Pela primeira vez, sonda da ESA captura imagens do polo sul do Sol, revelando campos magnéticos desorganizados e abrindo caminho para previsões mais precisas sobre tempestades solares.
Pela primeira vez na história, os cientistas conseguiram observar o polo sul do Sol.
As imagens foram captadas pela Solar Orbiter, sonda lançada pela Agência Espacial Europeia (ESA), e revelam um lado nunca antes visto da nossa estrela.
Essa visão inédita foi possível graças a uma mudança na órbita do satélite, que desceu 17 graus abaixo do equador solar.
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Até então, todas as imagens do Sol vinham de um ângulo frontal, no chamado plano elíptico — o mesmo em que orbitam os planetas.
Agora, com a nova posição do orbitador, os cientistas deram um o decisivo rumo à compreensão mais profunda do campo magnético solar.
Mudança de órbita com ajuda de Vênus
Para alcançar esse novo ângulo, a Solar Orbiter se aproveita da gravidade de Vênus.
A cada poucas órbitas, ela se aproxima do planeta vizinho, que ajuda a inclinar sua trajetória.
Essa técnica permitiu captar imagens sem precedentes. Os cientistas afirmam que essa é só a primeira etapa, já que a sonda deve descer ainda mais nos próximos anos.
A expectativa é que ela atinja até 33 graus de inclinação, o que trará imagens ainda mais detalhadas dos polos solares.
A peça que faltava no quebra-cabeça
Para os astrônomos envolvidos, essas imagens são históricas. O Dr. Hamish Reid, da University College London (UCL), classificou o momento como “muito significativo”.
Segundo ele, os polos sempre foram a peça que faltava na compreensão do funcionamento global do campo magnético do Sol.
As observações iniciais já revelaram uma desorganização nos campos magnéticos do polo sul. Em vez de um padrão claro de polo sul, os instrumentos detectaram campos norte e sul misturados. Isso acontece durante o chamado máximo solar, uma fase de intensa atividade da estrela.
Instrumentos diferentes, visões complementares
A imagem do polo sul foi formada com a ajuda de três instrumentos principais.
O PHI (Polarimetric and Helioseismic Imager) capturou a luz visível para mapear o campo magnético da superfície.
O EUI (Extreme Ultraviolet Imager) focou na luz ultravioleta, revelando gases extremamente quentes da atmosfera externa do Sol.
E o SPICE (Spectral Imaging of the Coronal Environment) analisou diferentes temperaturas nas camadas do Sol, usando variações na luz emitida.
Essas ferramentas deram aos cientistas uma visão completa das atividades na região polar.
Importância dos polos para prever tempestades solares
O Sol a por um ciclo de 11 anos, no qual seus polos magnéticos se invertem. Esse processo é acompanhado de erupções e ejeções de material, que podem atingir a Terra.
Segundo a professora Lucie Green, da UCL, entender os polos é essencial para prever quando ocorrem esses picos de atividade.
O conhecimento pode ajudar a proteger satélites, redes elétricas e até astronautas em missões espaciais.
Ela explicou que, após a inversão dos polos, o campo magnético vai se reorganizando ao longo dos anos. Esse processo leva ao chamado mínimo solar, uma fase mais calma. Ainda não se sabe exatamente como ocorre essa reorganização. Mas as imagens da Solar Orbiter podem ajudar a esclarecer.
Movimento de partículas e vento solar
O instrumento SPICE também ajudou a observar como o material se move entre as camadas solares. Esse processo é vital para entender o vento solar — um fluxo constante de partículas que se espalha pelo espaço.
O vento solar é o responsável por causar a aurora boreal, mas também pode ter efeitos negativos. Ele pode danificar satélites, afetar comunicações e até expor astronautas a radiação.
Para o Dr. Frédéric Auchère, da Universidade de Paris-Saclay, as novas medições feitas em altas latitudes são revolucionárias. Antes, as observações vinham de ângulos rasantes, que prejudicavam a análise dos polos. Agora, com a sonda em nova posição, os dados devem ser muito mais claros.
Dados completos chegam em outubro
Apesar da empolgação com as imagens iniciais, os pesquisadores ainda têm muito trabalho pela frente. A análise completa dos dados deve ser feita nos próximos meses, com um conjunto mais amplo previsto para chegar à Terra em outubro.
Segundo o professor Sami Solanki, do Instituto Max Planck, as primeiras observações já mostram que os polos eram realmente um “território desconhecido”. Agora, com as medições em mãos, será possível entender melhor o papel das regiões polares no comportamento do Sol.
Novos ciclos, novos dados
Um ponto curioso revelado pela missão foi a presença de fluxos de alta latitude. Esses fluxos transportam elementos magnéticos para as regiões polares e, com isso, iniciam a formação do próximo ciclo solar.
A cada novo ciclo, a atividade do Sol se transforma. Saber como tudo começa, nos polos, é fundamental para os cientistas entenderem as mudanças e preverem tempestades solares com maior precisão.
Nos próximos anos, a Solar Orbiter continuará se encontrando com Vênus. A cada agem, a gravidade do planeta empurrará a sonda para uma órbita mais inclinada. Isso permitirá imagens ainda mais profundas dos polos.
Um novo capítulo na física solar
O Dr. Daniel Müller, da ESA, afirmou que esta é apenas a primeira etapa do que ele chamou de “escada para o céu”.
Com cada degrau vencido, a sonda sairá do plano elíptico e oferecerá uma visão inédita dos extremos da nossa estrela.
Segundo ele, os dados coletados ao longo do tempo vão mudar por completo a forma como entendemos o campo magnético solar, o vento solar e toda a dinâmica da atividade solar.
Essa missão abre um novo capítulo na física solar. Pela primeira vez, cientistas conseguem olhar para onde antes era impossível. O polo sul do Sol, até então escondido, agora começa a revelar seus segredos.