lixo eletrônico. Agora, pesquisadores buscam mudar isso com uma solução inesperada: micro-ondas.
O valor estratégico do tântalo
O tântalo é resistente ao calor e indispensável para a produção de capacitores. Esses componentes armazenam e liberam energia de forma eficiente em eletrônicos modernos.
Estão presentes em celulares, laptops, equipamentos médicos e até sistemas aeroespaciais. Cerca de 24% da produção mundial de tântalo é destinada a esses capacitores.
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Apesar de seu papel essencial, a recuperação desse material é extremamente ineficiente. Em 2024, o tântalo custava US$ 170 por quilo — muito mais caro do que o cobre, que girava em torno de US$ 9,50. Ainda assim, reciclar tântalo a partir de lixo eletrônico é caro, demorado e poluente. A maior parte simplesmente não é reaproveitada.
Lixo eletrônico em números preocupantes
Em 2022, o mundo gerou mais de 62 milhões de toneladas de lixo eletrônico. Grande parte desses resíduos é jogada fora sem qualquer reaproveitamento. Outros são enviados para o exterior, onde acabam em centros de reciclagem informais e perigosos. Métodos como queima de placas ou uso de ácidos oferecem riscos graves à saúde humana e ao meio ambiente.
A perda de metais críticos como o tântalo não é apenas um problema ambiental. É também estratégico. Os Estados Unidos, por exemplo, dependem da importação de tântalo de países como a China. Qualquer interrupção no fornecimento pode impactar indústrias inteiras, da eletrônica à defesa.
A solução no micro-ondas
Foi diante desse cenário que pesquisadores da Universidade da Virgínia Ocidental decidiram buscar uma alternativa. A equipe do Departamento de Engenharia Mecânica, de Materiais e Aeroespacial testou uma ideia simples: usar micro-ondas para reciclar o tântalo.
O processo começa com a trituração de capacitores usados. O pó resultante é misturado com um material à base de carbono. Diferente da água, o carbono absorve micro-ondas com facilidade. Isso permite direcionar o calor com precisão. A energia ativa uma reação química conhecida como “redução carbotérmica”. Assim, o composto de tântalo é transformado em carboneto de tântalo puro.
Esse método mostrou ser eficaz. A pureza do metal recuperado ou de 97%, segundo um estudo recente publicado na Scientific Reports. Além disso, a técnica não usa produtos químicos agressivos. Também consome menos energia e produz menos resíduos.
Da bancada ao mundo real
Os primeiros testes foram promissores, mas o desafio agora é outro: escalar a tecnologia. A equipe iniciou projetos-piloto para aplicar o método em lotes maiores. Estão usando lixo eletrônico real, como placas de circuitos de celulares e servidores de data centers.
O projeto recebeu apoio da DARPA, a agência de pesquisas avançadas do Departamento de Defesa dos EUA. O investimento faz parte do programa RPOD — Reciclagem no Ponto de Descarte. A justificativa vai além do meio ambiente: garantir segurança nacional por meio da reciclagem doméstica de materiais críticos como o tântalo.
Caminho para uma reciclagem lucrativa
Para que a tecnologia se espalhe, é preciso mais do que eficiência. É necessário que seja financeiramente viável. E nesse ponto, o tântalo tem uma vantagem. Com um valor de mercado alto, torna-se atraente para empresas. Se puder ser recuperado de forma barata, segura e em larga escala, o interesse tende a crescer.
A possibilidade de lucro, somada à redução de impactos ambientais, forma uma equação poderosa. Usar micro-ondas para recuperar metais como o tântalo pode transformar centros de reciclagem e reduzir a dependência externa.
Um futuro com menos perdas
Recuperar o tântalo de lixo eletrônico com micro-ondas pode parecer inusitado. Mas a abordagem une tecnologia ível, eficiência energética e ganhos reais. O sucesso dos testes laboratoriais e o interesse do setor militar dos EUA mostram que essa pode ser uma das principais apostas no futuro da reciclagem eletrônica.
Se funcionar em larga escala, será possível evitar o desperdício de materiais valiosos, reduzir danos ambientais e garantir mais autonomia na produção tecnológica.
E tudo isso pode começar com algo tão simples quanto um forno de micro-ondas.