Nova pesquisa revela que a visão das baleias jubarte é mais fraca do que se pensava, o que pode explicar acidentes com redes.
As baleias jubarte têm olhos enormes. Por isso, muitos cientistas acreditavam que elas tinham uma visão bastante eficiente.
Mas um novo estudo revelou o contrário. A visão dessas baleias é mais fraca do que se imaginava. E isso pode explicar por que esses animais frequentemente ficam presos em equipamentos de pesca.
Descoberta começa com uma dissecação
A pesquisa foi liderada por Jacob Bolin, da Universidade da Carolina do Norte em Wilmington.
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Ele e sua equipe dissecavam o olho esquerdo de uma baleia jubarte juvenil quando notaram algo inesperado: o branco do olho era especialmente espesso na parte de trás. Isso afeta a distância focal, que é a medida entre o cristalino e a retina.
Quanto maior essa distância, melhor tende a ser a visão. Mas, nesse caso, a distância focal era menor que o esperado. Isso indica que a baleia pode ter dificuldades para enxergar detalhes, principalmente de longe.
Poucos “pixels” nos olhos
Outro ponto importante foi a densidade de células ganglionares na retina.
Essas células são como os “pixels” da visão. Elas transformam a imagem que entra no olho em sinais elétricos que vão para o cérebro.
A baleia estudada tinha apenas 180 células por milímetro quadrado. Os humanos, por comparação, têm até 40 mil nessa mesma área.
Ou seja, a imagem captada pelo olho da baleia tem bem menos detalhes que a visão humana. Isso reforça a ideia de que as jubartes não enxergam com nitidez.
Medição da acuidade visual
Os cientistas também mediram a acuidade visual das baleias jubarte. Para isso, usaram uma unidade chamada ciclos por grau (D).
Ela calcula quantos pares de linhas pretas e brancas um animal consegue distinguir num grau de visão.
As jubartes alcançaram 3,95 D. Já os humanos, chegam a 60 ou até 100 D. Isso mostra que a visão desses animais é bastante limitada em comparação com a humana.
Simulação com computador reforça o achado
Com base nos dados coletados, a equipe criou modelos computacionais. O objetivo era simular como uma baleia jubarte enxerga seu ambiente.
A simulação indicou que a baleia consegue ver formas grandes, como bancos de peixes, mas só percebe detalhes pequenos a uma distância de 45 a 60 metros — o equivalente a três ou quatro vezes o comprimento do próprio corpo.
A visão pouco aguçada pode não ser um problema na natureza, mas é diferente quando redes de pesca entram no caminho.
As jubartes talvez só percebam esses obstáculos quando já estão muito próximas. Aí, pode ser tarde demais para desviar.
Segundo Thomas Cronin, especialista em ecologia visual da Universidade de Maryland, essa baixa acuidade visual não é ruim para uma baleia.
Elas não precisam de visão perfeita para caçar. Sua alimentação depende mais de localização de grandes massas de presas, que elas detectam por outros sentidos.
Visão fraca, mas suficiente para o que precisam
Mas, quando os barcos e redes aparecem em seu caminho, a visão fraca vira um problema. As baleias não evoluíram para lidar com isso.
A coautora do estudo, Lori Schweikert, disse que esse trabalho ajuda a entender melhor como as jubartes experimentam o mundo ao redor.
Essa nova compreensão pode levar a soluções práticas. Um exemplo seria redes de pesca com design mais visível para esses animais.
No entanto, nem todos os cientistas estão totalmente convencidos. Elena Vecino Cordero, bióloga da Universidade do País Basco, apontou que o olho usado na pesquisa ficou mais de dez anos armazenado em um frasco.
Isso pode ter afetado suas características e, talvez, levado os pesquisadores a superestimar as limitações da visão.
Mesmo assim, o estudo oferece uma explicação plausível para o enredamento das jubartes. E pode abrir caminho para medidas que reduzam esse tipo de acidente. Se as redes se tornarem mais visíveis, talvez as baleias tenham mais chances de evitá-las a tempo.