Um aperto nas exportações de minerais críticos ameaça paralisar não apenas montadoras, mas também indústrias aeroespaciais, tecnológicas e de defesa. O alerta é global.
Imagine o mundo avançando em direção à eletrificação total da mobilidade, com bilhões investidos em infraestrutura verde, fábricas de baterias e redes de carregamento. Agora imagine tudo isso parar por causa de uma decisão tomada do outro lado do planeta. É exatamente esse cenário que assombra governos e empresas: a China tem hoje o poder de frear, sozinha, o avanço da indústria global de veículos elétricos — e o tempo para reagir é curtíssimo.
Segundo estimativas do setor, os estoques globais de certos minerais críticos duram apenas seis semanas. A cadeia de produção que sustenta carros elétricos, chips, satélites e armas modernas está perigosamente concentrada nas mãos de uma única nação — e ela já começou a fechar as torneiras.
O monopólio chinês sobre minerais estratégicos
A China controla mais de 90% da produção mundial de terras raras — um grupo de 17 elementos químicos usados em diversas aplicações de alta tecnologia. Mas não se trata apenas de extração: o país asiático também domina o refino e a industrialização desses materiais, o que torna sua influência ainda mais profunda.
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Em abril de 2025, o governo de Xi Jinping ou a exigir licenças especiais para exportação de seis minerais essenciais e de imãs de alto desempenho usados na indústria automotiva, aeroespacial e militar. Os materiais afetados incluem:
- Gálio e germânio – vitais para semicondutores e painéis solares
- Antimônio – usado em baterias e componentes retardadores de chama
- Disprósio e escândio – elementos fundamentais na produção de imãs resistentes ao calor e ligas metálicas para aviação
Além disso, a China começou a restringir a exportação de compostos usados na fabricação de imãs de neodímio, essenciais para o funcionamento de motores elétricos compactos e de alto rendimento, utilizados em carros, drones, mísseis e turbinas eólicas.
A retaliação às tarifas de Trump
Esse movimento geopolítico ocorre como resposta direta aos novos pacotes de tarifas impostos por Donald Trump, que voltou a aplicar sanções econômicas sobre produtos chineses. Em 2 de abril, o ex-presidente dos EUA anunciou tarifas sobre cerca de 60% das importações vindas da China, incluindo baterias, painéis solares e veículos elétricos.
Menos de 24 horas depois, Pequim bloqueou as exportações de minerais estratégicos ao mercado americano, escalando uma guerra comercial que tem como campo de batalha os recursos do subsolo.
Mas os impactos não se restringem aos EUA. Empresas da Europa, Japão e até da Índia também dependem da cadeia industrial chinesa. Com os minerais sendo utilizados como ferramenta de pressão, os países que não possuem reservas próprias ou estrutura de refino ficam expostos a uma crise de abastecimento.
Setores em risco: da mobilidade elétrica à segurança nacional
Os minerais raros e seus derivados são insubstituíveis em muitos setores. Na indústria automotiva, por exemplo, os motores elétricos dependem de imãs permanentes à base de neodímio e disprósio, que garantem leveza, potência e alta eficiência energética.
Na aviação, ligas metálicas com escândio tornam aeronaves mais leves e resistentes. No campo militar, sensores, mísseis guiados e radares usam semicondutores feitos com gálio e germânio. Na tecnologia de consumo, celulares, tablets e computadores também contêm elementos dessas famílias químicas.
Segundo relatório da IEA (Agência Internacional de Energia), a demanda por minerais críticos vai quadruplicar até 2040, principalmente por causa da transição energética. Se a oferta for interrompida, os planos globais para descarbonização podem entrar em colapso.
E o Brasil? Potência mineral, mas não industrial
O Brasil é um dos países com maiores reservas potenciais de terras raras no mundo. Regiões como Minas Gerais, Bahia, Goiás e Amazonas têm depósitos com elevado teor desses elementos. No entanto, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), o país ainda depende da exportação bruta dos minérios, sem uma cadeia de refino estruturada.
“Não adianta termos os recursos no solo se não conseguimos transformá-los em produtos industriais”, explica Marcus Vinícius, consultor técnico da ANM. “O Brasil precisa investir pesado em tecnologia de separação e em parcerias estratégicas para não ficar de fora do jogo.”
Apesar de iniciativas recentes com apoio do BNDES, o setor ainda carece de incentivos fiscais, marcos regulatórios claros e políticas industriais de longo prazo. Isso significa que, em caso de escassez global, o Brasil não conseguirá suprir a demanda internacional — nem mesmo a doméstica.
O alerta das montadoras e a corrida pela diversificação
Empresas como Tesla, BYD, Volkswagen e GM têm alertado governos sobre a urgência de reduzir a dependência da China. Diversas mineradoras estão sendo incentivadas a expandir operações em países como Austrália e Canadá, e novas tecnologias estão em desenvolvimento para criar baterias sem terras raras.
Mas, segundo especialistas da Benchmark Mineral Intelligence, essas alternativas ainda levarão anos para se consolidar. No curto prazo, a indústria global segue vulnerável. E o relógio corre.