Descoberta rendeu prêmio expressivo e chamou atenção da comunidade científica pelo volume e precisão da análise feita pelo jovem
Um estudante do ensino médio encontrou 1,5 milhão de objetos espaciais até então desconhecidos. Com somente 18 anos, o americano Matteo Paz usou inteligência artificial para analisar um gigantesco banco de dados esquecido da NASA.
Como resultado, ele recebeu US$ 250 mil (R$ 1.452.000,00) pela descoberta e teve seu trabalho publicado em uma das principais revistas científicas de astronomia.
De observador curioso a cientista premiado
A trajetória de Matteo começou ainda criança, quando assistia às palestras públicas de observação de estrelas no Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech). Em 2022, ele ingressou na Planet Finder Academy, um programa educacional voltado para jovens interessados em astronomia.
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Lá, ou a ser orientado por Davy Kirkpatrick, cientista sênior do IPAC, centro que opera os dados de várias missões espaciais da NASA. Logo nos primeiros encontros, Matteo disse a Kirkpatrick que gostaria de publicar um artigo científico. Em vez de desanimar o jovem, o cientista aceitou o desafio.
“Ele disse: ‘OK, então vamos conversar sobre isso‘”, relembrou Matteo.
A base de dados esquecida da NASA
O projeto proposto envolvia os dados do telescópio NEOWISE, um observatório espacial que operou por mais de uma década mapeando o céu em infravermelho.
A missão original era identificar asteroides próximos da Terra, mas os arquivos do NEOWISE continham informações muito mais amplas, com sinais de outros fenômenos, como quasares, estrelas variáveis e sistemas binários eclipsantes.
Mesmo aposentado, o telescópio deixou um legado de quase 200 bilhões de linhas de observações. Esses dados, no entanto, não haviam sido totalmente analisados, especialmente no que diz respeito à variabilidade — alterações no brilho dos objetos ao longo do tempo.
Kirkpatrick sugeriu um projeto mais contido, observando uma pequena parte do céu. Mas Matteo quis ir além.
Algoritmo inteligente para detectar o invisível
Graças à sua formação em matemática e ciência da computação, o jovem desenvolveu um algoritmo baseado em aprendizado de máquina.
Ele havia estudado cálculo avançado desde o ensino fundamental e aprendido a aplicar técnicas de inteligência artificial a dados temporais.
Esse conhecimento permitiu que Matteo criasse um sistema capaz de detectar pequenas variações no brilho infravermelho, sinalizando objetos que os métodos tradicionais não conseguiam identificar.
Depois de dois anos de aprimoramento e colaboração com os astrônomos, o modelo foi capaz de processar todo o banco de dados do NEOWISE.
O resultado foi a identificação de 1,5 milhão de fontes celestes variáveis que ainda não haviam sido catalogadas.
Nova janela para o universo
A descoberta não só aumenta o número de objetos conhecidos no espaço, como também amplia as possibilidades de estudo sobre o comportamento de fenômenos cósmicos. Quasares, explosões estelares e estrelas binárias podem agora ser melhor compreendidos.
“O modelo que implementei pode ser usado em outros estudos temporais na astronomia e também fora dela”, explicou Matteo. Ele cita possíveis aplicações em áreas como análise do mercado de ações e monitoramento da poluição atmosférica.
Seu método, chamado de “Modelo de Fourier e Wavelet de Submilissegundos”, foi projetado para captar tanto eventos rápidos quanto mudanças lentas — padrões que muitas vezes am despercebidos por abordagens tradicionais.
Do aprendizado à mentoria
Após sua primeira participação em 2022, Matteo retornou à Planet Finder Academy em 2024 como mentor de novos estudantes do ensino médio. Agora funcionário remunerado do Caltech, ele segue trabalhando com Kirkpatrick no IPAC.
As reuniões com seu mentor, segundo ele, são descontraídas e produtivas. “Cada reunião com o Davy é 10% trabalho e 90% só bate-papo. Tem sido muito legal ter alguém com quem conversar sobre ciência dessa forma”, contou.
Kirkpatrick também reconhece o valor de orientar novos talentos. “Se eu vejo o potencial deles, quero ter certeza de que o estão alcançando. Farei tudo o que puder para ajudá-los.”
Catálogo será lançado em 2025
As descobertas feitas por Matteo ainda não foram totalmente divulgadas. O catálogo com os 1,5 milhão de objetos está previsto para ser lançado em 2025. Quando estiver disponível, poderá se tornar uma referência importante para a comunidade astronômica.
A publicação de Matteo no The Astronomical Journal foi assinada apenas por ele, um feito incomum para alguém tão jovem. O impacto do seu trabalho pode mudar a forma como os cientistas observam a variabilidade no cosmos.
Ao transformar dados ignorados em novas descobertas, Matteo mostrou como a combinação de curiosidade, conhecimento técnico e mentoria pode abrir caminhos até então impensáveis na ciência.