Com potencial para gerar R$ 1 bilhão por ano, a exploração de urânio e fosfato em Santa Quitéria pode tornar o Brasil autossuficiente em fertilizantes e energia nuclear. Mas a extração exige alto consumo de água e levanta temores de contaminação radioativa. Ambientalistas alertam para os riscos, enquanto o governo aposta no desenvolvimento. A decisão final será tomada em 18 de fevereiro. Será que vale a pena?
No sertão cearense, um projeto ambicioso está prestes a sair do papel ou não. Santa Quitéria pode abrigar a maior mina de urânio do Brasil, um empreendimento que promete desenvolvimento econômico, mas também levanta dúvidas sobre os impactos ambientais. Afinal, será que compensa?
O que está em jogo?
A Fazenda Itataia, epicentro dessa discussão, pode virar um imenso canteiro de mineração. O plano é abrir uma cratera de quase 1 km de largura e 160 metros de profundidade para extrair colofanito, um mineral que combina fosfato e urânio.
Mas tem um detalhe importante: 99,8% do que será retirado dali é fosfato, matéria-prima para fertilizantes, enquanto o urânio representa apenas 0,2%. Ou seja, oficialmente o foco é suprir a demanda agrícola, mas o urânio, subproduto valioso, pode acabar desempenhando um papel estratégico.
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A questão é que separar esses minerais exige uma quantidade considerável de água, recurso escasso na região. O primeiro projeto, vetado pelo Ibama, previa um consumo de 30% da vazão do açude Edson Queiroz. Depois de ajustes, o novo plano promete reduzir esse impacto para 10%. Mas será que isso resolve?
Benefícios e riscos do projeto
Não dá para ignorar os benefícios. A extração de fosfato pode reduzir a dependência brasileira de fertilizantes importados, hoje, cerca de 80% vêm do exterior. Sem falar que o projeto promete gerar até 6 mil empregos diretos e indiretos, movimentando a economia local.
Conforme Epoca Negocios, no setor energético, a exploração do urânio pode fazer o Brasil multiplicar por 11 sua produção desse minério, tornando o país autossuficiente e até um possível exportador. E o faturamento estimado? Algo na casa de R$ 1 bilhão por ano. Nada mal, né?
Só que nem tudo são flores. Moradores de comunidades quilombolas, como a de Queimadas, temem que a radioatividade do urânio contamine o solo, a água e o ar. E tem mais: muitos dizem que perderiam seus clientes caso a mineração começasse, já que ninguém quer comprar alimentos de uma região associada a riscos ambientais.
Sem contar que qualquer problema no processo pode ter consequências graves para a seca que já castiga a região. Mesmo com as promessas de redução no consumo de água, os ambientalistas continuam com um pé atrás.
O papel do urânio na matriz energética brasileira
Agora, vamos pensar no lado estratégico. O mundo inteiro está em busca de fontes de energia mais confiáveis, e o urânio tem um peso importante nisso. Países da Europa e da Ásia já estão investindo mais na energia nuclear, especialmente diante da crise dos combustíveis fósseis.
O Brasil, com suas reservas naturais, poderia surfar essa onda e garantir mais segurança energética. Mas será que faz sentido apostar nessa fonte agora?
O desgaste histórico da energia nuclear no Brasil
E aqui entra um outro problema: a energia nuclear no Brasil já tem um histórico conturbado. Quem não se lembra da novela de Angra 3? A usina começou a ser construída nos anos 1980, está 65% pronta, já consumiu R$ 12 bilhões e ainda precisa de mais R$ 23 bilhões para ser finalizada.
Ah, e tem também a questão do lixo nuclear. O que fazer com os resíduos radioativos? O armazenamento seguro pode levar milhares de anos, o que significa um compromisso de longo prazo que poucos países querem assumir.
A energia nuclear não sai barata. O BNDES estimou que o megawatt gerado por Angra 3 custaria R$ 653, um dos mais caros do mercado. Ou seja, será que vale a pena investir mais nessa tecnologia?
O que vem a seguir?
A decisão sobre a mina de Santa Quitéria está marcada para o dia 18 de fevereiro, quando o Conselho Nacional de Política Energética vai bater o martelo. Se for aprovada, a mineração pode impulsionar o setor nuclear e reduzir a dependência de fertilizantes importados. Mas, se for barrada, o Brasil continuará importando a maior parte do que precisa para o agronegócio e deixando de explorar um potencial energético que muitos países estão cobiçando.