Conheça a história de Vasily Ignatenko, o jovem bombeiro que sacrificou sua vida durante o acidente nuclear de Chernobyl, e o impacto que sua trajetória deixou para o mundo
Em 26 de abril de 1986, o acidente na Usina Nuclear de Chernobyl mudou o curso da história, na antiga União Soviética. Durante um teste de segurança no Reator 4, um erro na operação das hastes de controle provocou uma explosão devastadora. A reação nuclear saiu do controle, liberando excesso de material radioativo.
O desastre gerou incêndios ao ar livre e contaminou áreas da Ucrânia, Bielorrússia, Rússia e Europa Ocidental. A radiação espalhada afetou milhares de pessoas, e a Zona de Exclusão de Chernobyl, até hoje, continua praticamente desabitada.
O início da tragédia
A explosão do Reator 4 ocorreu durante a madrugada, às 1h23. As hastes de controle, em vez de conter a reação, intensificaram a fissão nuclear. O resultado foi uma explosão de vapor que lançou a tampa superior do reator pelos ares.
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Imediatamente após a explosão, a direção da usina acionou as equipes de emergência. Bombeiros e trabalhadores da usina, sem saber da gravidade da radiação, correram para combater os focos de incêndio. Entre eles estava Vasily Ignatenko, bombeiro da Brigada Paramilitar nº 6, de Pripyat.
Vasily Ignatenko
Nascido em 13 de março de 1961, em Spiaryžža, Bielorrússia, Vasily era bombeiro e atuava em Pripyat. Na noite do acidente, foi chamado minutos após a explosão e integrou a primeira equipe enviada para conter os incêndios.
Ele foi designado para atuar no telhado do prédio de ventilação e no bloco 3, próximo ao reator destruído. Ao lado de colegas como Vladimir Tishura, Nikolai Titenok e Nikolai Vashchuck, subiu até o topo do prédio pela escada externa. Sem o aos encanamentos internos, eles improvisaram levando as mangueiras até o alto do prédio.
Lá, foram expostos diretamente à radiação. Caminharam sobre fragmentos radioativos e inalaram fumaça contaminada. Pouco tempo depois, Vasily e seus colegas começaram a sentir os efeitos da síndrome aguda da radiação, com vômitos e fraqueza extrema.
Hospitalização e morte
Vasily foi levado ao hospital de Pripyat por volta das 2h35. De lá, transferido para Moscou, foi internado no Hospital nº 6, especializado em tratamentos radiológicos.
Em 2 de maio, ou por um transplante de medula óssea doado por sua irmã mais velha. Natasha, sua irmã mais nova de 13 anos, foi considerada a doadora ideal, mas recusou o procedimento. O transplante falhou. Vasily desenvolveu infecções graves, necrose da pele e falência de órgãos.
Sua esposa, Lyudmilla, acompanhou todo o sofrimento no hospital. Em relatos publicados no livro “Vozes de Chernobyl”, de Svetlana Alexievich, Lyudmilla descreveu as terríveis condições do marido.
Vasily morreu em 13 de maio, às 11h20 da manhã, aos 25 anos. Foi enterrado com honras militares no Cemitério Mitinskoe, em Moscou, dentro de dois caixões: um interno de zinco e outro externo de madeira, devido à radioatividade ainda presente no corpo.
Lyudmilla e a perda da filha
Lyudmilla estava grávida quando decidiu permanecer ao lado de Vasily durante a internação. Após o falecimento do marido, deu à luz uma menina, Natasha, que nasceu com graves malformações e morreu logo depois.
Segundo Lyudmilla, médicos afirmavam que os pacientes de Chernobyl não transmitiam radiação após banho e troca de roupas. No entanto, ela acreditava que a radiação do marido foi transmitida à filha.
Homenagens e legado
Vasily Ignatenko foi condecorado postumamente com a Ordem da Bandeira Vermelha da URSS e, em 2006, com o título de Herói da Ucrânia e a Ordem da Coragem.
Seu nome batiza ruas em Minsk e Berezino. Existem também monumentos em sua memória em Brahin e Berezino, locais que mantêm exposições sobre sua história.
Sua vida e sacrifício foram retratados na minissérie “Chernobyl”, lançada pela HBO em 2019. Na produção, Vasily é interpretado por Adam Nagaitis, enquanto Lyudmilla é interpretada por Jessie Buckley. A série dramatizou os eventos com base em relatos reais, embora tenha incluído algumas liberdades criativas.
Polêmica após a minissérie
Em 2020, Lyudmilla afirmou à BBC que não foi consultada sobre a produção da série e que sofreu assédio após sua exibição. Jornalistas teriam ido até sua casa sem permissão para obter entrevistas. Segundo ela, também foi culpada pela morte da filha em comentários públicos.
Lyudmilla relatou ter recebido uma proposta de pagamento de US$ 3 mil, sem explicação clara sobre o motivo. Desconfiada, recusou o valor.
A HBO e a Sky negaram as acusações, afirmando que tentaram contato com Lyudmilla diversas vezes e que buscaram retratar a história com respeito e autenticidade.
O desastre de Chernobyl
O acidente de Chernobyl é considerado o pior da história nuclear, tanto em impacto humano quanto ambiental. A explosão contaminou amplamente a região, resultando em inúmeras mortes, doenças, evacuações em massa e uma zona de exclusão que permanece até hoje.
Mesmo ados 39 anos, o nome de Vasily Ignatenko permanece como símbolo de coragem e sacrifício diante de uma das maiores tragédias do século XX.
Com informações de Aventuras na História.