Parece ficção científica, mas é real: embarcações são içadas a 100 metros em uma das obras mais ousadas da história da engenharia.
Nas encostas montanhosas do sudoeste da China, ergue-se uma das mais impressionantes obras de engenharia moderna: a usina hidrelétrica de Goupitan, localizada no rio Wu, província de Guizhou. Com uma capacidade instalada de 3.000 megawatts (MW), essa barragem não é apenas um colosso de geração de energia limpa, mas também um símbolo do desenvolvimento integrado e sustentável da infraestrutura chinesa.
Inaugurada entre 2003 e 2009, Goupitan faz parte do ambicioso projeto nacional de transmissão de energia do Oeste para o Leste da China, cujo objetivo é levar eletricidade das regiões montanhosas, ricas em recursos hídricos, até os grandes centros urbanos e industriais do litoral leste.
Elevador de navios: Inovação em mobilidade fluvial
Um dos componentes mais inovadores do projeto é seu elevador de navios, uma estrutura vertical com capacidade para movimentar embarcações de até 500 toneladas ao longo de um desnível impressionante de 100 metros. Esse sistema não apenas facilita a navegação ao longo do rio Wu, como também conecta a remota Guizhou ao corredor comercial do rio Yangtzé — o mais importante da China.
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A construção do elevador teve início após a conclusão da barragem, com testes operacionais iniciados em junho de 2021. Hoje, ele é peça-chave na logística regional, oferecendo uma rota mais econômica e eficiente em comparação com as alternativas terrestres e consolidando a posição de Guizhou como elo importante no cinturão econômico do rio Yangtzé.
Engenharia e sustentabilidade: Superando desafios geológicos
Construída em terreno cárstico (repleto de formações calcárias complexas e instáveis), Goupitan é uma barragem de arco duplo de concreto com 232,5 metros de altura, comparável à altura do Empire State Building. Essa característica a torna uma das mais altas do tipo na Ásia.
Para garantir a estabilidade da estrutura, foram utilizadas técnicas avançadas de consolidação de solo, capazes de lidar com os desafios geológicos típicos da região. Além disso, o projeto inclui um robusto sistema de controle de cheias, vital para proteger áreas agrícolas e urbanas situadas a jusante.
Impacto social e econômico regional
A construção da barragem envolveu a realocação de mais de 19 mil pessoas, um processo que, segundo autoridades locais, foi acompanhado por planos de mitigação ambiental e compensações sociais. Hoje, o impacto da usina sobre a região é profundo: melhoria no fornecimento de água para consumo humano, irrigação de áreas historicamente secas e promoção da estabilidade econômica.
O funcionamento do elevador de navios também abriu novas possibilidades comerciais para a região, integrando Guizhou ao circuito econômico de Chongqing e possibilitando o transporte de cargas pesadas com maior agilidade.
Goupitan vs Itaipu: Uma comparação imponente
Embora Goupitan não alcance a magnitude energética da brasileira Itaipu — que conta com 14.000 MW de capacidade instalada contra os 3.000 MW da barragem chinesa —, a usina asiática se destaca pela complexidade técnica, pela altura da sua estrutura e, principalmente, pelo modelo integrado de infraestrutura que alia geração de energia, controle hídrico e logística fluvial.
Para efeito de comparação, enquanto Itaipu gera energia suficiente para abastecer cerca de 14 milhões de residências por ano, Goupitan atende aproximadamente 3 milhões de casas com sua produção anual estimada em 9,7 TWh.
Um marco estratégico para o futuro
Com o crescimento urbano da região e o aumento na demanda por transporte eficiente, Goupitan deverá continuar a desempenhar um papel estratégico no desenvolvimento regional. Mais do que uma usina, a barragem representa uma ponte entre ado e futuro, conectando áreas historicamente isoladas ao centro econômico da China moderna.
Ao reunir tecnologia de ponta, responsabilidade ambiental e foco no bem-estar coletivo, Goupitan se estabelece como um exemplo brilhante de como a engenharia pode transformar paisagens e vidas.